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Epidemias e cobertura jornalística: os limites entre informar e disseminar o pânico

03 set/2010

Como dois programas da TV Globo — o Fantástico e o Jornal Nacional —, fizeram a cobertura jornalística da epidemia da gripe A (H1N1)? Os resultados dessa pesquisa foram apresentados por Luisa Massarani, chefe do Museu da Vida (COC/Fiocruz), na palestra da manhã do último dia do IV Seminário de História das Doenças na sexta (3/9).

Alguns aspectos da cobertura foram destacados por Massarani como, por exemplo, o pequeno número de entrevistas com cientistas entre as fontes de informação e o fato de as reportagens veiculadas no Fantástico serem mais alarmistas do que as do JN. Também chamou atenção a ambiguidade entre as falas otimistas das autoridades, em oposição às imagens que mostravam pessoas nas ruas e nos aeroportos usando máscaras. Isso, junto ao tom de questionamento das matérias, sobre as medidas preventivas adotadas, trazia alguma ameaça e pânico aos telespectadores.

A pesquisa, do grupo de estudos do Museu da Vida, que envolve jornalistas que trabalham com divulgação científica, analisou 16 reportagens veiculadas ano passado no Fantástico e 157 no Jornal Nacional, durante a epidemia de gripe suína. Em sete das matérias veiculadas no programa dominical de grande audiência foram mostradas outras medidas de prevenção, que não o uso de máscaras, adotadas durante a epidemia.

Em uma delas, havia a informação sobre 23 casos suspeitos em São Gabriel (RS), o que acabou levando as pessoas a não sair de suas casas. Outra matéria alardeava que, no Japão, mais de 500 escolas estavam fechadas para evitar a disseminação da doença. Os grupos mais sujeitos a contrair a gripe foram outro tópico enfatizado na cobertura, acentuou Luisa. No caso do vírus A (H1N1), as grávidas e as crianças constituíam os grupos de maior risco e eram os mais amedrontados.

As reportagens, segundo Luisa, buscavam o impacto, tinham um tom de alerta e despertavam preocupação. As autoras do projeto puderam conferir que as reportagens de maior audiência foram aquelas que revelavam os casos mais próximos, histórias de comunidades e pessoas que vivem por perto.

Entre as recomendações da profissional que trabalha com divulgação científica, estão a utilização de palavras simples e o cuidado com termos como pandemia e virulência, que podem levar ao pânico se não tiverem seus significados bem explicados. “Pandemia, que quer dizer disseminar a doença em escala mundial, mas não necessariamente mortal, pode apavorar as pessoas”, disse Luisa.

Durante a epidemia de gripe, a Organização Mundial de Saúde destacou o estado de alerta na Europa e houve um levante na Internet de pessoas questionando se havia outros interesses, o das indústrias farmacêuticas, por exemplo, por trás daquela recomendação. “Ao divulgar, uma regra básica é estar atento aos limites entre informar e disseminar o pânico”, afirmou.

 

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