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Historia da produção e circulação das ideias psiquiátricas no contexto brasileiro (primeira metade do século XX)

Pesquisadora responsável
Ana Teresa Venancio

Resumo
O projeto visa analisar o modo como ideias concernentes ao campo da ciência psiquiátrica foram produzidas e divulgadas no contexto brasileiro na primeira metade do século XX, participando tanto da institucionalização da psiquiatria no país quanto integrando debates relativos a outros campos de conhecimento, como o jurídico. A história da produção e circulação destas ideias será analisada a partir de alguns temas analíticos específicos, a saber: a) análise da presença e participação de discursos e argumentos médico-psiquiátricos em processo penais nas duas primeiras décadas do século XX; b) análise do uso de fotografias na produção e circulação do conhecimento psiquiátrico brasileiro nas três primeiras décadas do século XX; c) análise da recepção e circulação de ideias relativas à medicina constitucional no conhecimento psiquiátrico brasileiro nas décadas de 1930 a 1950; d) análise da recepção e circulação de categorias diagnósticas psiquiátricas no contexto médico-científico do Rio de Janeiro na primeira metade do século XX.

Assistência psiquiátrica em perspectiva histórica (Rio de Janeiro, século XX)

Pesquisadora responsável
Ana Teresa Venancio

Resumo
O presente projeto é um desdobramento da proposta de investigação mais ampla denominada Do Hospício de Pedro II ao Hospital Nacional de Alienados: cem anos de histórias (1841/1944) (edital PROEP 2015/2018) e visa investigar os desenvolvimentos da assistência psiquiátrica no Rio de Janeiro a partir da história de suas instituições ao longo do século XX, observando-se tanto os modelos e recurso institucionais utilizados, quanto suas realidades concretas e as populações nelas atendidas. Neste sentido, o projeto dá continuidade aos investimentos já realizados sobre a história do Hospício Nacional de Alienados e a da Colônia Juliano Moreira, ao mesmo tempo em que investe em nova pesquisa sobre outra instituição psiquiátrica carioca, a Colônia de Alienadas do Engenho de Dentro: a) Dar continuidade a análise da história da assistência psiquiátrica prestada pelo Hospício Nacional de Alienados na Primeira República b) Investigar a história da Colônia de Alienadas do Engenho de Dentro (Rio de Janeiro), observando-se a concomitância de propostas terapêutico-curativas e/ou preventivas para a assistência à doença mental c) Analisar a historiografia sobre a história da Colônia Juliano Moreira (Rio de Janeiro), buscando observar as linhas de continuidade e de mudança nas propostas assistenciais da instituição entre 1924 e 1980.

Promoção da Saúde, Cultura, Cidadania e Territórios Vulnerabilizados

Pesquisadora responsável
Anna Beatriz Almeida

Resumo
Este projeto pretende desenvolver estratégias de Promoção da Saúde, por meio da pesquisa-ação, que buscam mitigar iniquidades identificadas nos determinantes sociais da saúde presentes nos territórios socioambientalmente vulnerabilizados na região metropolitana do Rio de Janeiro, especialmente na Zona da Leopoldina. As atividades do projeto terão caráter intersetorial, utilizando-se de linguagens artísticas e produções culturais, recursos da memória social, divulgação de saberes científicos e formação cidadã a partir da educação popular em saúde a grupos sociais historicamente minorizados. Será realizado monitoramento, sistematização e avaliação dos resultados das atividades e do interstício da promoção da saúde com ações culturais.

A Amazônia como “microcosmo do Antropoceno”

Pesquisador responsável
André Felipe Cândido da Silva

Resumo
As mudanças sem precedentes ocorridas na bacia amazônica nos últimos 70 anos estão ligadas à Grande Aceleração, conjunto de processos socioeconômicos e biogeoquímicos que caracteriza o início do Antropoceno. O objetivo deste projeto de pesquisa é analisar o papel da Amazônia na Grande Aceleração entre os anos de 1952 e 2002 a partir de três aspectos: 1) a história das redes cientificas nacionais e transnacionais dedicadas a compreender sua ecologia e papel na regulação climática e hidrológica e nos estudos de biodiversidade, com foco na cooperação de instituições brasileiras com instituições alemãs, francesas e estadunidenses; 2) as intervenções ambientais orientadas por projetos de exploração de recursos primários associados às demandas globais da Grande Aceleração e aos projetos desenvolvimentistas nacionais, sejam commodities agrícolas, minérios ou recursos energéticos; 3) o processo de globalização política por meio do qual a floresta amazônica tornou-se um ícone do movimento ambientalista internacional contemporâneo, figurando como sinônimo de floresta tropical e avatar do futuro da humanidade no planeta.

Semiótica e semiologia médica: tecnologias do mental no Rio de Janeiro do século XX

Pesquisador responsável
Carlos Eduardo Estelilla Lins

Resumo
O projeto investiga a prática do exame psíquico nas disciplinas médicas buscando reconstruir um conjunto de problemas, questões e “viagens das técnicas” a partir do HNA porém incluindo outras instituições, atores intelectuais ou actantes. Há duas dimensões privilegiadas: o prontuário médico (e todo tipo de registro ligado ao conhecimento científico ou saberes psiquiátrico-jurídicos) e a criação estética-semiótica (literatura, arquitetura, artes visuais, práticas religiosas e consuetudinárias). Esta ampliação do escopo visa contextualizar as tecnologias do mental no encontro clínico, admitindo, portanto, duas acepções de cultura – estritamente etnográfica e cultura material. O projeto deriva de outras iniciativas da COC-DEPES (pesquisa 100 anos de Hospício) e atua em parceria e convênio com instituições de antropologia social, filosofia-estética e estudos de religião. O foco principal nesta etapa consiste em descrever como se concebia o exame do mental-moral-psíquico e orientavam-se intervenções ou decisões diagnóstico-terapeutico-intitucionais a partir do encontro clínico. Seria possível ainda opor e inclusive buscar uma análise simétrica da psicocirurgia /eletroconvulsoterapia e do ateliê artístico ou da psicanálise.

Esta démarche admite que se convide um amplo repertório de prática terapêuticas à contextualização. A maioria destas encontra-se condenada, em dessuetude e com infração grave dos direitos humanos. Pode-se falar em caixa-preta prematuramente fechada ou em controvérsias artificialmente mantidas abertas. Neste sentido as formas de resistência, atrito, debate e soluções correlatas (p.ex. atelier-museu de arte dos internos; formas de ocupação do espaço asilar; presença da desrazão na literatura geral, etc.) serão tematizadas igualmente sob perspectiva semiológica.

O campo teórica de partida consiste no estruturalismo, na arqueologia de Michel Foucault e nas semiologias psiquiátricas debatidas por Lanteri-Laura. A questão da normatividade do vivente a partir de Georges Canguilhem e seus discípulos é igualmente relevante. Um segundo assoalho teórico consiste na transposição dos debates signaléticos para a história das técnicas, especialmente seguindo a escola de Bath (UK) e a escola de Minas (France). A novidade e contribuição consiste, portanto, em percorrer o exame psíquico “a contrapelo” tomando a cena carioca da constituição dos saberes psi (que foi influente no país) enquanto arena transepistemica e variante do iconoclash modernista.

Rede de Atenção à Saúde na região metropolitana do Rio de Janeiro: trajetória e perspectivas

Pesquisador responsável
Carlos Henrique Paiva

Resumo
O projeto tem por objeto o debate de ideias, a proposição de iniciativas, as ações levadas a efeito e as práticas objetivas que se instauram nas relações entre instituições e unidades em funcionamento concreto na rede com vistas à organização da Rede de Atenção à Saúde (RAS) na região metropolitana do Rio de Janeiro, analisando o desenvolvimento dos conhecimentos e práticas organizacionais, bem como os constrangimentos políticos que incidiram ? e ainda incidem ? na consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS) na região.

Intelectuais europeus, saberes e tecnologias em trânsito: refúgio no Brasil (1938-1953)

Pesquisadora responsável
Cristiana Facchinetti

Resumo
Programa de pesquisas sobre história transnacional de refugiados (Europa-América Latina). A pesquisa engloba investigação sobre intelectuais, tecnologias, diplomacia, religião e subjetividade.

A história das pesquisas científicas transnacionais na Amazônia do Antropoceno: o convênio INPA-ORSTOM (França) para estudos de impacto ambiental do uso da floresta e águas amazônicas (1979-1991)

Pesquisadora responsável
Dominichi Sá

Resumo

Este projeto, relacionado ao projeto integrado PROEP-CNPq-COC/Fiocruz “A Amazônia como microcosmo do Antropoceno”, busca investigar como disciplinas científicas e cientistas, especialmente aqueles do campo da ecologia e das ciências do clima, participaram da transformação da Amazônia em bioma de interesse global no contexto da mudança climática e do período conhecido como Antropoceno (2ª metade do século XX). Este projeto se concentrará no convênio INPA-ORSTOM (Office de la Recherche Scientifique et Techinique d’Outre Mer), órgão de pesquisa com presença marcante nos ex-territórios coloniais franceses, mas que também iniciou colaboração com a instituição amazônica. O convênio foi formalizado por meio do CNPq em 1982. Esta cooperação franco-brasileira concentrou-se na biologia aquática, na ecologia vegetal e na administração florestal com o objetivo de empregar o conhecimento ecológico visando ao manejo racional da floresta. Quanto à hidrobiologia, o acordo englobava estudos e gerenciamento de recursos de água doce na Amazônia, pesquisas sobre o impacto da hidrelétrica de Tucuruí sobre animais aquáticos e pesca e investigações sobre essa atividade econômica na Amazônia central. As ciências do solo também integravam os intercâmbios, com análises sobre matéria orgânica em diferentes perfis de solo da bacia. Neste projeto, privilegiaremos, no âmbito da cooperação ORSTOM-INPA, dois grandes projetos de pesquisa bilaterais que foram realizados na Amazônia: 1. “Estudo das modificações ecológicas ligadas ao manejo agro-silvícola da floresta”, que durou de 1979 a 1991. Neste projeto, houve claro objetivo de monitorar e instrumentalizar o aproveitamento econômico da floresta por meio dos saberes ecológicos; 2. “Estudos e administração de recursos de água doce na Amazônia”, que durou de 1980 a 1989, e cujos objetivos foram acompanhar os impactos ecológicos da barragem do Tucuruí e as condições ecológicas e econômicas da pesca na região.

Pretende-se, desta forma, sublinhar o papel ambivalente que as expertises e o conhecimento técnico-científico desempenham nos processos do Antropoceno, reconhecendo a sua centralidade nas intervenções orientadas pela aliança entre atores nacionais e consórcios internacionais envolvidos em cadeias globais de commodities, mas também nos movimentos ligados ao ambientalismo e à defesa da Amazônia como pauta política central para o futuro do planeta.

O discurso médico-antropológico sobre o comportamento criminoso no Brasil (1830 – 1890)

Pesquisador responsável
Flávio Edler

Resumo
Este projeto pretende estudar o discurso antropológico articulado pela medicina brasileira imperial, entre 1830 e 1990, e o modo como ampliou sua esfera de intervenção profissional. Ao afirmar as interações entre os planos do físico e do mental, redefiniu seus problemas e seu escopo jurisdicional, alterando as fronteiras tradicionais que confinavam o discurso sobre a moralidade à esfera do Direito, da Filosofia e da Igreja. O comportamento pecaminoso, ou imoral, pode assim, ser redefinido, parcialmente, como doentio. A nova classificação trazia embutida uma nova forma de explicá-lo e agir sobre ele. Demais objetivos: 1) Descrever o repertório de concepções proveniente da literatura médica sobre os tipos humanos e sua relação com o problema da responsabilidade penal e do comportamento criminoso; 2) Estudar a matriz discursiva sobre a natureza humana que se irradiou no contexto das teorias cientificistas entre os vários ramos do saber psiquiátrico, antropológico, jurídico e criminalista. Queremos compilar os discursos médico-antropológicos sobre o crime e, subsidiariamente, explicar os motivos ou as razões de sua difusão no debate intelectual da época; 3) Pensar sobre continuidades e descontinuidades no discurso médico sobre determinismo e livre-arbítrio. Enquanto as construções teóricas sobre as raças e a hereditariedade, posteriores à 1870, se baseavam num determinismo ostensivamente fisicalista na investigação das patologias mentais e das características raciais, esperamos demonstrar que parte desses construtos teóricos replicava antigas noções de reciprocidade entre o físico e o moral, que já estavam presentes em várias vertentes da medicina antropológica; 4) analisar as transformações do discurso católico, buscando detectar se ocorreu a incorporação de discursos psicológicos, psiquiátricos e criminológicos na explicação da criminogênese.

Políticas, Saúde Pública e Circuitos do Desenvolvimento no Brasil (1946-1964)

Pesquisador responsável
Gilberto Hochman

Resumo
Em um momento que múltiplas crises se entrecruzam de modo quase estruturante – sanitária, climática, econômica e da democracia, o objetivo principal do projeto de pesquisa para o próximo triênio é analisar as relações entre desenvolvimento e saúde no Brasil (1946-1964) a partir de políticas, programas governamentais e internacionais e do debate intelectual e político sobre o tema. O período é marcado pelas tensões da bipolaridade da Guerra Fria, pela experiência democrática no Brasil, pelo debate sobre os caminhos e propostas para o desenvolvimento nacional, por uma pluralidade de atores organizados que vocalizam interesses e perspectivas sobre saúde e desenvolvimento e pela emergência e consolidação no cenário da saúde internacional das agências especializadas das Nações Unidas e da cooperação bilateral estadunidense. Ao otimismo do desenvolvimentismo se somava um otimismo sanitário, isto é, a crença que seria possível um esforço global e coordenado para controlar ou mesmo eliminar parte das doenças transmissíveis a partir de novas drogas, inseticidas e imunizantes desenvolvidos pela indústria química e farmacêutica, especialmente a partir do esforço de guerra. Essa análise busca compreender a trajetória das relações desenvolvimento/saúde como processo histórico que conecta dimensões nacionais, regionais e internacionais. Com continuidades e mudanças, esse processo, se mais inteligível, pode informar o presente sobre sucessos e fracassos de programas e políticas.

História da ciência e tecnologia no Brasil? 1945-2000

Pesquisador integrante
Gilberto Hochman

Coordenador
Olival Freire (UFBA)

Resumo
O apoio às atividades científicas no Brasil tem sido marcado pela descontinuidade com a alternância de contextos favoráveis e adversos. Tais oscilações requerem descrição e análise desta dinâmica. Abordamos este problema através da análise histórica considerando o recorte da segunda metade do século XX. Desde a 2ª Guerra, os usos da ciência contribuíram para mais atenção à C&T. No período considerado, queremos interrogar: como se explica uma relativa continuidade, mesmo com interrupções, das políticas de C&T e a construção de instituições científicas? Os regimes políticos não são bons indicadores, pois C&T foi apoiada tanto em regimes democráticos quanto autoritários. A economia, ao lado de fatores culturais, pode ser explicação mais adequada, o que nos sugere a hipótese de que a busca do desenvolvimento econômico e social, no sentido de modernização e industrialização, seria melhor chave explicativa para o apoio, quando existente. Evidências da plausibilidade desta hipótese estão no apoio continuado, implicando a construção de instituições, à pesquisa em áreas vistas como relevantes para tal desenvolvimento, a exemplo de energia (ambições nucleares, hidrelétricas, exploração do petróleo), e engenharia, assim como projetos de modernização da agricultura, capacitação na aeronáutica, informática e nas telecomunicações. Examinamos em que medida, e como, a concepção do desenvolvimentismo incluía o apoio à C&T. Ainda, esta hipótese, requer saber como o choque do petróleo e aumento dos juros no cenário internacional e o enfraquecimento desta visão pós 1990, finda a Guerra Fria, impactou o apoio à C&T. A metodologia adotada envolve tanto pesquisa de arquivos quanto revisão da literatura e focará o exame das visões sobre C&T expressas por agentes governamentais, pensadores do desenvolvimento e cientistas e examinará tanto políticas públicas, e suas expressões orçamentárias, quanto a relação de cientistas com os distintos governos do período por meio de estudos de casos. Subprojeto: analisa repercussões do exílio de cientistas brasileiros durante o regime militar (1964-85) sobre concepções de ciência e sobre as práticas científicas, em especial sobre o que seria (ou deveria ser) fazer ciência no Brasil. Os que conseguiram posições em instituições estrangeiras refletiram sobre as condições de trabalho, renda e interlocução científica, as comparações entre instituições brasileiras e internacionais, o papel político dos cientistas e as possibilidades de retornar ao país. A pesquisa, baseada em fontes documentais, pretende comparar 2 grupos, de diferentes gerações e especialidades, perseguidos e exilados pelo regime: o da Parasitologia Médica da FMUSP e o do Instituto Oswaldo Cruz. A principal questão de pesquisa é qual o impacto do exílio sobre suas concepções e práticas em um momento de transformações com a emergência da bioquímica, genética e biologia molecular.

Debates sobre a alimentação infantil: medicina e indústria alimentícia (1900-1930)

Pesquisadora responsável
Gisele Sanglard

Resumo
Este projeto dialoga, a partir da perspectiva dos estudos sobre a pobreza, com os campos da história da alimentação e da história das ciências. A alimentação e a fome deixaram, nos últimos anos, de serem assuntos complementares nos livros de História para se transformarem em objetos de estudo. Interessa-nos estudar as relações entre alimentação, sua ausência e seus públicos em diferentes instituições, organizações e perspectivas. Alimentação e saúde é um tema fulcral na assistência à pobreza, que ganha contornos específicos a depender do contexto histórico. Um prato de comida era, muitas vezes, o maior ?remédio? para o indivíduo enfraquecido. Este projeto tem então, por objetivo, estudar a relação que se estabeleceu entre a alimentação, saúde e pobreza no Brasil na Primeira República. Mais especificamente estaremos nos preocupando em perceber quando a oferta de alimento deixou de ser uma preocupação das ações de caridade e filantropia para se tornarem políticas públicas. Outro objetivo deste projeto é estudar a intervenção de médicos, e outros profissionais de saúde, na alimentação da população brasileira, na primeira metade do século XX, e pretende agregar às discussões sobre a história da alimentação, as questões da saúde: o combate à mortalidade infantil, como estratégias de combate à pobreza levadas a cabo por médicos desde o início do século XX.

História das leishmanioses (1903-2015): significados, enfrentamento e desafios de uma doença dos trópicos que se tornou risco global

Pesquisador responsável
Jaime Benchimol

Resumo
O presente projeto tem em mira fortalecer as ações regionais, nacionais e mesmo globais contra as leishmanioses, fornecendo aos atores nelas envolvidos melhor compreensão da gênese do problema representado por esse grupo de doenças, isto é, análises históricas sobre como se chegou à configuração atual do problema, sobre as formas como foram equacionadas e enfrentadas as diferentes manifestações desse complexo patológico que a Organização Mundial de Saúde (OMS) classifica como ?doença tropical negligenciada?, a única, parece, ainda em crescimento. Com uma equipe que reúne expertises nas ciências sociais e biomédicas e na saúde, pretendemos analisar os mais relevantes trabalhos produzidos desde fins do século XIX sobre doenças ressignificadas à luz das medicinas pasteuriana e mansoniana como leishmanioses; as controvérsias motivadas por esses trabalhos, pelas abordagens clínicas das patologias associadas a leishmânias, e pelas ações tomadas contra elas nos domínios da terapêutica e assistência médica, da profilaxia e saúde pública. A produção de conhecimentos e as formas de enfrentamento das leishmanioses no Brasil, a nível local, regional, nacional, mobilizaram médicos, instituições, órgão de governo, enfim um conjunto muito diversificado de atores sociais: no projeto estudaremos essas formações assim como as redes de intercâmbio e cooperação estabelecidos em sucessivas conjunturas históricas com outros conjuntos de atores dedicados às leishmanioses, nas Américas, Europa e Ásia. Daremos ênfase aos circuitos Sul-Sul envolvendo Brasil, alguns países sul-americanos e Índia. Entrevistaremos médicos, cientistas e sanitaristas que tenham estado na linha de frente desses estudos. Com os produtos do projeto esperamos contribuir para maior compreensão da história das leishmanioses, esse complexo grupo de doenças.

Rede de Atenção à Saúde na região metropolitana do Rio de Janeiro: trajetória e perspectivas

Pesquisador responsável
José Roberto Franco Reis

Resumo
Desde os anos 1930 com a estruturação mais efetiva do sistema de previdência brasileiro, que para se ter assistência à saúde era preciso se encontrar regularmente inscrito em algum dos Institutos de Aposentadorias e Pensões, os IAPs criados neste período ou em alguma das Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAPs) ainda vigentes. Quem não cumprisse tais requisitos – como o amplo universo de trabalhadores rurais e todos aqueles não vinculados formalmente ao mundo do trabalho – tinha que se valer da caridade, da assistência privada ou fazer uso de alguns serviços de saúde organizados pelo Estado. Por esse motivo, os estudiosos da história da saúde pública observam uma cisão nesse campo, com a saúde pública – dedicada em geral, mas não só, às ações sanitárias contra epidemias e endemias que grassavam largamente no país – subordinada ao Ministério da Educação e Saúde Pública e a assistência médica individual dependente dos Institutos ou Caixas de Previdência (IAPs e CAPs) vinculados por sua vez ao Ministério do Trabalho Indústria e Comércio. Com isso, se conformaria uma cultura política de direitos e/ou trabalhista de forte viés corporativista, determinada por uma dinâmica excludente e segmentada de acesso aos serviços de saúde, nos termos da chamada cidadania regulada. Ademais, uma das características importantes do sistema previdenciário desse período era a sua fragmentação na qual cada categoria profissional mais ampla possuía um IAP especifico, com uma cesta particular de benefícios em termos de aposentadoria, pensão, financiamento habitacional e assistência médica. No entanto, após o golpe 1964 e a correspondente implantação da ditadura civil-militar, ocorre a unificação do sistema previdenciário com a criação do então Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) em 1966. Com esse processo, para além da referida unificação, se verifica a paulatina incorporação de novos sujeitos sociais – como trabalhadores das áreas rurais, de serviços domésticos e autônomos – ao sistema previdenciário e, por conseguinte, à assistência médica. Apesar disso, particularmente no campo da saúde se mantém a estrutura segmentada do sistema, necessitando de algum modo ser contribuinte e/ou estar vinculado ao INPS para obter acesso aos serviços de saúde, embora paulatinamente se observe, com o dito acima, o incremento desse processo. No entanto, o que se define como forma predominante de incorporação da assistência à saúde entre os direitos previdenciários no pós unificação é o crescente fortalecimento do setor privado, com diversas modalidades de convênios e contratos, desde o realizado com empresas, sindicatos, com instituições municipais, estaduais e federais, entidades beneficentes e filantrópicas. Assim, informados por um horizonte analítico que se propõe a observar tanto a referida cidadania regulada quanto a estrutura corporativista como arranjos em boa medida abertos ao conflito e atravessados por disputas e contradições desde os seus momentos iniciais, pretendemos investigar e problematizar precisamente como se deu o processo de ampliação da assistência à saúde de 1966, com a criação do INPS, até a constituição do Sistema Único de Saúde (SUS), analisando, como objetivo principal de pesquisa, as diversas formas de ampliação do setor privado na conformação da assistência à saúde durante a ditadura civil-militar brasileira, o que na perspectiva de diversos estudiosos do tema, resultou em fortes embaraços à implantação efetiva de um sistema público de saúde, tal como definido na Constituição de 1988.

O vulgarizador Louis Figuier (1819-1894) na imprensa brasileira: cultura científica e a circulação do conhecimento entre Brasil e França

Pesquisadora responsável
Kaori Kodama

Resumo
O projeto de pesquisa como professora visitante na Université Paris 1 Panthéon-Sorbonne visa investigar questões da cultura científica no Brasil através da circulação de textos do popularizador da ciência Louis Figuier (1819-1894) na imprensa brasileira. Louis Figuier, formado pela Faculdade de Medicina de Montpellier, era um escritor ativo da imprensa francesa. É autor de dezenas de livros, editor de periódicos e revistas de divulgação científica, e seus títulos foram traduzidos para vários idiomas, incluindo o português. Sua produção escrita e sua trajetória são consideradas um dos principais exemplos da “era de ouro” da popularização científica francesa que se estendeu até o início da Primeira Guerra Mundial. A pesquisa pretende levantar fontes nos arquivos franceses sobre o trabalho de Figuier na imprensa, bem como sobre os diferentes agentes relacionados às edições de seus escritos, em particular as traduções para o português. Apesar da ampla circulação de livros e textos de Louis Figuier na imprensa em vários países durante o século XIX, ainda não foi realizado um mapeamento dos agentes de editores e tradutores de suas obras, bem como o levantamento e análise de dados biográficos. fontes sobre o autor, cujos estudos no Brasil foram pouco explorados. Acreditamos que o estudo da circulação de agentes atrelada à disseminação de textos de vulgarização, como livreiros, editores, tradutores e escritores, permite compreender melhor aspectos das mudanças na maneira como a ciência foi apresentada a um amplo público no final do século XIX no Brasil. Por fim, o presente projeto visa fomentar novas linhas de pesquisa na história que possam auxiliar na reflexão sobre o papel da mídia e dos mediadores das ciências.

História da mediação cultural das ciências no Brasil: atores, práticas culturais e circulação do conhecimento científico, séculos XIX e XX

Pesquisadora responsável
Kaori Kodama

Resumo
Este projeto tem por objetivo realizar um levantamento e análise de um conjunto amplo de intelectuais mediadores, mulheres e homens, que atuaram na divulgação das ciências no Brasil. Neste sentido, essa pesquisa procurará investigar as características dessa mediação cultural dos vulgarizadores das ciências, bem como de educadores e intelectuais, que escreveram sobre ciência para públicos amplos, buscando refletir sobre as condições particulares em que se deu a disseminação da cultura científica na realidade brasileira. Nosso enfoque será principalmente dado a partir de agentes (intelectuais, jornalistas, médicos, professores) na imprensa brasileira, considerando-a correlacionada ao mercado editorial de livros e de revistas entre os séculos XIX e XX, uma vez que, na difusão dos conhecimentos, ela integrava e repercutia o circuito das coleções de livros e de bibliotecas. O propósito dessa pesquisa é dar maior visibilidade aos atores que ocuparam lugar fundamental na produção, na esfera cultural, de novas linguagens e de práticas culturais e de conteúdos sobre as ciências voltadas para um público amplo. Nesse conjunto diversificado de intelectuais mediadores, dentro de perfis sócio-profissionais e de papéis sociais variados, destacamos as mulheres, que, ainda que pouco conhecidas, tiveram participação em movimentos políticos e intelectuais de expansão da leitura. A principal contribuição historiográfica dessa pesquisa é realizar uma investigação mais profunda sobre a ciência na cultura geral, ou seu lado ?público?, num período de institucionalização das ciências e de modernização crescente nos centros urbanos, com ênfase no Rio de Janeiro, entre as décadas finais do século XIX ao início do século XX, dialogando tanto com a historiografia das ciências mais recente, como com a história cultural e social.

Botânica e conhecimentos práticos (1750-1850): o que estava em jogo?

Pesquisadora responsável
Lorelai Kury

Resumo
O projeto tem por objeto a botânica e a atuação dos botânicos, entre 1750 e 1850, no Brasil, em particular no Rio de Janeiro. Importa delimitar as maneiras pelas quais a botânica se associou a práticas consideradas úteis e como conviveu, deslocou ou foi superada por outras expertises não acadêmicas. A investigação propõe a compreensão do que significava a própria botânica na época, em um contexto intelectual de estabelecimento de fronteiras entre ciência teórica e prática. Especificamente, a abordagem analisará os estudos sobre madeiras e plantas medicinais, buscando caracterizar a presença da botânica nas práticas coletivas associadas ao uso desses materiais. As fontes são constituídas pela produção dos naturalistas (brasileiros e estrangeiros), em paralelo a fontes arquivísticas relativas à administração da capitania e da província.

As mulheres e os processos de institucionalização da Medicina Tropical: trajetórias, práticas e profissionalização no Brasil (1940-1999)

Pesquisador responsável
Luiz Otávio Ferreira

Resumo
Este projeto busca compreender a inserção e a trajetória de mulheres nas dimensões local e global nos processos de institucionalização da medicina tropical no Brasil, no período de 1940-1999. De modo geral, as abordagens historiográficas sobre a história da medicina tropical são predominantemente masculinas, o que induz a uma falsa impressão de que as mulheres não estavam presentes, ou se apresentavam de forma periférica no campo. Assim, a questão norteadora da pesquisa é: como se deu a inserção e a profissionalização das mulheres no campo da medicina tropical no Brasil entre 1940 e 1999? Tem-se como objetivo principal mapear as trajetórias das mulheres e entendê-las dentro de uma rede de interdependência institucional que é conformadora epistemologicamente (define doenças, modelos de pensamento, uso de métodos científicos e intervenções sociais) e profissionalmente (produz laços, identidades, representações e autoimagens). Um movimento que indica a feminização de alguns campos da saúde. No âmbito global, a década de 1940 tem especificidades na profissionalização e inserção das mulheres, com vínculos à agenda internacional. No caso das instituições de saúde no Brasil, sistematizamos três eixos de pesquisa que se entrelaçam para percorrer a trajetória das mulheres na medicina tropical dentro do recorte estabelecido: (1) as cooperações internacionais, com a Fundação Rockefeller e o Serviço Especial de Saúde Pública (SESP) no financiamento e na formação em medicina tropical e áreas associadas no exterior de médicas e enfermeiras de saúde pública, assim como no estímulo à criação de novos cursos no Brasil; (2) a educação sanitária em medicina tropical e áreas associadas, em movimento peculiar de remodelação para se tornar a educação em saúde, com a inserção de diversas profissionais e uma identidade forjada na interdisciplinaridade e com destaque às mulheres ao longo do tempo; (3) o início das atividades, em 1975, do Special Program for Research and Training in Tropical Diseases (TDR), vinculado à OMS e seu fluxo intenso de pesquisadoras até 1999, com a profissionalização marcada pela espacialização da pesquisa e ênfase na inovação de métodos e de intervenções relativas às doenças tropicais. A metodologia do trabalho busca se adequar ao conjunto variado de fontes, como cartas, cartões de bolsistas, documentos institucionais oficiais, jornais, entrevistas, percebendo nessa variabilidade empírica a base material para compor as redes que envolveram as mulheres. Busca-se como resultado ampliar os estudos e propor estratégias de divulgação científica dos dados para o público mais amplo, por meio da elaboração de um panorama sobre os complexos processos e movimentos de feminização da saúde, em especial na medicina tropical no Brasil.

A trajetória de Haydée Guanais Dourado (1915-2004) e a institucionalização da enfermagem moderna no Brasil, 1938-1988

Pesquisador responsável
Luiz Otávio Ferreira

Resumo
Os estudos sobre a institucionalização de profissões técnicas e científicas ocorrida no Brasil (século XX), na maioria das vezes, não consideram o recrutamento e o engajamento de mulheres. Desse modo, consolida-se a ideia de que a implantação de instituições e a formulação de políticas públicas de educação saúde e ciência e tecnologia não dependeu da atuação profissional feminina. No entanto, além do caso das professoras primárias (normalistas), a presença de mulheres foi crucial na formação e composição de profissões como enfermagem, farmácia, química, biologia, ciências sociais e outras. Para demonstrar este argumento, a pesquisa proposta irá reconstituir a trajetória e analisar a atuação de Haydeé Guanais Dourado (1915-2004) no processo de institucionalização da enfermagem no Brasil, entre 1932 e 1988. Oriunda de uma família protestante do sertão da Bahia na qual seis irmãs e primas obtiveram o diploma de enfermeira na Escola de Enfermagem Ana Nery, a trajetória profissional e acadêmica de Haydeé, que também se diplomou em ciências sociais e jornalismo, foi densa e inovadora: técnica de enfermagem pela Escola da Missão Presbiteriana de Ponte Nova, na Bahia; enfermeira Diplomada na Escola de Enfermagem Ana Nery, no Rio de Janeiro; e bolsista da Fundação Rockefeller. Ocupou cargos importantes como o de Superintendente de Enfermagem da Campanha Nacional de Combate à Tuberculose, a direção da Escola de Enfermeiras da Universidade Federal da Bahia e coordenou a elaboração do ?Relatório final do levantamento de recursos e necessidades de enfermagem no Brasil, 1956-1958?, um estudo de âmbito nacional patrocinado pela Associação Brasileira de Enfermagem com o apoio de Fundação Rockefeller, que tinha como propósito a formulação de uma estratégia para solucionar o principal entrave imposto à formação de enfermeiras no Brasil de meados do século XX: o déficit de enfermeiras pela escassa adesão de mulheres escolarizadas em nível secundário e de classe média à profissão.

Da Escola de Chicago à Política de Boa Vizinhança: diplomacia cultural e ciências sociais em Donald Pierson

Pesquisador responsável
Marcos Chor

Resumo
O projeto tem por objetivo examinar o papel desempenhado pelo sociólogo americano Donald Pierson nas relações culturais entre Brasil e EUA enfocando tanto sua primeira viagem ao Brasil, no âmbito de sua pesquisa de doutorado, em 1935, quando a Política de Boa Vizinhança dava os seus primeiros passos, quanto o período inicial de sua atuação como professor da Escola de Sociologia e Política de São Paulo nos primórdios da Segunda Guerra Mundial, momento em que a diplomacia cultural americana buscava se fortalecer na América Latina em face da crescente ameaça representada pelas forças do Eixo. Considerando as circunstâncias históricas que presidiram as atividades de Pierson nos anos 1930 e 1940, marcadas pelo interesse dos EUA em estreitar relações com a América Latina, o projeto explora, para além da conhecida agenda acadêmica perseguida pelo sociólogo americano, centrada construção do campo das Ciências Sociais no Brasil, a faceta política e diplomática de sua atuação no país.

História da Genética e de seus impactos: raça, racismo e população no Brasil 

Pesquisador integrante
Marcos Chor

Coordenador
Robert Wegner

Resumo
Em meados da década de 1990, o Brasil se tornou um ator na política global de Aids devido a sua participação em debates sobre se os medicamentos antirretrovirais (ARVs) seriam mercadorias ou bens públicos. O país desafiou não apenas grupos farmacêuticos poderosos, mas também a crença de que as políticas de saúde internacional eram definidas apenas pelas nações desenvolvidas. Depois de 1996, surgiu uma aliança de funcionários do governo federal, ativistas de saúde pública, pessoas com Aids e pesquisadores, que defendiam o acesso universal a medicamentos genéricos em substituição aos remédios de alto custo e patenteados (Parker 1994). O Brasil foi o primeiro dentre os países em desenvolvimento a ter uma política de distribuição gratuita de ARVs. As conquistas brasileiras, bem como a articulação entre prevenção e tratamento e o declínio da mortalidade e dos casos de Aids, foram divulgadas no exterior. No entanto, durante a primeira década do século XXI, o aumento dos custos dos medicamentos e a persistência da homofobia debilitaram essa aliança e desaceleraram as políticas pioneiras para a doença. Além disso, programas unilaterais dos EUA e grupos religiosos conservadores, que pregavam a abstinência sexual, sabotaram o trabalho contra a Aids. Após a crise financeira de 2008, o acesso universal aos ARVs perdeu força política e prejudicou a continuidade dos tratamentos no Brasil.

Brasil, Saúde Global e antirretrovirais para Aids: 1996-2008

Pesquisador responsável
Marcos Cueto

Resumo
Em meados da década de 1990, o Brasil se tornou um ator na política global de Aids devido a sua participação em debates sobre se os medicamentos antirretrovirais (ARVs) seriam mercadorias ou bens públicos. O país desafiou não apenas grupos farmacêuticos poderosos, mas também a crença de que as políticas de saúde internacional eram definidas apenas pelas nações desenvolvidas. Depois de 1996, surgiu uma aliança de funcionários do governo federal, ativistas de saúde pública, pessoas com Aids e pesquisadores, que defendiam o acesso universal a medicamentos genéricos em substituição aos remédios de alto custo e patenteados (Parker 1994). O Brasil foi o primeiro dentre os países em desenvolvimento a ter uma política de distribuição gratuita de ARVs. As conquistas brasileiras, bem como a articulação entre prevenção e tratamento e o declínio da mortalidade e dos casos de Aids, foram divulgadas no exterior. No entanto, durante a primeira década do século XXI, o aumento dos custos dos medicamentos e a persistência da homofobia debilitaram essa aliança e desaceleraram as políticas pioneiras para a doença. Além disso, programas unilaterais dos EUA e grupos religiosos conservadores, que pregavam a abstinência sexual, sabotaram o trabalho contra a Aids. Após a crise financeira de 2008, o acesso universal aos ARVs perdeu força política e prejudicou a continuidade dos tratamentos no Brasil.

História da institucionalização das Ciências Biomédicas no Brasil e na América Latina

Pesquisadora responsável
Maria Rachel de Gomensoro Fróes da Fonseca

Resumo
Tem como objetivo geral analisar a institucionalização das ciências biomédicas no Brasil e na América Latina, no século XIX, tendo como base a análise do processo de criação e consolidação das instituições neste campo de conhecimento. Esta reconstituição realizar-se-á por meio da identificação e análise dos espaços institucionais (instituições de ensino e de pesquisa, laboratórios, hospitais e órgãos oficiais), dos espaços de representação (associações profissionais, sociedades científicas, periódicos, congressos), da delimitação de suas características, da detecção de sua política institucional e da eleição de seus gestores e atores.

Mulheres na institucionalização da ciência e tecnologia em saúde no Brasil (1934-1985)

Pesquisador responsável
Nara Azevedo

Resumo
Investigar a presença e contribuição de mulheres para a institucionalização das ciências no país entre 1934-1985. O objetivo é analisar a trajetória profissional de pesquisadoras que atuaram em instituições de pesquisa e ensino na cidade do Rio de Janeiro, conferindo-se prioridade ao Instituto Oswaldo Cruz em vista de sua projeção nacional e internacional na produção de conhecimentos científicos e tecnológicos em biomedicina e saúde pública, em particular no campo de imunobiológicos.

História da ciência e tecnologia no Brasil – 1945-2000.Mulheres na Fiocruz: politica e saúde pública (1940-1985)

Pesquisador responsável
Nara Azevedo

Resumo
O apoio às atividades científicas no Brasil tem sido marcado pela descontinuidade com a alternância de contextos favoráveis e adversos. O objetivo do projeto é identificar os principais elementos políticos, sociais e econômicos que interferiram nessa dinâmica no período 1945-2000. Especificamente trata-se de investigar a trajetória profissional de duas gerações de pesquisadoras que atuaram na pesquisa cientifica e na produção de imunobiológicos.

História da Genética e de seus impactos: raça, racismo e população no Brasil

Pesquisador responsável
Nara Azevedo

Resumo
O século XX já foi considerado o século da genética. É difícil exagerar os impactos da genética na economia, especialmente na agricultura, desde o aperfeiçoamento, no início do século XX, dos antigos métodos de melhoramento das sementes e dos rebanhos por meio do cruzamento controlado até os alimentos transgênicos produzidos contemporaneamente pela agroindústria, passando pela produção de sementes híbridas e sua associação com a revolução verde a partir dos anos 1960. Da mesma forma, as práticas e ideias políticas dirigidas às populações são uma demonstração da centralidade da genética, a começar pelos movimentos eugênicos das primeiras décadas do século XX, dos quais os desenvolvimentos iniciais da genética eram indissociáveis, passando pelos debates sobre a existência ou não existência de raças humanas e a substituição da categoria raça pela de população desde o período após a Segunda Guerra Mundial, até as revoluções nos diagnósticos, tratamentos e gestão da medicina provocadas pela genômica. O objetivo da pesquisa é o de desenvolver uma história da genética no Brasil, levando em consideração seus impactos sociais, econômicos e políticos. Procuraremos investigar as divergências políticas e as controvérsias científicas na história da genética, desde o movimento eugênico até o desenvolvimento da genômica, passando pela genética das populações humanas, especialmente no que diz respeito aos juízos antagônicos em relação à mistura racial. O mendelismo não resolveu as controvérsias em torno desse tema que vinha desde o século XIX, assim como as campanhas antirracistas levadas a cabo pela UNESCO no Segundo Pós-Guerra não resultaram no abandono absoluto de categorias racializadas nas teorias científicas nem, tampouco, das práticas racistas. Nosso projeto pretende enfrentar o desafio de desenvolver a pesquisa por meio de uma equipe que opere de forma efetivamente transdisciplinar, daí a reunião de historiadores das ciências, antropólogos, sociólogos, biólogos, geneticistas e educadores. Ao lado disso, somos desafiados a pensar no caminho sugerido por Peter Wade, que, baseado no debate contemporâneo da antropologia que põe em questão a dicotomia do pensamento ocidental entre nature (natureza) e nurture (cultura), argumenta que raça sempre tem sido como uma natural-cultural assemblage na qual natureza e cultura estão sempre moldando uma à outra, e as diferenças entre elas nem sempre são claras. Para pensar o racismo e confrontar o racismo a partir desse ponto de vista, consideramos que o método de Foucault pode ser uma ferramenta útil. Sua noção de racismo de estado, conectada ao seu conceito de biopolítica, é crucial para compreender como o racismo atravessa o século XX e o século XXI mesmo depois das teorias do racismo científico do século XIX serem completamente desacreditadas. O racismo persiste mesmo com todas as mudanças científicas, políticas, sociais e econômicas que marcaram o Ocidente desde o Segundo Pós-Guerra. Seguindo Foucault, a questão fundamental diz respeito a perceber em que momentos entra em operação, seja em bases predominantemente biológicas seja com suporte culturalista, uma maneira de cindir uma população em grupos distintos e, a partir daí, hierarquizar esses grupos.

Pesquisas em Genética Humana e em Genômica no Instituto Oswaldo Cruz: uma história (1980-2022)

Pesquisador responsável
Nara Azevedo

Resumo
Nossa pesquisa voltará os olhos para a história da Fiocruz, a começar pela formação do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular (DBBM), criado em 1980, sob a liderança de Carlos Medicis Morel, e que funcionou até o início dos anos 2000, além de dois laboratórios que permanecem em funcionamento: o Laboratório de Genética Humana, chefiado atualmente pelo geneticista Pedro Hernan Cabello Acero, e o Laboratório de Genômica Funcional e Bioinformática, coordenado por Wim Maurits Sylvain Degrave, todos eles do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). Por meio de entrevistas com os integrantes dos laboratórios e da visita aos laboratórios, bem como por meio da investigação da documentação relativa a sua história, pretendemos abordar a consolidação das abordagens e práticas biotecnológicas da genética humana nos anos 1990, e as pesquisas da nova genética, que promoveram novos olhares sobre a variabilidade biológica da espécie humana, novas técnicas de medicina genética e novos debates sobre identidades e novas possibilidades da genética na área da saúde. De forma articulada à pesquisa, o projeto visa desenvolver, em parceria com Museu da Vida (Departamento da Casa de Oswaldo Cruz, voltado para esse fim), atividades de educação e popularização da ciência voltadas para estudantes de ensino médio em visita ao MV, bem como o desenvolvimento de uma exposição. Pretendemos desenvolver também uma reflexão histórica sobre a bioética e a participação de pesquisadores da Fiocruz na elaboração de documentos que visam orientar as pesquisas na área.

A história da genética e dos estudos de população a partir da trajetória de Octávio Domingues (1897-1972)

Pesquisador responsável
Nara Azevedo

Resumo
O projeto se insere no estudo da história da genética e de seus impactos, tanto na agricultura e na economia quanto nos debates sobre raça e populações humanas. Seu objetivo é o de investigar essas questões por meio da trajetória de Octávio Domingues (1897-1972), seguindo o arco temporal que parte da sua formação como melhorista agrícola e como geneticista, nos anos de 1910 e 1920; passando por sua atuação como eugenista que buscava o melhoramento biológico da população brasileira, entre 1929 e 1945; chegando finalmente, no pós 1945, a sua identidade como zootecnista, com suas preocupações voltadas tão somente à agricultura e ao melhoramento da produtividade, sem mais se identificar ou ser identificado como geneticista ou eugenista. Na historiografia da genética, o nome de Octávio Domingues não tem um lugar central, a não ser como integrante da pré-história da genética moderna. Domingues ocupa um lugar secundário também na história da eugenia, enquanto é lembrado menos ainda no pensamento social brasileiro que aborda os debates sobre miscigenação da década de 1930 e 1940. O objetivo da pesquisa não modificar esse quadro, mas sim o de, a partir da trajetória de um cientista pouco conhecido, lançar luz sobre aspectos da história da genética e da agricultura, notando especialmente como o campo da genética passou por mudanças significativas.

História do Combate à Fome no Brasil: Ideias, Atores e Instituições (1946-1965)

Pesquisador responsável
Romulo Andrade

Resumo
A história do combate à fome no Brasil, em suas nuances políticas, técnicas e sociais, será o tema deste projeto. O recorte temporal privilegiado se inicia em 1946, quando este debate ganha maior relevância na agenda global de saúde pública . Interessa-nos aqui destacar as cooperações e interações entre as diversas instituições nacionais e internacionais que atuaram no combate à fome no Brasil. A emergência destes temas está relacionada diretamente às discussões do contexto da Guerra Fria, envolvendo os então chamados países desenvolvidos e subdesenvolvidos. Assim, a formação de padrões de nutrição e pobreza está inserida neste contexto local e global do pós-Segunda Guerra Mundial, com a agenda de saúde pública internacional sob a égide do “desenvolvimento”. Uma possível hipótese do presente projeto é que discussões internacionais vieram ao encontro de demandas locais, colaborando assim, na formatação e estruturação das políticas de combate à fome no Brasil. Datam deste período a criação de duas instituições de fundamental importância que atuaram no país: a Organização de Alimentação e Agricultura das Nações Unidas – FAO (1943) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância UNICEF (1946). Tema pouco explorado pela historiografia da saúde pública no Brasil, a interação entre estas agências internacionais e instituições locais resultaram em uma série de intervenções nas mais diversas regiões do país, como a distribuição de leite em pó, ações com foco em educação alimentar e no incentivo à formação de técnicos. Estas organizações também trabalharam em ações locais, como a Campanha Nacional de Alimentação, em 1952, além de colaborarem na elaboração de programas de saúde para projetos de desenvolvimento regional, como a Superintendência de Valorização Econômica da Amazônia SPVEA, em 1955 e a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste – SUDENE, em 1959. Estas agências entraram em contato com uma já sólida tradição de médicos locais que problematizavam a fome, em especial a partir dos anos 1930. Neste período, uma série de acontecimentos colaborou com a especialização e formação de uma estrutura básica para o combate à fome no país, como o surgimento da primeira cátedra de nutrição na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro (1930), a criação do Serviço de Alimentação da Previdência Social SAPS, além da publicação da emblemática obra “Geografia da Fome”, de Josué de Castro (1946). Para levar adiante os objetivos do projeto, lançaremos mão de relatórios, correspondências e entrevistas entre as agências envolvidas, utilizando o rico acervo disponível em instituições do Rio de Janeiro e em Brasília. Como objetivo secundário, buscaremos mapear outros autores, obras e reflexões sobre a temática da (má) alimentação no Brasil no século XX, através de artigos em periódicos especializados e em anais de congressos. Pretende-se aqui contribuir para os estudos envolvendo a saúde global e suas interações com demandas locais, buscando a compreensão de um período democrático, rico em debates, com encontros e possíveis desencontros de agendas e interesses.

O tempo presente na Fiocruz: ciência e saúde no enfrentamento da pandemia de Covid-19

Pesquisador responsável
Simone Kropf

Resumo
O presente projeto tem por objetivo analisar a atuação da Fiocruz no enfrentamento da Covid-19 por meio da percepção de um conjunto diversificado de atores envolvidos nesse processo que vem mobilizando a instituição em suas diversas áreas e setores. Sob os marcos teóricos e metodológicos da história do tempo presente e dos estudos sociais da ciência e da tecnologia, examinaremos tal experiência como caso emblemático para se pensar a historicidade e a dimensão social da ciência e da saúde. Num contexto marcado por incertezas e crises de diversas naturezas, trata-se de oportunidade ímpar para se observar as dinâmicas concretas pelas quais a ciência é produzida como atividade coletiva, que pressupõe disputas, controvérsias e acordos estabelecidos por meio de redes complexas e heterogêneas. Na medida em que a Fiocruz é percebida socialmente como emblema e ator fundamental para a credibilidade atribuída à ciência, pretendemos contribuir diretamente para o debate público sobre a importância da ciência e da saúde como elementos centrais para a democracia, tema que interpela a academia sobretudo considerando-se as ameaças que o discurso negacionista apresenta à ciência e às instituições. Além da pesquisa histórica, o projeto pretende produzir um acervo de entrevistas de história oral sobre a atuação institucional nesse período tão marcante na trajetória de 121 anos da Fiocruz.

A Interiorização Da Medicina Em São Paulo: A Faculdade De Medicina De Ribeirão Preto E Um Novo Modelo De Atuação Médica (1952-1964)

Pesquisador responsável
Tamara Vieira

Resumo
O objetivo central desta pesquisa é analisar a constituição da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), fundada no interior de São Paulo em 1952 como uma extensão da Universidade de São Paulo (USP). Para tanto tomarei por base a trajetória de três médicos que atuaram naquela unidade de ensino, quais sejam, Zeferino Vaz, José Lima Pedreira de Freitas e Fritz Köeberle, por considerá-las exemplares de alguns aspectos que pretendo destacar. Partindo da análise destas trajetórias, buscarei compreender os moldes em que se deu a organização e a consolidação da FMRP desde sua fundação até 1964 – último ano de Zeferino Vaz como diretor da instituição.

Saúde e Escravidão: doenças, maternidade e crianças escravizadas (Rio de Janeiro, 1830 a 1860)

Pesquisador responsável
Tânia Pimenta

Resumo
Propomos uma análise sobre as condições de vida de africanos e seus descendentes na Corte do Rio de Janeiro durante a 1a metade do século XIX, identificando as doenças a que estavam mais sujeitos, atentando para os cruzamentos entre gênero, faixa etária e etnicidade com destaque analítico para o grupo de mães e de crianças. Pretendemos aprofundar a análise em enfermidades e mortalidade de crianças escravizadas, consideradas até 12 anos inclusive, e, através dos resultados sobre crianças até 5 anos, em especial, aprofundar o debate historiográfico sobre a experiência de maternidade das escravizadas. As relações familiares e sociais dessas crianças serão investigadas a partir dos nomes dos proprietários. A partir da identificação de médicos e cirurgiões que atestavam a causa mortis, podemos problematizá-las relacionando os atestados com a formação e a experiência médica baseada no corpo de africanos e seus descendentes. Para tanto, utilizaremos como principais fontes primárias encaminhamentos de enterramentos e inventários post-mortem, além de artigos médicos sobre doenças associadas a africanos ou a escravizados, publicados em periódicos médicos. O resultado da análise busca contribuir para o campo de investigações em saúde e escravidão.

Enfermidades atlânticas: migrações, interseccionalidades e história digital: doenças, gênero, mortalidade e trabalho em cidades negras (Luanda, Rio de Janeiro, Havana, Salvador, Recife, São Luís e Porto Alegre, c.1790-1920)

Pesquisador responsável
Tânia Pimenta

Resumo
As experiências de formações sociais urbanas coloniais e pós-coloniais contemplaram contingentes populacionais diversos atraídos pela migração compulsória de africanos e também imigrantes europeus e asiáticos ao longo do século XIX e a primeira metade do XX. Levando em conta a força das cidades pós-coloniais e escravistas pretendemos esquadrinhar a circulação das doenças e práticas de cura e assistência médica, considerando a população africana, seus descendentes. Este projeto se insere no âmbito das Humanidades Digitais. Com base em registros seriais (fontes textuais) e iconografia pretende-se oferecer um atlas digital interativo sobre as epidemias e doenças endêmicas que marcaram as sociedades urbanas escravistas e com escravos ? coloniais e pós-coloniais, apontando para as interseccionalidades entre sexo, etnia e moradia. Serão destacados produtos como animação e sonorização de imagens e textos. O objetivo do projeto é aprofundar o conhecimento histórico e elaborar, a partir dele, produtos digitais para uso por escolas e para o público mais amplo sobre as condições de saúde de africanos e seus descendentes nas mais importantes cidades negras do Brasil, entre 1790 e 1920, atentando para as interseccionalidades e a dimensão atlântica dessas sociedades.

Cartografias epidemiológicas: doenças, espaços urbanos e escravidão atlântica, 1800-1900

Pesquisador responsável
Tânia Pimenta

Resumo
Propomos uma investigação histórica ? numa perspectiva comparada ? sobre as epidemias e doenças em áreas urbanas escravistas. Ao longo do século XIX, cidades atlânticas constituíram-se ainda mais como espaços de circulação de mercadorias, de trabalho vivo, das trocas de saberes e da proliferação de doenças, assim como de invenção de práticas de cura. Formas de trabalho compulsório, dimensões das culturas materiais e imateriais, migrações euro-africanas e epidemias organizaram-se em verdadeiros territórios e cartografias onde enfermidades, artes de curar, pensamento médico e nomenclaturas sobre doenças foram produzidas e se disseminaram. Ao mesmo tempo, instituições ganhavam força posto que a assistência era oferecida, na maior parte das cidades atlânticas no Brasil, pelas Santas Casas da Misericórdia, em geral, subsidiadas pelo Estado Imperial. Estas instituições, assim como as Igrejas e os cemitérios constituíram as maiores bases seriais de registros textuais sobre doenças, enfermidades e epidemias no Brasil pós-colonial. Este projeto (reunindo pesquisadores de várias instituições nacionais e internacionais) propõe pesquisas, estudos, plataformas digitais e investigações empíricas tendo como principais eixos: a) esquadrinhar espaços urbanos e suas conexões atlânticas em torno das doenças e das migrações africanas; b) investigações sobre interseccionalidades das epidemias e as cartografias das doenças/enfermidades conectadas entre partes das Américas e Áfricas, especialmente considerando as nomenclaturas e padrões de mortalidade; c) análises sobre experiências e circulação de ideias e saberes em torno de médicos, viajantes, letrados, curandeiros, boticários, parteiras, barbeiros sangradores africanos a partir dos espaços de moradias e territórios do trabalho em áreas urbanas brasileiras oitocentistas como Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Belém, Porto Alegre e São Luís e também naquelas de Havana (Cuba) e Luanda (Angola).