Fiocruz
Webmail FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ

A questão do desenvolvimento no pensamento social brasileiro

09 nov/2010

A cientista política Vera Cepêda fechou com chave de ouro o último Encontro às Quintas de 2010 com um tema pertinente pós-eleição para Presidente da República. Ela abordou a questão do desenvolvimento no pensamento social brasileiro com base nos seus estudos sobre Roberto Simonsen, Celso Furtado e Fernando Henrique Cardoso, no período de 1930 a 1970.

Cepêda começou sua exposição justificando que os três autores escolhidos fazem todo sentido. As primeiras formulações de Simonsen, a teorização de Furtado, até a reconfiguração analítica de FHC são fundamentais para compreender a sociedade brasileira, a implementação do capitalismo no Brasil e seus impactos sociais e econômicos, e o projeto de construção de um novo modelo de país.

 

vera falando no microfone

Foto: Roberto Jesus (COC)

Desde o fim do século 19 até 1930 debate-se o problema da identidade nacional brasileira, incluindo questões sobre clima, ocupação, raças, cultura, lembra a palestrante, e é em 1934 que a tese de Roberto Simonsen aparece na Assembléia Constituinte. “Simonsen apontou que o problema do Brasil derivava da pobreza material, da nossa incapacidade de produzir, e não das instituições ou das características culturais nacionais”. Segundo Vera Cepêda, isso permitiu interrogar o passado, e também construir uma saída, um estado nacional. As influências vinham do pensamento keynesiano que surgia na década de 1930 cujo ideólogo, o economista britânico John Keynes, defendeu uma política econômica de Estado intervencionista.

 

Mas a fase do nacional-desenvolvimentismo que acontece de 1930 a 1988 não é homogênea, ressalta Cepêda, porque o pensamento estava voltado para o subdesenvolvimento, abriu mão da democracia, do projeto de inclusão social, por entender-se que, conforme célebre frase de Simonsen ” primeiro o ‘bolo’ tinha que crescer para depois dividi-lo”. A Constituição Federal de 88 quebrou esse processo e levantou a questão da distribuição de renda.

 

marcos chor e vera sentados à mesa. Marcos está no microfone

Foto: Roberto Jesus (COC)

A primeira versão do pensamento nacional-desenvolvimentista é de Roberto Simonsen, diz Cepêda. O que aconteceu foi que o café trouxe o Estado para dentro do sistema econômico, mas quando percebeu-se que a economia cafeeira não poderia sustentar o desenvolvimento nacional, a indústria passa a ser o carro chefe. É o Simonsen que faz essa virada na economia, acredita Cepêda. Ela também considera que a primeira interação entre política e economia aparece na tese de Simonsen, que já defendia inclusive o planejamento econômico.

Em relação à Celso Furtado, a cientista social destacou a célebre frase do economista “sem democracia não há desenvolvimento”. Ele justapôs as duas questões como se fizessem parte de um mesmo processo, disse Cepêda. “A explicação mais brilhante do Furtado foi que o entrave ao desenvolvimento está quando não aumentamos o salário, e portanto não aumentamos o mercado consumidor, e quando acumulamos riqueza sem inovação. Somente o Estado pode fazer isso acontecer, desde que o regime político seja aberto, democrático, para manter a dinâmica da economia”. Foi ele também que disse que o problema do subdesenvolvimento é político e que a Reforma Agrária é necessária.

Já a Teoria da Dependência de Fernando Henrique e Enzo Faletto, sociólogo chileno, focou nos argumentos de Furtado, e desromantizou o projeto nacional-desenvolvimentista, conjugando economia e política, mas dissolvendo o isolamento entre o nacional e o internacional.
Com doutorado em Ciência Política e Economia, Vera Cepêda, é professora da Universidade Federal de São Carlos e do Centro de Estudos de Cultura Contemporânea, editora da revista Teoria & Pesquisa, e autora de capítulos publicados nos livros Os juristas na formação do Estado-Nação brasileiro: de 1930 aos dias atuais (2010), O Pensamento de Celso Furtado e o Nordeste hoje (2009), O moderno em questão. A década de 1950 no Brasil (2008).
Em breve, será divulgada a programação do Encontro às Quintas de 2011.

 

vista do fundo da sala de aula com publico assistindo Vera e Marcos Chor

Foto: Roberto Jesus (COC)