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Experiente na preservação de acervos fotográficos, historiadora fala a alunos sobre o papel da imagem na história

02 dez/2010

 

Dedicada a pesquisar, organizar e a montar exposições, bem como desenvolver projetos de preservação de acervos de imagens, a historiadora Maria Inêz Turazzi falou de sua trajetória profissional aos alunos do curso de especialização em Preservação e Gestão do Patrimônio Cultural das Ciências e da Saúde.

Graduada em história, Inêz Turazzi é doutora em arquitetura e urbanismo e foi a responsável pelo seminário especial “Acervos de imagens — uma experiência de pesquisa e curadoria”, quando dividiu sua apresentação em duas partes.

Primeiro, descreveu sua trajetória de pesquisadora e depois falou sobre a curadoria de acervos e exposições. Para ela, as duas frentes se complementam: ”hoje, todo pesquisador deve pensar e se preocupar com a preservação de bens culturais”, destacou, acrescentando que “a curadoria pressupõe a produção de conhecimento, a preservação”.

 

Na pesquisa, ela já atuou em várias frentes, seja como aluna, durante o período em que fez o doutorado, seja como responsável pelo arquivo histórico do Museu da República. Foi lá que ela descobriu um novo universo de informações preciosas, como o conjunto de fotografias de Augusto Malta, que retratava uma exposição internacional ocorrida no Rio de Janeiro, em 1908.

 

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“Eu nunca tinha ouvido falar sobre aquela exposição; desconhecia as imagens surpreendentes, que me fizeram despertar um grande interesse pelo papel da imagem na história”, destacou Inêz. Naquele período — entre 1976 e 1981 — “a historiografia era centrada em economia e política marxista”.

 

Os historiadores brasileiros daquele período ainda não interessavam-se pelos conjuntos fotográficos em seus estudos históricos.

Até o início da década de 1980 as imagens como fonte de informação nas pesquisas historiográficas não eram valorizadas. Hoje, isso é diferente, com o crescente valor da iconografia e a preocupação com a preservação de acervos e coleções artísticas.

Ao descobrir o arquivo de imagens de Malta sobre a exposição de 1908, Inêz solicitou e ganhou, em 1984, uma bolsa de estudos da Fundação Vitae, que apóia projetos nas áreas de cultura, educação e promoção social para estudar a presença do Brasil nas exposições internacionais, entre 1862 e 1869.

 

Depois, a historiadora fez seu doutorado, cujo objetivo foi documentar as obras públicas de engenharia no século XIX, iniciativa que resultou em As artes do ofício: a fotografia e a memória da engenharia no século XIX. “Trabalho de maior fôlego”, segundo a autora que, ao fazer a pesquisa “sabia que estava preenchendo uma lacuna, pois a história da fotografia ainda era muito incipente; o papel das imagens fotográficas na cultura técnica estava por ser feita.”

 

Ao longo do doutorado, finalizado em 1998, ela coletou imagens que documentam a formação de engenheiros no Brasil e em países da Europa, depois montou uma exposição em 2005 sobre a troca de experiências entre engenheiros brasileiros e franceses e publicou um livro sobre a ferrrovia Paranaguá — Curitiba.

 

“As imagens têm um papel importante na construção da memória coletiva de um grupo de engenheiros que trabalharam em obras públicas durante o império”, ela sustenta. Segundo Inêz, “o imperador forjou sua imagem de homem ilustrado, preocupado com o desenvolvimento e o progresso, a partir das fotos em que aparecia em situações simbolizando melhoramentos, desenvolvimento”.

 

Inêz também é uma estudiosa das fotos de Marc Ferrez, que documentou não apenas as obras de engenharia no século XIX, mas também retratos, que era um hábito da época e era uma fonte de renda. Ele também montou um portfolio do Rio de Janeiro, em paisagens panorâmicas. Essas fotos compõem uma edição organizada pela historiadora, publicada pela Cosac Naify em 2000.

 

Na segunda parte de sua aula-apresentação, Inêz falou sobre a curadoria de uma coleção que inclui livros, quadros, coleções de objetos, móveis, toda uma casa doada em vida ao Museu Imperial pelo casal Maria Cecília e Paulo Geyer. A historiadora destacou que, “atualmente, a curadoria envolve a produção de conhecimento, ou seja, a pesquisa, bem como a preservação”.

 

No momento, Inêz Turazzi coordena os trabalhos de organização da brasiliana da família Geyer que, um dia, constituirá um museu aberto ao público, na própria casa no Rio de Janeiro. Conhecida como “ferro de passar” pelo formato, a casa fica no Cosme Velho, onde ainda vive a viúva do patriarca — nos últimos anos, ela tem questionado parte da doação, da qual participou com o marido, em 1999. Mais informações podem ser obtidas na página eletrônica do Museu Imperial ou no email casageyer@museuimperial.gov.br