“Discutir a gestão das informações em instituições públicas de saúde passa por dimensões estratégicas como a determinação do papel do estado, da relação entre público e o privado, e de um modelo de governança e de gestão da Informação e Tecnologia de Informação em Saúde (ITIS)”. Partindo dessa afirmação, a coordenadora do Observatório de Tecnologia, Informação e Telessaúde e pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp) da Fiocruz, Ilara Hämmerli Sozzi de Moraes, apresentou um panorama sobre as questões mais atuais sobre informação e saúde. A palestra ocorreu durante o V Fórum Arquivístico, em 14 dezembro, no encerramento do curso de atualização em gestão de documentos em instituições de saúde.
O Vice-Diretor da COC, Paulo Elian, apresenta a palestrante durante a abertura do Fórum. |
Ilara explicou que a informação em saúde não tem dado conta da complexidade dos processos atuais de saúde/doença/cuidado e em vez de cumprir seu principal objetivo – facilitar – tem se tornado um aspecto limitador à capacidade do Estado de oferecer respostas e soluções. Para ela, isso acontece em parte porque espelha as próprias contradições da saúde: a fragmentação, onde o suporte e o conteúdo são dissociados, apesar da tendência mundial à convergência, e a hierarquização, em que o modelo clínico-hospitalar é o mais valorizado.
Longe de ser uma “técnica neutra”, a ITIS reproduz os interesses em jogo e a pressão do mercado da computação e das telecomunicações. Para Ilara, o Sistema Único de Saúde (SUS) transformou-se em mercado consumidor dessas tecnologias: “Observa-se um processo de sucateamento das instâncias públicas de gestão da informação e informática em saúde, fortalecendo a tendência pela opção à terceirização sem critérios técnicos transparentes, com controle escasso dos serviços terceirizados e a caracterização do lock in, ou seja, a dependência das empresas fornecedoras”.
A palestrante afirmou que a informação em saúde sofre pressão do mercado. |
Segundo a pesquisadora, a opção reflete a posição adotada pelos governos de manter um estado mínimo. O SUS se insere nos mercados como parte do complexo econômico industrial da saúde. “Dessa forma, já não há conflito de interesses entre público e privado. O Sistema Único de Saúde passou a ser visto como um plano de saúde com pouca qualidade voltado pobres, algo que foge totalmente ao conceito de universalidade e equanimidade que rege a sua criação”, ressaltou.
“É crucial a discussão do papel do estado na defesa dos interesses públicos da saúde”, afirmou Ilara. Esses debates devem incluir o modelo de desenvolvimento em implantação no país e qual a inserção da Saúde e do SUS no processo brasileiro do capitalismo globalizado. “Para isso, é necessário adotar um pensamento crítico sobre a atual práxis em saúde – fragmentada, hospitalocêntrica, não constitutiva de uma rede de atenção integral, hierarquizada e regionalizada – e ver a informação como um bem estratégico”, concluiu.