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Exposição ‘Do teu saudoso Oswaldo’ explora correspondência pessoal do cientista

25 mar/2019

Com fotos, vídeos e cenografia, mostra apresenta dimensão privada de Oswaldo Cruz, médico e sanitarista reconhecido pelo enfrentamento de epidemias que assolavam o Brasil no início do século 20

Um pai e marido amoroso. Um viajante fascinado pela modernidade das metrópoles europeias e norte-americanas, em flagrante contraste com um Brasil assolado pela pobreza e por epidemias. Um homem que não hesita em expor seus ódios e paixões, angústias e fragilidades. As linhas traçadas por Oswaldo Cruz em papéis de carta com timbres de hotéis e navios, que revelam uma faceta pouco conhecida do cientista e sanitarista, inspiram a exposição Do teu saudoso Oswaldo.

Em cartaz no Centro Cultural Correios, no Rio, de 29 de março a 30 de junho, a mostra lança um novo olhar sobre esta figura emblemática da saúde pública nacional a partir de sua correspondência pessoal, abrangendo um período que se inicia em 1889 e se estende após a sua morte, em 1917, aos 44 anos. São centenas de cartas, cartões-postais e bilhetes e fotografias sob a guarda da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), que revelam o lado mais íntimo e humano desse personagem.

A exposição

Em uma série de filmetes em formato de stories –  narrativas audiovisuais curtas e fragmentadas hoje populares nas redes digitais –  três atores (Bruno Quixotte, João Velho e Rafael Mannheimer) dirigidos por Sura Berditchevsky interpretam trechos das cartas de Oswaldo Cruz. Nessa correspondência, estão eternizadas as experiências cotidianas do cientista, suas observações atentas sobre os locais aos quais viaja, suas impressões sobre o trabalho e a troca de afetos com a família.

Oswaldo encontrava nas cartas um meio para aliviar a saudade dos familiares. Nelas, estão registrados comentários – alguns dos quais inusitados – à sua principal interlocutora, a esposa Emília da Fonseca, a quem carinhosamente chamava Miloca. As correspondências revelam um marido amoroso e espirituoso, um pai zeloso, características pouco conhecidas do personagem que influenciou uma geração de jovens médicos e pesquisadores brasileiros. Oswaldo não escondia as lágrimas, nem disfarçava a tristeza causada pela distância dos entes queridos, provocada por constantes e longas viagens que, com frequência, o privavam do convívio familiar.

Oswaldo Cruz no Brasil e no exterior

As cartas são um testemunho das viagens do cientista pelo Brasil, a Europa e a América do Norte. Em 1905, Oswaldo realizou uma longa expedição rumo ao norte do país, cobrindo cerca de 20 portos brasileiros, desde o Rio de Janeiro até Manaus. Cinco anos mais tarde, retorna à região amazônica para realizar a profilaxia da malária, doença que dizimava trabalhadores envolvidos na construção da estrada Madeira-Mamoré. 

Em 1907, o cientista foi a Berlim para participar da Exposição de Higiene e Demografia. De lá seguiu para o México, passando antes pelos Estados Unidos, para assegurar ao presidente Theodore Roosevelt que o porto do Rio de Janeiro, livre da febre amarela, era seguro para as embarcações norte-americanas. Em cartas enviadas à esposa durante a viagem aos Estados Unidos, onde conheceu os “arranhadores de céus” nova-iorquinos, o cientista deixa claro seu fascínio pela modernidade, que demarcava uma conquista civilizatória em flagrante contraste com os problemas sanitários encontrados no Brasil.

Em 1911, uma nova exposição levaria Oswaldo a Dresden, na Alemanha, e dessa vez em companhia da filha Lizeta. Com ela excursionou pela Itália, Suíça e França antes de chegar ao destino. Anos depois, durante a Primeira Guerra, Oswaldo é obrigado a abandonar Paris às pressas e se estabelecer com a família em Londres. Com receio dos ataques dos submarinos alemães a navios no Atlântico, deixa a família em Londres e retorna sozinho ao Brasil. Em cartas trocadas com a esposa, Miloca, ficam explícitas as tensões do período, como o medo dos bombardeios dos zepelins alemães. 

Do teu saudoso Oswaldo também é um instrumento para rememorar a cultura das cartas, que Oswaldo Cruz utilizava quase como um diário. Com o avanço das novas tecnologias e a disseminação das redes digitais, esse meio de comunicação pessoal perdeu relevância. A sobreposição de meios e linguagens para reviver a figura de Oswaldo proposta por essa exposição incita um questionamento: com o domínio da comunicação por mensagens instantâneas, que testemunhos deixaremos às gerações futuras?

Concepção e realização

Uma concepção da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), a exposição Do teu saudoso Oswaldo tem curadoria de Ana Luce Girão, Glauber Gonçalves, Heverton Oliveira, Nara Azevedo, Rodrigo Ferrari e Wanda Hamilton. A mostra é uma realização da Folguedo e tem gestão cultural da Sociedade de Promoção da Casa de Oswaldo Cruz (SPCOC), com apoio do Centro Cultural Correios. A mostra conta com patrocínio da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Secretaria Municipal de Cultura, das empresas Concremat Engenharia e Tecnologia, do Grupo Libra, Seres, Marsh e Guy Carpenter, por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura – Lei do ISS.

Serviço

Exposição Do teu saudoso Oswaldo
Local: Centro Cultural Correios
Inauguração: 28 de março
Horário: 18 horas
Temporada: a partir de 29 de março a 30 de junho.
Visitação: terça-feira a domingo, do meio-dia às 19h.
Endereço: Rua Visconde de Itaboraí, nº 20 – Centro / Rio de Janeiro