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Claudio Amaral e a Erradicação da Varíola

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Personagem importante para a eliminação da varíola no Brasil, ainda jovem Cláudio Amaral, médico, nascido em Araraquara, abraçou a saúde pública como causa política e social e assumiu a erradicação da varíola como seu primeiro projeto de atuação profissional. 

Na década de 1960, foi criada a Campanha de Erradicação da Varíola: a imunização da população ocorreu em praças, parques, postos de saúde, residências e estradas e a pistola de pressão para aplicação da vacina substituiu métodos anteriores, permitindo vacinar um maior número de pessoas em curto espaço de tempo.

Cláudio Amaral coordenou a campanha nos estados do Maranhão, Pernambuco, Paraná e Rio de Janeiro, onde acompanhou os últimos casos da doença, sendo responsável por preparar a documentação para a certificação da erradicação em território nacional.

No Brasil, a atuação da OPAS e da OMS foi central para o alcance desse objetivo, influindo na alteração das diretrizes institucionais do Ministério da Saúde sobre as ações envolvidas no combate à doença. Em 1973, uma comissão internacional certificou que a transmissão da doença havia sido interrompida no país. 

As experiências e contribuições de Cláudio Amaral não se limitaram ao Brasil. Consultor da Organização Mundial da Saúde (OMS) na Índia, trabalhou na Etiópia de 1976 a 1980, onde presenciou os últimos casos de doença no mundo. A varíola se constitui na primeira e única doença cujo controle atingiu a erradicação mundial. 

O controle de doenças sempre marcou sua perspectiva profissional atuando, além da varíola, em ações na poliomielite, na AIDS e na tuberculose.

ENTREVISTAS

Em entrevista concedida à Casa de Oswaldo Cruz,  sob a coordenação dos pesquisadores Tania Maria Dias Fernandes e de Gilberto Hochman,  Cláudio Amaral fala de sua trajetória, que se confunde com a história da erradicação da varíola no Brasil.

Além do reconhecimento de um destacado personagem da saúde pública brasileira, a entrevista permite a apreciação da narrativa de uma trajetória descrita com entusiasmo e detalhes do cotidiano de relações políticas e sociais que envolveram a erradicação da varíola no Brasil e em outros países.

A varíola foi a primeira importante doença a ser erradicada. Em 08 de maio de 1980, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou oficialmente que o mundo estava livre da varíola e o feito foi considerado a maior conquista de saúde pública da história da humanidade.

Doença infectocontagiosa causada pelo vírus Orthopoxvirus variolae, a varíola causou a morte de mais de 300 milhões de pessoas ao redor do mundo ao longo do século 20. No Brasil, em 1970, faixas convocam a população a se vacinar contra a doença.

O médico Claudio do Amaral teve importante atuação no processo de erradicação da varíola no Brasil, na Etiópia e na Índia. Ainda jovem e recém-formado, engajou-se no processo de erradicação varíola de caráter nacional, quando a Campanha de Erradicação da Varíola (CEV), era coordenada pelo médico Oswaldo Silva, iniciando seu trabalho no estado do Maranhão. Neste período seguia-se, ainda, o modelo campanhista de mobilização social para adesão às práticas sanitárias vigentes.

Como aporte para sua operacionalização seguia a orientação clássica da educação sanitária, ditada naquele momento, afinada com o projeto político vigente, que imprimia um cunho disciplinar às práticas de saúde, e se sustentava pela lógica da indução à mudança de comportamento, e da inculcação do medo à doença, como estratégia amplamente utilizada em várias ações ministeriais. No caso da CEV a educação sanitária se alinhava com a estratégia da vacinação ‘em massa’ como forma de assegurar a manutenção de altos índices de imunização populacional.

A partir de 1967 a OMS alterou sua estratégia para o alcance da eliminação da doença, que se baseava na garantia de índices de cobertura vacinal entre 80 a 85%, passando a assumir ações de vigilância epidemiológica e de vacinação de bloqueio, para alcançar a erradicação mundial, sob a coordenação do médico Donald Henderson.

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Com atuação de destaque para a erradicação da varíola em território brasileiro, a Casa possui uma preciosidade de Cláudio do Amaral Júnior que ajuda a contar essa história dessa empreitada: são 14 metros de documentos textuais e farta iconografia, composta por mais de 1.600 itens entre fotografias, slides e cartazes situados entre 1942 e 2001, o fundo Cláudio Amaral pode ser consultado on-line na base Arch.

 

O acervo do sanitarista, assim como o conteúdo auditivo e transcrito da entrevista na íntegra,  também está disponível para consulta na Sala de Consulta no Centro de Documentação e História da Saúde da Casa (Av. Brasil, 4365 - Manguinhos, Rio de Janeiro). 

 

Cláudio do Amaral faleceu em 10 de outubro de 2019.

A partir de 1969, com a instalação das Unidades de Vigilância Epidemiológica, a Fundação SESP assumiu a responsabilidade por estabelecer e coordenar a Fase de vigilância e de manutenção do projeto de eliminação da varíola no Brasil. Sob a coordenação de Nelson de Morais, a Fundação SESP preconizava uma modificação da estratégia assumida pela CEV até então, com a priorização da vacinação de bloqueio, também chamada de “casa a casa”, ou no próprio posto de saúde.

Como coordenador da CEV, Cláudio defendia a aproximação com as escolas e a vacinação “em massa”, em contraponto à vacinação por meio da busca individual, “casa a casa”. Todavia, foi durante a sua coordenação que a estratégia de vacinação de bloqueio para erradicação da varíola se desenvolveu de forma pioneira, em três estados do Brasil (Bahia, Minas e Paraná), em que a vacinação em massa ainda não tinha acontecido. 

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Nestes locais foi possível fazer uma atuação diferenciada, na qual a vigilância epidemiológica, somada à vigilância de notificação, contribuíram para a erradicação da varíola e para o estabelecimento de ações posteriores para o controle de outras doenças transmissíveis, com a criação do Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica (SNVE), em 1975.

Sob a coordenação de Cláudio do Amaral a execução da CEV durou até a década de 1970 quando alcançou a erradicação da doença.

 O último caso de varíola foi registrado em 1971 e, dois anos depois, foi certificada pela OMS a completa erradicação da varíola no Brasil. O exemplo do programa brasileiro para erradicação da varíola foi considerado referência pela OMS e influenciou o estabelecimento de programas contra esta doença em outras partes do mundo. Internacionalmente, o último registro da doença foi anunciado em 1977 e, a partir de então, a varíola foi considerada mundialmente erradicada.

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