A arte e a cultura africana estiveram no centro das discussões de um dos painéis que compuseram a programação do simpósio que abordou as diversas faces dessa região, no último dia 22. A trajetória do Museu Afro-Brasileiro da Universidade Federal do Bahia (UFBA), em Salvador, foi o tema da apresentação da coordenadora da instituição, Graça Teixeira. Ela expôs um trabalho educacional feito com a sociedade baiana, especialmente com crianças, para acabar com os estigmas que cercam as religiões afro-brasileiras, através do contato com obras de arte vindas do continente.
Graça apresentou projeto que visa a acabar com preconceitos |
“Trabalhamos para tentar desmistificar as religiões afro-brasileiras. Discutimos por que há essa imagem (estigmatizada), e por que essas religiões são tão rechaçadas pela maior parte da sociedade baiana”, afirmou Graça no evento realizado na Tenda da Ciência, do Museu da Vida. Diferentemente de instituições semelhantes, que tiveram seus acervos constituídos a partir de apreensões policiais feitas em terreiros, o Museu Afro-Brasileiro obteve muitas de suas peças na África, em parte com ajuda de embaixadas de outros países.
Professor do Departamento de Comunicação da UFBA e especialista em Cinema Africano e da Diáspora, o costa-marfinense Mahomed Bamba trouxe um outro olhar para a discussão. Ele abordou o caráter de catalisador de transformação social que o cinema tem em países do continente.
Para ele, os diretores devem buscar levar às telas de maneira crítica um “retrato não complacente” da sociedade e levantar questões relevantes, como a condição feminina no continente, muitas vezes de subjugação. “O documentário, como ferramenta cultural, pode trazer informações além do entretenimento, ao registrar realidades para o próprio povo”, afirmou.
O painel sobre arte e cultura contou ainda com uma apresentação do pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) Wilson Savino. Ele é o curador da exposição “O Corpo na Arte Africana”, que ocupa espaço no Palácio Itaboraí, em Petrópolis (RJ). Savino fez um relato sobre suas andanças pelo continente africano e mostrou fotos feitas durante seu trabalho e em expedições em países como Mali e Moçambique. A conferência de encerramento, sobre a diversidade do continente africano, foi apresentada por Nísia Trindade Lima, pesquisadora da Casa de Oswaldo Cruz e vice-presidente de Ensino, Informação e Comunicação da Fiocruz, e conduzida pelo historiador Alberto da Costa e Silva, membro da Academia Brasileira de Letras (ABL).