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Para matar a fome de Josué de Castro: cientista, que morreu há 50 anos, é tema de iniciativas que revisitam a sua trajetória

Pernambucano e seu principal objeto de estudo são tema de análises históricas, disponíveis em biblioteca virtual da Casa de Oswaldo Cruz

26 out/2023

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O número de pessoas que passam fome no mundo aumentou enormemente com a pandemia de Covid-19. Houve um acréscimo de 122 milhões entre 2019 e 2022, totalizando 735 milhões, segundo dados de um relatório divulgado em julho último pela Organização das Nações Unidas (ONU). Quão diferente seria o cenário atual se, diante da crise sanitária global, países pudessem ter contado com uma reserva internacional de alimentos constituída por excedentes da produção, criada para ser usada em situações emergenciais? A ideia foi apresentada pelo cientista brasileiro Josué de Castro (1908-1973) na década de 1950, quando presidia o Conselho da ONU para Agricultura e Alimentação (FAO).
Anos antes, em 1946, ele lançara o livro Geografia da Fome, no qual divide o Brasil em cinco regiões alimentares e propõe as categorias de fome epidêmica, que se dá de forma momentânea e é decorrente de episódios como secas, guerras, enchentes e epidemias, e fome endêmica, no qual a alimentação é insuficiente, um fenômeno de menor visibilidade, mas que permanece no tempo e é estrutural, produzido socialmente – no Brasil, resultante, por exemplo, da concentração de terras e da monocultura. Josué considerava que uma reserva internacional de alimentos poderia ajudar, prevenindo a fome em situações de crise e estabilizando o preço dos produtos, evitando um aumento desenfreado do custo de vida. Mas sua proposta foi derrotada na Conferência da FAO, em 1953 sob alegação de impraticabilidade operacional. Estados Unidos e Grã-Bretanha, por exemplo, não quiseram usar as próprias reservas de alimentos em políticas internacionais.
Nem por isso Josué, que iniciara a carreira como médico e construíra também uma destacada trajetória como cientista, intelectual, professor universitário e político, desistiu de tentar buscar outros meios para acabar com a fome. Seis vezes indicado ao Prêmio Nobel, foi reconhecido nacional e internacionalmente por seu trabalho, que levou adiante até o fim da vida, há 50 anos, em 24 de setembro de 1973. Em razão da ditadura civil-militar instaurada em 1964, que o fizera perder o cargo de embaixador da ONU em Genebra, vivia em Paris como exilado. Ao morrer, aos 65 anos, após sofrer um ataque cardíaco, enfrentava uma forte depressão. Tentava, em vão, transpor os obstáculos para finalmente conseguir renovar o passaporte e vir ao Brasil. Além disso, sentia-se pessimista quanto à possibilidade de resolver o problema da fome no mundo.
“Josué foi protagonista ao mostrar que a fome não estava relacionada necessariamente às crises causadas por secas, guerras, epidemias. Ele trouxe uma questão que é uma conformação cientificamente aceita: a fome pode ser um estado de permanência. Ou seja, neste momento, mesmo sem guerra alguma, há pessoa lá fora sem condições de ter acesso à comida”, observa Rômulo de Paula Andrade, professor do Programa de Pós-Graduação em História da Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz).
A fome e Josué como objetos da História  
Segundo o historiador, Josué representou um modelo de medicina e de ciência anti-hegemônicos, pois compreendia a saúde a partir de uma concepção completa do bem-estar humano. Ele acreditava que o caminho para acabar com a fome não seria por meio de estratégias pontuais ou verticalizadas, como se fazia na FAO, onde as ações se restringiam, geralmente, a cooperações técnicas e doações de vitaminas. “Josué entendia que o trabalho era mais estrutural”, diz, observando que, após sair da FAO criou a Associação Mundial de Luta contra a Fome (ASCOFAM), para atuar dentro dos parâmetros que ele considerava adequados, relacionados ao combate ao subdesenvolvimento.
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Autor de estudos que abordam o assunto, como o artigo sobre desenvolvimento florestal e o combate à fome na Amazônia e outro sobre o Serviço de Alimentação da Previdência Social (SAPS), escrito com Claiton Márcio da Silva, Rômulo reuniu uma vasta documentação sobre o tema na Biblioteca Virtual em Saúde (BSV) História da Fome, Pobreza e Saúde, que entra no ar esta semana, e reúne, entre outros documentos, entrevistas com nomes relevantes no combate à fome no país. O pesquisador avalia que, nos últimos anos, a História tem tratado a fome, a alimentação e o próprio Josué como objetos de análise. Além de teses defendidas na Casa de Oswaldo Cruz, com orientação dele (hábitos alimentares dos escravizados) e também de Gilberto Hochman (saúde e desenvolvimento na Amazônia merenda escolar e alimentação na agenda política brasileira), Jaime Benchimol (alimentação saúde e doenças carenciais), Dominichi Miranda de Sá (movimento agroecológico) e da atual ministra da Saúde, Nísia Trindade Lima (nutrição, agências internacionais e agenda local), cita duas produções recentes, dos historiadores Adriana Salay Leme e Helder Remigio de Amorim.
“A História tem colocado seus aportes teórico-metodológicos para entender Josué, indo além de uma visão muito sacralizada. Por mais que seja realmente uma figura muito única no pensamento social brasileiro, em especial pela forma como pautou a saúde pública brasileira com a questão da fome, ele estava dentro de uma rede. Fez parte de uma geração de médicos que defendiam bandeiras como a redução da desigualdade social e a reforma agrária, como Dante Costa, Mário Magalhães e Samuel Pessoa”, frisa o pesquisador do Departamento de Pesquisa em História das Ciências e da Saúde (Depes) da Casa de Oswaldo Cruz. Para ele, ainda da há muito a ser explorado sobre o intelectual e político pernambucano, como o período em que viveu no exílio e a relação dele com outras organizações internacionais.
Em sua tese em História defendida na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e lançada em livro este ano pela Paco Editorial, Helder Remigio de Amorim analisa a trajetória intelectual e política de Josué de Castro, mostrando, por exemplo, o empenho na busca de estratégias para tentar acabar com a fome, como o projeto da merenda escolar, a proposta de criação de uma reserva de alimentos e a defesa da reforma agrária. Enquanto historiador, Helder Remigio, professor da Universidade Católica de Pernambuco, destaca a importância de se revisitar a obra de Josué de Castro, pela importância de seu pensamento e pelo retorno do Brasil ao Mapa da Fome, o sistema global de monitoramento da fome da FAO, que inclui os países onde o fome atinge mais de 5% da população.
Segundo o relatório The State of Food Security and Nutrition in the World 2023, da ONU, 9,9% da população do Brasil (21,1 milhões) estavam em situação de insegurança alimentar severa entre 2020 e 2022, ou seja, quando a falta de comida resulta em um ou mais dias sem comer, com riscos à saúde e ao bem-estar. De 2014 a 2016, o percentual foi bem menor: 1,9%. Com uma metodologia diferente da usada pela ONU, o inquérito da Rede Penssan (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional), aplicado entre 2021 e 2022, revelou que 33,1 milhões de pessoas estavam em situação de fome no país. Para tentar tirar novamente o Brasil do Mapa da Fome, o governo federal lançou em agosto o Plano Brasil sem Fome, que articula ações dos 24 ministérios.
Pernambucano mostrou a fome existente para além da inanição 
“O combate à fome volta à agenda pública, pois ela está mais visível na sociedade, mas ainda é necessário pensar essa fome não somente como ausência total de alimentos. A partir do momento em que um indivíduo suprime uma refeição ou tem dificuldade para adquirir algum alimento, já está em situação de insegurança alimentar”, diz Helder, chamando atenção para o desmonte das políticas públicas na área, ocorrido nos últimos anos, e para a necessidade de se investir na redução da desigualdade social e na reforma agrária, temas caros a Josué. “Estamos aprofundando, cada vez mais, a concentração de terras nas mãos das multinacionais, que estão avançando nas áreas de cultivo dos nossos alimentos tradicionais”.
Josué de Castro em pé, discursa em um púlpito, no caso, da Câmara dos Deputados
Josué na Câmara dos Deputados. Foto: Arquivo Nacional
Para analisar a trajetória de Josué, a quem descreve como um intelectual múltiplo, por ter transitado por diferentes áreas do conhecimento, como medicina, nutrição, geografia e sociologia, a pesquisa no acervo do pernambucano, sob a guarda da Fundação Joaquim Nabuco, em Recife, foi fundamental. “O acervo é riquíssimo, são milhares de documentos. Penso que poucas iniciativas puderam enxergar as potencialidades desse acervo, do ponto de vista histórico. A História precisa se abrir mais para estudar Josué porque, além de estar atrelado ao pensamento social brasileiro, a partir da trajetória dele é possível compreender uma experiência significativa, um projeto de país que foi interrompido pelo golpe civil-militar de 1964”. A construção da fome endêmica como um problema público e político   Adriana Salay Leme também recorreu ao valioso material da Fundação Joaquim Nabuco, assim como a acervos de outras instituições, para realizar a tese em História Social, defendida em junho e que, em breve, será disponibilizada no repositório da Universidade de São Paulo (USP). Em sua pesquisa ela investiga a legitimação da fome endêmica como um problema público e político no século 20 no Brasil através da trajetória de Josué de Castro – um artigo da historiadora sobre o tema foi publicado em 2021 na revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos. Após analisar mais de 50 mil documentos,ela volta no tempo, até a Europa do século 17, para mostrar como o circuito de trocas não monetárias era importante contra a fome endêmica. Os alimentos, então, eram produzidos para consumo próprio e havia formas de se garantir o acesso para todos. No século seguinte, o cenário se transforma: o alimento se torna mercadoria, e a lógica de mercado passa a ocupar espaços do engajamento coletivo. “O cerceamento das terras foi um elemento importante na desestabilização dos trabalhadores”, escreve a historiadora. “Mostro como o sistema capitalista produz essa fome endêmica, que o Josué observou e falou sobre ela, pois cria uma sociedade desigual. Enquanto existir o sistema, existirá essa fome endêmica, porque ela é produzida na desigualdade”, avalia a historiadora, que analisa como a categoria fome foi socialmente construída no Brasil, destacando as suas representações na primeira metade do século 20 e a atuação de Josué. Filho único de Manoel e Josepha, casal que migrou do sertão paraibano para Recife, durante a Grande Seca ocorrida entre 1877 e 1879, o cientista se empenhou na construção de um capital social para legitimar o seu discurso em relação ao combate à fome. Não fazia parte da elite econômica, e isso era muitas vezes lembrado por quem divergia de suas ideias para acabar com o problema social que afligia tantos brasileiros. “Em entrevistas de pessoas próximas a Josué de Castro, encontra-se mais de um relato em que os “inimigos” pernambucanos chamavam Josué de “filho de entregador de leite” e “mulato”. Se “mulato” era reservado para qualificar a sua raça, o “filho de entregador de leite” era acionado na chave de diferenciação de uma classe social menos abastada, trabalhadora braçal e não intelectual”, escreve Adriana, que acredita que a decisão de Josué de morar no Rio de Janeiro também tenha sido para se distanciar “do jogo das elites recifenses, que determinavam o lugar possível para o Josué”. 
Segundo ela, o intelectual pernambucano foi protagonista ao colocar o tema em pauta no espaço público letrado, ressaltando os condicionantes sociais do fenômeno, em um período favorável à emergência do assunto, quando o mundo se voltava para as questões humanitárias surgidas no pós-guerra. Porém, revela que Josué não foi o único no processo de ampliação do sentido de fome, apresentando a sua face cotidiana, e traz à tona essa rede de enunciadores. 
A historiadora narra como Josué se constituiu como uma autoridade no pensamento sobre a fome, inclusive em âmbito internacional, a partir de suas produções científicas e também por ter, ele mesmo, conhecido o problema de perto, quando acompanhara o cotidiano de ausências nos mangues do Recife. Refaz a trajetória de Josué na FAO, na ASCOFAM e como membro fundador do Centro Internacional para o Desenvolvimento (CID), dando visibilidade às tensões, conflitos e contradições no percurso do intelectual pernambucano, desde as estratégias criadas para conquistar lugar no espaço público letrado, aos embates com outros intelectuais sobre formas de combate à fome. Também evidencia a atuação como deputado federal pelo PTB de Pernambuco, duas vezes eleito, um espaço que, segundo ele, poderia deixá-lo mais próximo do poder de realizar as ações que considerava necessárias acabar com o problema da fome no país.
“Procuro mostrar como ele se construiu e adquiriu prestígio, como ele se fez no sistema e, ao mesmo tempo, como ele teve que se adaptar ao sistema”, observa Adriana, que, na conclusão da tese, escreveu: “No processo de tornar a fome endêmica um problema público de primeira grandeza, ele teve que atuar, por exemplo, tanto nas métricas da fome definidas pela FAO como na distribuição de leite em pó para seus aliados políticos no interior de Pernambuco. Ao mesmo tempo em que reivindicava esse problema como público, fazia sua vinculação à problemática e construiu, assim, sua carreira”. 
Capa do livro Geografia da Fome. Três pessoas muito magras, uma delas em pé, estão sobre fundo azul com o título do livro em destaque
Capa da mais recente edição, de 2022
Sobre a emergência atual do tema da fome, a historiadora considera importante recuperar a obra de Josué de Castro. “Ele mostrou que fome é mais que inanição, que há também uma fome cotidiana. Acho que essa é a maior contribuição dele, que continua atual. Ele colabora muito para esse debate”, avalia a historiadora, professora da pós-graduação do Senac em Gastronomia: História e Cultura e da Faculdade de Ciências da Saúde Sírio Libanês. Além de se interessar pelo tema da fome como historiadora, ela se tornou ativista logo no início da pandemia. À época, estava mergulhada na tese, em meio à crise de fome decorrente da Segunda Guerra Mundial. Proprietários de um restaurante situado em uma área de vulnerabilidade social, ela e o marido, Rodrigo, que vem de uma cultura sertaneja, de solidariedade estendida para além do núcleo familiar, criaram o Quebrada Alimentada, “projeto que foi uma reação a uma situação de crise de fome que se instalou no Brasil”, define Adriana. Desde então, distribuíram 100 mil refeições. A iniciativa segue com a doação de 60 marmitas diárias, além de 250 cestas básicas mensais.  “Nosso lema é dividir o que tem e não o que sobra. A comunidade recebe o mesmo que nós comemos. Solidariedade é isso. Dividir o resto é muito fácil”, avalia. Perguntada sobre eventuais críticas a ações assistencialistas, feitas por quem não vivencia o problema, diz: “Quem está fora da fome faz um julgamento moral violento dos projetos de assistência. Mas as pessoas que estão em situação de fome têm outra dinâmica de análise. O projeto existe porque as pessoas precisam comer enquanto uma reforma agrária não é feita no país. O próprio Josué, mesmo defensor de ações estruturais, de alguma forma, também fez isso, com a distribuição de leite e de farinha fortificada e de projetos pilotos em comunidades”. A ideia da criação da BVS também surgiu na época crise sanitária decorrente da Covid-19. Então com uma bolsa Jovem Cientista Faperj, Rômulo fez uma série de entrevistas com atores importantes associadas ao combate à fome no Brasil. Com a colaboração de Gabrielle Freitas, utilizou a metodologia de História Oral para ouvir Dom Mauro Morelli, João Pedro Stédille, José Graziano, Milton Rondó, Rodrigo Kilko, Daniel Souza, Tereza Campello. “A BVS é sobre pobreza e saúde, além da fome, porque embora a fome tenha surgido como um problema social a partir dos anos 40 e 50, com o Josué de Castro, a temática da pobreza e da desnutrição está presente desde o início do século 20, como mostram estudos realizados ou orientados por Giselle Sanglard, pesquisadora da Casa, que trabalha com Fernandes Figueira, entre outros personagens da alimentação infantil. Daí a ideia de uma BVS que abrigasse tanto elementos da história do combate à fome como da história da alimentação”, explica.
A Biblioteca, que reúne outros documentos, além das entrevistas, foi desenvolvida por Rafael Lopes, mestre em História Política e bolsista do Programa de Incentivo ao Desenvolvimento Institucional (PIDI). Anteriormente, ele havia trabalhado em colaboração com o Rômulo em uma pesquisa sobre a trajetória política de Josué de Castro e acabou conhecendo as BVSs e as Vitrines do Conhecimento, iniciativas da Fiocruz onde são compartilhados, por exemplo, a produção desenvolvida em seus núcleos de pesquisa, dando mais visibilidade ao conteúdo. “É uma ideia muito interessante. De fácil acesso e tem uma navegação mais amigável do que os sites institucionais costumam ser”, avalia Rafael.
As pedras no caminho e as ausências no mangue do Recife 
Josué acreditava que a política seria um caminho para efetivar o que já tentara fazer em outras frentes, como médico e intelectual. Mas encontrou obstáculos. “Josué defendia que para acabar com a fome no Brasil era preciso ter reforma agrária e redução das desigualdades sociais. Então, há o pensamento dele e as condições que se apresentavam naquele momento. Era uma época difícil de agir, de polarização intensa, Guerra Fria, perseguição política. E ainda assim ele conseguiu pautar o debate público sobre a fome. Então, é preciso considerar que ele tentava agir dentro das possibilidades que aquele período dava”, analisa Rômulo.
Ao deixar a presidência do Conselho da FAO, onde permaneceu de 1952 a 1955, Josué fez um discurso marcado pela frustração: “Peço que me perdoem por falar, com uma sinceridade um tanto brutal, que me sinto decepcionado diante da obra que realizamos. Decepcionado pelo que fizemos, porque, a meu ver, não elaboramos até hoje uma política de alimentação realista que ponha em linha de conta, ao mesmo tempo, as desesperadas necessidades do mundo e nossos objetivos”.
Durante a pandemia de Covid-19, Rômulo, ao escrever sobre a trajetória de Josué para um jornal literário de Pernambuco, destacou que o cientista foi também conformador de um campo estético, com o romance Homens e caranguejos, lançado em 1967. Mais de duas décadas depois, o pensamento do cientista foi revisitado pelo movimento manguebeat, na década de 1990, em músicas como Da lama ao Caos, da Nação Zumbi: Ô Josué, nunca vi tamanha desgraça […] Com a barriga vazia não consigo dormir / E com o bucho mais cheio, comecei a pensar / Que eu me organizando posso desorganizar / Que eu desorganizando posso me organizar
Já no fim da vida, Josué desabafou: “[d]esde que eu escrevi o meu primeiro livro sobre a fome, em 1946, até agora, a situação alimentar do mundo não se modificou. Mudança houve no conhecimento do problema”. Isso há foi 50 anos, e apesar das transformações ocorridas desde então, a fome segue uma questão para milhões de pessoas.