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Especial História e Covid-19 | A pandemia como impulso para a comunicação digital do Observatório História e Saúde

24 abr/2023

Cynthia Maciel Duarte e Ingrid Casazza (COC/Fiocruz)*

 
 

Pandemia, História Pública e Divulgação da História

A pandemia de Covid-19 acarretou impactos para a humanidade e os profissionais do campo da História não ficaram alheios e/ou imunes aos seus efeitos. O tempo presente desafiador e angustiante que estava sendo vivido devido à crise sanitária trouxe uma série de questões que fomentaram na sociedade o interesse e a curiosidade pela história. Nesse contexto, a História Pública ganhou protagonismo. Os historiadores foram chamados para o diálogo e acionados como nunca antes.

Convidados para entrevistas, para elaboração de textos e para a produção de todo tipo de conteúdo, esperavam de historiadores que pudessem estabelecer paralelos entre outras crises sanitárias enfrentadas no passado. Ou, ainda, que pudessem explicar/analisar o que poderia ter historicamente contribuído para que chegássemos às condições encontradas pelo vírus causador da Covid-19, que permitiu que este se tornasse uma grave ameaça à saúde global. Mais do que isso, a sociedade queria respostas e acreditava que a história poderia trazer: Já vivemos algo assim? Como o mundo superou os problemas das pandemias anteriores? Podemos vencer uma crise sanitária de proporções globais (Sá, Sanglard, Hochman, Kodama, 2020)?

Contudo, embora a pandemia de Covid-19 tenha de algum modo aumentado o interesse das pessoas pela história, trouxe também desafios para o ofício do historiador. Além da impossibilidade de acesso às fontes de pesquisa imposta pela necessidade do isolamento social e pelo fechamento de arquivos, a comunicação acerca das pesquisas em andamento foi prejudicada sem a possibilidade da fala presencial em aulas, seminários e congressos. Assim, frente a estes desafios e comprometida com o engajamento da sociedade com os fatos da história que impactam a saúde atualmente, a equipe do Observatório História e Saúde (OHS) se empenhou em reforçar seus canais digitais sob a inspiração de princípios de História Pública (Cauvin, 2019).

O Observatório

O Observatório História e Saúde (OHS) foi criado em 2004 como iniciativa conjunta da Organização Pan-americana de Saúde (OPAS/ OMS), da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde (SGTES/MS) e da Fiocruz. Éuma estrutura permanente do Departamento de Pesquisa em História das Ciências e da Saúde (Depes) da Casa de Oswaldo Cruz da Fundação Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz). Também é parte da Rede Observatório de Recursos Humanos em Saúde (ObservaRH).

Tem como objetivo colaborar para a compreensão de aspectos históricos e atuais do campo da saúde, para o fortalecimento da gestão do trabalho e da formação profissional em saúde e para o desenvolvimento de políticas do Sistema Único de Saúde (SUS).

Atualmente, participam da gestão do Observatório os pesquisadores Carlos Henrique Paiva, coordenador do OHS, Luiz Alves, coordenador adjunto, Carlos Fidelis, Luiz Antonio Teixeira e José Roberto Reis. A equipe também conta com pesquisadores associados, que contribuem com as pesquisas e atividades desenvolvidas no Observatório.

A comunicação digital do OHS durante a pandemia

O compartilhamento das atividades realizadas pelos pesquisadores do Observatório em canais digitais já era uma realidade antes da pandemia. Sob inspiração da História Pública, especialmente no tocante à comunicação da história a audiências não acadêmicas (Cauvin, 2019) e empenhados em tornar o passado útil ao presente (Almeida; Rovai, 2013), o grupo já dispunha de um site e perfis nas principais redes sociais. No entanto, diante da ênfase da comunicação por meio desses canais imposta pela pandemia, foram feitas reformulações nesses ambientes com o intuito de tornar o conteúdo disponibilizado nessas mídias ainda mais acessível.

O site do Observatório foi completamente refeito. Programadores, designers e jornalistas se empenharam para tornar o ambiente o mais amigável possível à navegação. Tarefa difícil diante da complexidade das temáticas tratadas no Observatório, da densidade com que os assuntos são abordados pelos pesquisadores e do volume de dados. Foram meses de pesquisa, produção de esboços, migração de conteúdos, muitas reuniões e bastante aprendizado sobre questões técnicas que envolvem a criação de um ambiente como esse.

Uma das seções mais solicitadas pela equipe do Observatório foi o blog. Isso porque, essa é uma das principais formas que o site oferece para atender a um dos maiores propósitos desse espaço na web: a divulgação de conteúdo que possa ser interessante para a população, em uma linguagem acessível a quem não é pesquisador na área de história e saúde, mas que tenha interesse na temática.

Atendendo a essa premissa, a equipe passou a se reunir online periodicamente, em reuniões de pauta, para definir o que seria divulgado. Os encontros também assumiram caráter formador, no sentido de serem oportunidades para a colocação de ideias, inquietudes, posicionamentos no tocante ao uso de mídias digitais para a divulgação de conteúdo sobre história e saúde, reflexões sobre temas latentes na sociedade…

Nessas reuniões, passaram a ser definidos também os assuntos que seriam divulgados nas redes sociais do Observatório, além das estratégias empregadas, seguindo princípios de marketing digital. Uma das principais fontes de informação nos meses de isolamento social, as redes sociais do OHS sofreram modificações durante a pandemiacom o intuito de ficarem adequadas ao seu maior uso pela população.

Inicialmente, foi feito um esforço de conferir certa identidade visual às postagens, especialmente no Instagram. Optou-se também pelo uso de imagens que pudessem gerar mais impacto visual. A etapa seguinte foi a inserção de conteúdo com intervalo menor se comparado a meses anteriores. O próximo passo seria o incentivo à interação com os internautas, o que foi comprometido pelas restrições impostas durante o período eleitoral. Devido à necessidade de que páginas e perfis relacionados a instituições governamentais bloqueassem a possibilidade de comentários nas postagens, não foi possível avançar nesse sentido.

Além de investir no site e nas redes sociais, a equipe do Observatório passou a realizar o evento Conversas Contemporâneas de modo totalmente online. No canal do OHS no YouTube,é possível ver a diferença. Antes da pandemia, os eventos eram realizados presencialmente e suas gravações disponibilizadas no canal. Durante a pandemia, o Observatório não deixou de realizar o evento, passando a oferecê-lo de modo virtual. Vários temas, abordados por especialistas na área, foram tratados nesses encontros virtuais, como parto, saúde reprodutiva, atenção primária à saúde e história pública.

Além das edições do Conversas Contemporâneas, os pesquisadores do OHS também começaram a divulgar no site algumas das diversas aulas e entrevistas online que passaram a realizar durante o isolamento social. Todas essas ações tiveram e ainda têm como objetivo compartilhar com o público em geral conteúdos sobre história e saúde de modo acessível. Afinal, além de integrar uma instituição pública, faz parte da missão do Observatório mobilizar e produzir conhecimento sobre os processos históricos em saúde, o que atualmente se faz em grande medida através dos canais digitais de comunicação.

A partir da experiência vivida pelos profissionais do OHS, pretendemos mostrar como a pandemia de Covid-19 deu destaque e relevância à História Pública. Se por um lado os tempos difíceis exigiram estratégias para que os historiadores continuassem cumprindo seu ofício, por outro levaram esses profissionais a refletir sobre sua atuação e perspectivas para o futuro, elaborando caminhos muito promissores para o estabelecimento de maior e mais constante diálogo com a sociedade.

*Cynthia Maciel Duarte é pesquisadora em estágio pós-doutoral no Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz). Atualmente realiza investigação sobre Covid-19 na cidade do Rio de Janeiro, na interface entre história, antropologia e comunicação social. Também é pesquisadora associada no Observatório História e Saúde (OHS) da Fiocruz. Seus principais interesses incluem história da saúde, antropologia urbana, antropologia da saúde, interação social e comunicação social.

Ingrid Fonseca Casazza é doutora em História das Ciências pela Fundação Oswaldo Cruz. Atua como pesquisadora em estágio pós-doutoral na Casa de Oswaldo Cruz (Programa Inova Fiocruz). Atualmente desenvolve projeto sobre a história do Rio São Francisco na Grande Aceleração. Realiza pesquisas nas áreas da História das Ciências e da Saúde e da História Ambiental. Seus principais interesses estão na história das relações entre projetos políticos e econômicos, ciências e gestão de recursos naturais; águas na história e na análise dos impactos socioambientais e sanitários de projetos desenvolvimentistas.

Referências:

ALMEIDA, Juniele Rabêlo de; ROVAI, Marta Gouveia de Oliveira. História pública: entre as “políticas públicas” e os “públicos da história”. In: XXVII Simpósio Nacional de História. Anais… Natal: UFRN, 2013, p.01-10. Disponível em: https://snh2013.anpuh.org/resources/anais/27/1364156201_ARQUIVO_TextoFinal_ANPUHNATAL_HistoriaPublica_2013.pdf.

CAUVIN, Thomas. A Ascensão da História Pública: uma perspectiva internacional. In: Revista Nupen. Vol. 11, No. 23, 2019. p. 8-28.

SÁ, Dominichi Miranda de Sá; SANGLARD, Gisele; HOCHMAN, Gilberto; KODAMA, Kaori (orgs.). Diário da Pandemia: o olhar dos historiadores. Rio de Janeiro: Hucitec, 2020.