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Fiocruz debate a divulgação da ciência

09 mar/2018

Divulgação científica, engajamento público, percepção pública da ciência e da tecnologia, e pesquisas em museus de ciências foram alguns temas que nortearam os debates do simpósio “A ciência da divulgação científica II: a construção de um campo acadêmico”. Realizado entre os dias 05 e 07 de março, o evento contou com a participação de especialistas nacionais e estrangeiros, e teve como objetivo contribuir para o fortalecimento do campo acadêmico em divulgação científica. O lançamento de uma revista de divulgação cientista voltada para a América Latina, a realização de uma maratona de divulgação científica e um edital de apoio a iniciativas da área foram as novidades anunciadas durante a abertura do Simpósio. 

A abertura do evento contou com a presença de Paulo Elian; diretor da COC; Leda Cardoso Pinto, coordenadora geral de Popularização e Divulgação da Ciência do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicação; Alessandro Batista, chefe do Museu da Vida; Luisa Massarani, coordenadora do mestrado acadêmico em Divulgação da Ciência, Tecnologia e Saúde da COC; e Carla Gruzman, coordenadora da especialização em Divulgação e Popularização da Ciência da COC. 

O simpósio foi realizado pelo Museu da Vida da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), representado pelo Mestrado Acadêmico em Divulgação da Ciência, Tecnologia e Saúde e pela Especialização em Divulgação e Popularização da Ciência; pela vice-presidência de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz; e pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia voltado para a Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia, com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). 

Divulgação científica e políticas públicas

O diretor da COC, Paulo Elian, defendeu a necessidade de inserir e discutir a divulgação científica no âmbito das políticas públicas. “Uma vez que envolve reflexão acadêmica e estudos que se relacionam com práticas que acontecem nas instituições científicas, a divulgação científica é um campo que se institucionaliza. Desta forma, esta área apresenta uma capacidade significativa de interação com outros campos disciplinares, como a comunicação, a museologia, e os grandes desafios da ciência, por exemplo. Logo, é necessário que este campo seja visto também com viés político”, destacou. 

Corroborando com Paulo, Leda Cardoso Pinto, coordenadora geral de Popularização e Divulgação da Ciência do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicação, lembrou que a área passou a integrar a pasta em 2003, quando foi criada a Secretaria de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social. No entanto, de acordo com a especialista, foi extinta em 2016. “Apesar de tudo que conquistamos nestes 15 anos, a fusão do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação com o Ministério das Comunicações fez com que o Departamento decaísse no nível hierárquico, perdendo espaço institucional, reconhecimento e autonomia”, criticou Leda, acrescentando que é necessário reforçar a importância da área junto à alta gestão do Ministério. 

A especialista falou também sobre o Plano de Ação para a Divulgação e Popularização da Ciência e Tecnologia, que deve executado nos próximos cinco anos. “A execução deste plano será um grande desafio para nós. Por isso, queremos trazer os profissionais que trabalham e estudam esta área para mais próximo da política, afim de que participem ativamente e deem respaldo ao que produzimos”, completou. 

Fortalecimento da divulgação científica

Coordenadora do mestrado em Divulgação da Ciência, Tecnologia e Saúde da COC e representante da vice-presidência de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz, Luisa Massarani, apresentou as novas iniciativas que visam contribuir para o fortalecimento a divulgação científica no Brasil e na América Latina. 

De acordo com Massarani, que também coordena o INCT de Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia, resultados recentes de um estudo realizado pela Red de popularización de la Ciencia y la Tecnología en América Latina y el Caribe (RedPOP) indicaram o crescimento significativo da produção acadêmica em divulgação científica, na América Latina, nos últimos dez anos. No entanto, apesar do avanço, não havia uma revista científica especifica para a região. “Sugerimos ao JCOM – Journal of Science Communication, uma das revistas mais importantes em divulgação científica no mundo, a criação da versão Latino-americana do periódico, e a proposta foi aceita”, comemorou. “Este será um importante canal de visibilidade para este campo acadêmico na América Latina. Produzam artigos e contribuam”, incentivou Luisa. O lançamento da JCOM América Latina ocorrerá em abril. 

As outras iniciativas são o Hackaton da Divulgação Científica, uma maratona neste campo, e o edital de apoio às iniciativas da área. “A divulgação científica é uma área estratégica na Fiocruz, por isso, anunciamos também estas novidades: a maratona, que deve ser realizada em junho, visa estimular a criatividade e o trabalho coletivo. Ao final do processo, serão avaliados e selecionados dois projetos que receberão o nosso apoio”, explicou. “Por último, anunciamos um edital para apoiar iniciativas de divulgação científica. Os projetos selecionados receberão até 20 mil reais”, finalizou Luisa. Para saber mais sobre o edital, clique aqui.

Engajamento público 

O início dos debates ficou por conta de Simon Lock, professor e pesquisador do Departamento de Estudo de Ciência da University College London, no Reino Unido, que ministrou palestra sobre Engajamento público, governança da ciência e democracia. O especialista, que realiza estudos na área há 20 anos, contou que na Inglaterra o termo engajamento público é utilizado para falar sobre políticas públicas, popularização da ciência e relações públicas em divulgação científica. De acordo com Lock, no país, pesquisadores e acadêmicos precisam justificar em seus estudos como estão engajando o público e como estão envolvendo-os em suas pesquisas. “O cientista precisa se envolver com o público, assim como o público tem que se envolver com a ciência”, ressaltou. “No entanto, a percepção dos especialistas, muitas vezes, se direciona ao modelo de déficit, em que o público é visto como aquele que possui conhecimento inadequado sobre a ciência, enquanto que os cientistas possuem todo o conhecimento: neste modelo, o público precisa melhorar e não os cientistas”, completou. 

Para o especialista, em termos de iniciativas de engajamento, questões práticas e sociais devem integrar o debate, levando em consideração, por exemplo, a forma e a organização do envolvimento, o equilíbrio da informação e do diálogo, o grau de passividade ou atividade concedida aos cidadãos e ao público, além da inclusão estrutural ou exclusão dos públicos. “A comunicação científica e o engajamento público devem ser combinados, mas estão sendo tratadas como paralelas. Neste sentido, para melhor participação pública em importantes temas na sociedade é necessária uma mudança de atitude”, disse. “Muitas vezes, os públicos podem ser enquadrados como atores ilegítimos quando não se encaixam em papéis prescritos ou em processos formalizados previamente”, ressaltou. 

O especialista citou a iniciativa da Sociedade de Alzheimer, que envolveu grupos locais nos debates sobre a doença, como um bom exemplo de engajamento. “As pessoas foram envolvidas nos debates desde o início, e puderam contribuir sobre os temas, em um contexto social, tudo realizado de forma conjunta”, explicou. “Desta forma, a participação pública, de maneira democrática, levou em conta as implicações das pessoas com a doença, o que pensam os cuidadores sobre a doença, e como é possível melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Foi um processo de mão dupla”, disse. Para finalizar, Simon Lock defendeu o engajamento da ciência e fez uma crítica ao campo: “Você está permitindo leigos participem do processo? Interesses de quem estão sendo seguindo em suas decisões”, provocou Lock.  

Outros destaques da programação foram os debates sobre as diferentes metodologias de pesquisa utilizadas na área. O tema foi discutido durante a mesa-redonda realizada no segundo dia do evento (6/3). Já no dia 7/03,  Marianne Achiam, do Departamento de Educação Científica da Universidade de Copenhagen (Dinamarca), foi responsável pelo workshop que abordou as metodologias de pesquisas em museus. A pesquisadora apresentou a Teoria Antropológica da Didática como referencial teórico para estudos na área. Marianne também proferiu conferência durante o evento.