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“O sertão, como perspectiva para se olhar o Brasil, está fortemente ligado a projetos de desenvolvimento”, diz Nísia Trindade

28 mar/2014

Nísia Trindade
Nísia falou sobre seu livro ‘Um sertão chamado Brasil’, que ganhou uma segunda
edição, ampliada e revista. Foto: Roberto Jesus Oscar.

O sertão, como uma perspectiva para se olhar o Brasil, está fortemente ligado ao tema da inclusão e da exclusão, à forma de se ver os descompassos entre diferentes territórios e a projetos civilizatórios e de desenvolvimento. A afirmação é da pesquisadora Nísia Trindade Lima, que proferiu a palestra O avesso do moderno: sertão e pensamento social no Brasil em 27 de março, no Encontro às Quintas.

Nísia é autora do livro Um sertão chamado Brasil, resultado de sua tese de doutorado, que ganha agora uma segunda edição ampliada. “A tese central do livro tenta responder a pergunta: por que essa dualidade sertão-litoral foi tão contínua no nosso pensamento social, em que pesem descontinuidades, motivando uma série de diálogos?”, disse.

Durante o encontro, a pesquisadora afirmou que mais recentemente, no campo das Ciências Sociais, a temática dos sertões e do Brasil dividido parece ter sido deslocada para o campo das artes, seja literatura, artes plásticas ou cinema. A sociologia, por outro lado, teria em parte abandonado esse tema em prol de outros recortes e abordagens, ou mesmo da crítica a essa visão dual sobre o Brasil.

“Em minha tese, que se transformou em livro, trabalho na direção contrária, mostrando que essa visão dualista teve várias implicações e esteve muito presente pelo menos no contexto da sociologia produzida nos anos 40 e 50”, afirmou. Nísia falou também sobre os textos incluídos na segunda edição: o prefácio intitulado O avesso do moderno, em que a discute alguns desdobramentos da obra publicada em 1999, além de dois outros capítulos, sobre viagens médicas e sobre a construção de Brasília.

Rui Barbosa e Jeca Tatu, o “caboclo mal desasnado”

Capa da revista O Malho: Jeca Tatu observa Rui Barbosa em caravela
 

Durante a apresentação, Nísia falou sobre a capa de uma edição da revista O Malho, de 1919, que traz uma ilustração do personagem Jeca Tatu, à beira de um rio, sendo observando por Rui Barbosa a bordo de uma caravela. “O artista, J. Carlos, traduziu uma conferência de Rui Barbosa sobre a questão social na Primeira República, que inspirou o próprio título do meu trabalho [Um sertão chamado Brasil]. [A imagem mostra] Rui Barbosa descobrindo o Brasil por meio do Jeca Tatu”, explica.

Segundo ela, Rui Barbosa fez a conferência que inspirou a ilustração após sair derrotado da disputa eleitoral numa espécie de desabafo. Na ocasião, o político declarou que o povo brasileiro não era o “caboclo mal desasnado” retratado por Monteiro Lobato. “Vejam a conotação política dada a esse personagem”, chamou a atenção Nísia. O Encontro às Quintas é promovido pelo Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde (PPGHCS) da Casa de Oswaldo Cruz (COC). Confira a programação completa.