Compreender a ideia de saúde global, a partir de intervenções sanitárias ocorridas nas Américas foi o foco do Seminário Saúde Internacional/Saúde Global: perspectivas históricas da América Latina e do Caribe, realizado nos dias 28 e 29 de junho na Casa de Oswaldo Cruz. “Entre os nossos objetivos estava a discussão sobre o lugar da história nesta análise das relações internacionais no campo da saúde. Também contávamos com a possibilidade de refletir sobre a precoce inserção da América Latina e do Caribe nessas relações”. As observações são do pesquisador Gilberto Hochman, que organizou o encontro científico em parceria com o pesquisador visitante Marcos Cueto.
Na sessão de abertura, a diretora Nara Azevedo chamou atenção para a “diversidade temática do seminário, que revela uma visão panorâmica sobre a riqueza e a complexidade da região,” destacando ainda que eventos como esse demonstram o amadurecimento da Casa de Oswaldo Cruz, que completa 25 anos em 2012.
Nara também ressaltou a importância de a Casa de Oswaldo Cruz atrair o interesse de mais pesquisadores e alunos ao Programa de Pós-graduação, para estudar temas rastreados pelo Observatório História e Saúde, que integra a Rede ObservaRH. A Casa participa dessa iniciativa, capitaneada pela Organização Pan-Americana da Saúde, que reúne 21 países das Américas, monitorando tendências que afetam as políticas de recursos humanos.
Os pesquisadores de diversos países das Américas e da Europa convidados a fazer palestras durante o seminário distribuíram-se por quatro mesas-redondas ao longo dos dois dias e debateram as múltiplas abordagens dos seus estudos, com pesquisadores e estudantes.
Reformas iniciadas no século 18 dão origem a açõesglobais de combate a doenças
Os primeiros temas a serem discutidos no seminário internacional sobre saúde internacional/saúde global incluíram a medicina colonial espanhola nos Andes no século 18; a diversidade de noções sobre formas de contaminação e a imunidade à febre amarela no Caribe, entre 1764 e 1901 e ainda os estudos sobre a ancilostomíase no Brasil no início do século 20, que teriam dado origem a campanhas de saúde muito mais abrangentes.
Steven Palmer, Adam Warren, Simone Kropf e Marcos Cueto. Foto de Roberto Jesus Oscar. |
Professor de história latino-americana da Universidade de Washington, Adam Warren falou sobre a medicina e a política colonial no Peru, seu crescimento populacional e as reformas dos Bourbons, no século 18. Segundo ele, essas reformas visavam o aumento da produção e da renda obtida com o trabalho na Espanha. “Os esforços dos Bourbons visavam tornar as colônias produtivas, daí terem incentivado as reformas médicas, que eventualmente deram origem à saúde internacional e a campanhas de saúde global”.
O estudo da professora de história da medicina da Universidade de Yale, Mariola Espinosa, sobre as noções de imunidade à febre amarela no Caribe entre a segunda metade do século 18 e o início do século 20, foi apresentado por Marcos Cueto. A autora questiona a noção de que a raça negra tivesse resistência inata à febre amarela, o que possivelmente pode ter contribuído para a adoção da prática de escravizar africanos na região.
Professor do Departamento de História da Universidade de Windsor, no Canadá, Steven Palmer discutiu a ancilostomíase e os primórdios da saúde global no Brasil. Ele mostra como médicos e cientistas brasileiros participaram ativamente de uma rede global, em que os profissionais da Fundação Rockefeller tiveram um papel importante no combate à ancilostomose.
Cobertura da tarde de 29/06 | Palestras de Jorge Lossio, Raul Necochea e Iris Borowy
Hist. cienc. saude-Manguinhos v.9 supl.0 Rio de Janeiro 2002
Hist. cienc. saude-Manguinhos v.13 n.3 Rio de Janeiro jul./set. 2006
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