Fiocruz
Webmail FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ

Desafio a novas análises históricas das doenças e da saúde

03 set/2010

Na quinta-feira (2/9), a mesa redonda incluiu apresentações com os resultados de pesquisas  sobre a hanseníase, as doenças de escravos, epidemias e doenças do corpo.

Professora da Universidade Federal de Minas Gerais Keila Carvalho fez um estudo de caso sobre a Colônia Santa Isabel, em Betim, inaugurada em 1931. Fez entrevistas com 20 ex-internos, partindo das suas histórias de vida e o significado cultural de ser um leproso, para daí estudar as políticas de isolamento existentes na época.

“Trago para o centro da narrativa histórica a vivência humana de pessoas que vivem o isolamento e a perspectiva do acolhimento encontrado no leprosário depois da humilhação sofrida fora”, ressalta a pesquisadora, acrescentando que “na Colônia eles conseguiram reconstruir suas vidas, mesmo que aquele lugar tenha sido construído para excluí-los”.  

Pesquisadora da Casa de Oswaldo Cruz, Tânia Salgado Pimenta  fez um mapeamento sobre a produção em um campo novo na pesquisa histórica brasileira: a saúde e a escravidão.

Segundo a historiadora, a partir desses recentes estudos se descobriu que as doenças matavam mais escravos que a própria violência de que eram vítimas. As doenças eram classificadas em infecto-parasitárias, respiratórias e circulatórias, do sistema nervoso, da gravidez e do parto, psiquiátricas e da 1ª infância.

Outra descoberta desses estudos é que as epidemias de febre amarela e cólera foram disseminadas com o tráfico de escravos, que acabou reduzido para impedir que as doenças se espalhassem. Havia poucos médicos que atendiam os escravos, cuidados por curandeiros.

Fernando Dumas, historiador da Casa de Oswaldo Cruz, falou sobre as pesquisas que desenvolve com caboclos da Amazônia e, mais recentemente, a população de afro-descendentes do Rio de Janeiro, sobre “suas doenças do corpo e do espírito”. Ele também trabalha com a história oral, fazendo entrevistas sobre histórias de vida.

“Há várias amazônias”, diz Fernando, para explicar que se depara com o que dizem os historiadores da Amazônia. “Há quem repita o que os naturalistas diziam sobre o inferno verde e o Eldorado, bem como existe a produção acadêmica sobre curandeiros e benzedores no século 19”.

Segundo ele, essa história vê o indivíduo sob o prisma da medicina hegemônica. “Eu olho para o indivíduo, meu sujeito histórico, e é ele quem define como a sua doença vai ser curada”, diz Fernando. Ele destacou que o caboclo procura o curandeiro, mas vai atrás do médico quando se trata de uma doença do corpo. Já o afro-descendente só acredita na “cura com rezas”.

Anny Jackeline Silveira, da Universidade Federal de Minas Gerais, fez considerações sobre epidemias e seus impactos sociais. Levantou questões como quais as repercussões de uma epidemia nas crenças como nas políticas de saúde pública, e as transformações que impõe à agenda da saúde pública, nas teorias médicas e estratégias terapêuticas. E ainda como uma sociedade reage a cada novo episódio de uma doença.

 

Leia mais:

Pesquisadores apresentam trabalhos sobre doenças e epidemias na história de diversos países

Os sete tópicos de Diego Armus para ‘construir’ a história de uma doença

Epidemias e cobertura jornalística: os limites entre informar e disseminar o pânico