Fiocruz
Webmail FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ

‘Medicina no contexto luso-afro-brasileiro’ é tema de dossiê em HCS-Manguinhos

22 jul/2014

Capa de HCS-Manguinhos. Dossiê Medicina no contexto luso-afro-brasileiro

Com artigos que abordam desde a cobertura de grandes epidemias pela imprensa portuguesa no fim do século 19 e início do século 20 à criação de uma missão para o estudo e o combate da doença do sono na Guiné Portuguesa entre 1945 e 1974, a revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos, traz em sua nova edição, já disponível no Scielo, o dossiê “Medicina no contexto luso-afro-brasileiro”. Entre os dez textos que o compõem, estão trabalhos apresentados durante o primeiro Encontro Luso-Brasileiro de História da Medicina Tropical, realizado em Lisboa em 2012, além de artigos que abordam temas afins.

Leia mais:
SciELO – HCS-Manguinhos. Vol. 21, nº 2
Blog da revista HCS-Manguinhos
Revista HCS-Manguinhos discute o SUS em nova edição

No artigo que abre o dossiê – “Doença e cura em Moçambique nos relatórios dos serviços de saúde dos finais do século 19” -, a autora Ana Cristina Roque, do Instituto de Investigação Científica Tropical de Lisboa, analisa tais documentos, que trazem informações sobre as principais enfermidades registradas no país africano, os impactos de sua frequência e os procedimentos e métodos de combate às doenças. O texto aponta que esses relatórios constituem um espaço privilegiado para o estudo do processo de implantação do poder colonial português em Moçambique.

No dossiê, também é possível conferir uma análise de 6.700 matérias publicadas em jornais portugueses, que resultaram no artigo “As epidemias nas notícias em Portugal: cólera, peste, tifo, gripe e varíola, 1854-1918”, de Maria Antónia Pires de Almeida, do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do Instituto Universitário de Lisboa. O trabalho revela que, embora fosse considerado periférico, o país dispunha, na época, de estudos e pessoal especializado na área médica e científica no mesmo nível das nações mais avançadas. O artigo sustenta a hipótese de que a imprensa generalista daquele período tinha a intenção de educar e formar o público sobre as epidemias.

Já o artigo “Saúde Pública e modernidade tropical: o combate à doença do sono na Guiné Portuguesa, 1945-1974”, de Philip Jan Havik, do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa. O texto mostra que, além de introduzir o controle de doenças endêmicas sob a tutela de instituições metropolitanas, a Missão de Estudo e Combate à Doença do Sono providenciou cuidados preventivos de saúde pública para as populações locais ao mesmo tempo em que ignorou a importância dos saberes e práticas locais.

O dossiê traz ainda uma abordagem historiográfica sobre a atuação de médicos e boticários jesuítas na América platina no século 18, além de artigos sobre a construção do Hospital Geral de Santo António num contexto de crescimento demográfico e urbano da cidade do Porto; a assistência da colônia portuguesa no Brasil entre 1918 e 1973, a Missão Botânica de Moçambique (1942-4198);  cuidados biomédicos de saúde em Angola e na Companhia de Diamantes de Angola; o discurso médico e práticas alimentares no Hospital Real de Moçambique no século 19; e o lugar da medicina tropical nas dissertações na escola médica portuense.

Além dos artigos do dossiê, este número de História, Ciência, Saúde, Manguinhos traz seis artigos sobre outras temáticas. No primeiro deles, intitulado “Da medida do rural ao rural sob medida: representações sociais em perspectiva”, os autores Flávio Sacco dos Anjos e Nádia Velleda Caldas, da Faculdade de Agronomia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), analisam as dinâmicas de revalorização do rural que resultam na construção de uma imagem idílica dessa categoria.

A edição traz ainda um estudo de caso de redes sociotécnicas de assistência à saúde em acupuntura; uma revisão de parte da literatura da antropologia médica contemporânea; um artigo que analista as potencialidades e limites das explicações evolutivas da cultura; e dois trabalhos relacionados à Argentina. O primeiro discute a conformação do câncer como objeto científico e problema sanitário no país sul-americano. O outro se detém sobre os modos de pensar o esporte destinado a pessoas com deficiência física nas décadas de 1950 e 1960.

Na seção Depoimento, História, Ciências, Saúde – Manguinhos publica uma entrevista com Chantal Mouffe, professora de teoria política e pesquisadora do Centro de Estudos da Democracia da Universidade de Westminster, na Inglaterra. Em 1985, ao lado do teórico político argentino Ernesto Laclau (1935-2014), ela lançou as bases da teoria do discurso. Na entrevista “Democracia e conflito em contextos pluralistas”, Chantal faz reflexões sobre alguns temas centrais de seu trabalho e as implicações de sua teoria no campo educacional contemporâneo.