Foto: André Az. |
A pandemia de Covid-19 evidenciou o papel da arquitetura e do urbanismo para a saúde e trouxe à tona a necessidade de se retomar medidas fundamentais relacionadas aos hospitais, avalia o urbanista e pesquisador da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), Renato Gama-Rosa.
“A questão da ventilação e a insolação naturais, e a renovação mecânica do ar contaminado” são soluções que “foram esquecidas” nos hospitais de hoje e que “precisam ser recuperadas”, detalha o arquiteto, um dos responsáveis pela organização local do 40º Seminário do Public Health Group (UIA-PHG 2021), a ser realizado entre os dias 20 e 22 de julho de 2021.
O 40º Seminário integra as atividades do 27º Congresso Mundial da União Internacional de Arquitetos (UIA), que será realizado pela primeira vez no Brasil, no período de 18 a 22 de julho, no Pier Mauá, na zona portuária do Rio, com o início da programação de conferências virtuais já neste mês de março.
Com o tema “Todos os mundos. Um só mundo. Arquitetura 21”, o mais importante evento da área reunirá destacados nomes do setor para analisar e apresentar soluções para problemas globais e locais. Foto do Castelo da Fiocruz: André AZ.
O seminário internacional busca contribuir para a maior eficiência, segurança e qualidade dos edifícios de saúde e do meio urbano, por meio da dedicação e interesse de pesquisa de seus participantes profissionais e acadêmicos. Pretende, também, proporcionar conhecimento para a construção de um modo de vida mais saudável dos pacientes e da população, assim como para a satisfação dos trabalhadores da área da saúde, arquitetos, urbanistas, engenheiros, consultores, administradores e organizações de saúde dos setores públicos e privados.
Gama-Rosa frisa a importância da participação da Fiocruz no 40º Seminário, que reúne um dos grupos temáticos da União Internacional de Arquitetos (UIA), no caso, o de saúde pública. A fundação é coorganizadora do evento, juntamente com o Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) e a Associação Brasileira para o Desenvolvimento do Edifício Hospitalar (ABDEH).
"[A participação] se soma à experiência e às preocupações da Fiocruz com o tema, e à sua missão de buscar melhores condições de vida de nossa população urbana, especialmente, os mais vulneráveis", afirma Gama-Rosa, coordenador do mestrado profissional em Preservação e Gestão do Patrimônio Cultural das Ciências e da Saúde da Casa COC/Fiocruz.
O seminário internacional abordará os temas Saúde e Cidades e Arquitetura para a Saúde, com destaque para questões que estejam mais associadas à pandemia da Covid-19. A escolha do recorte Saúde e Cidades tem participação direta do grupo brasileiro, enfatiza Gama-Rosa. Segundo ele, o assunto surgiu em razão da pandemia, porém, não se esperava na ocasião que a Covid-19 ganhasse proporções tão gigantescas.
"Quando pensamos no seminário, não adivinhávamos o que estava por vir. Apenas intuímos, na ocasião, que poderíamos contribuir com outros temas para discussão da arquitetura mundial. Nossa aposta se mostra cada vez mais necessária. O grupo mundial, com sede nos EUA, sempre discutiu muito a questão dos projetos hospitalares, mas nossa insistência em tratar, também, da relação da saúde com o meio urbano foi aceita e, hoje, é o que mais se fala atualmente. Acertamos na nossa aposta", comemora o pesquisador da COC/Fiocruz.
Interessados em submeter resumos e projetos ao 40º seminário têm até o dia 15 de março para inscrever seus trabalhos. Informações adicionais podem ser obtidas no site oficial do evento: [https://www.uia2021rio.archi]
Acompanhe a entrevista completa com o arquiteto, urbanista e pesquisador da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), Renato Gama-Rosa, que integra a coorganização do evento.
Dentro do tema arquitetura para a saúde, que pretende discutir experiências em torno da formação e da prática profissional de arquitetos envolvidos com saúde, é possível unir a intervenção com a preservação?
Essa sempre foi a grande questão para mim que estuda o patrimônio hospitalar. Acho possível conciliar, mas deve haver uma conscientização dos envolvidos no processo para que isso seja efetivado. Falo dos arquitetos de hospitais [alguns deles já passaram pelo nosso mestrado da COC e pelas aulas que ministro na Pontifícia Universidade Católica (PUC), por exemplo]; dos administradores de hospitais; de quem faz as regras de intervenção e procedimentos técnicos nos hospitais, como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), etc.
Quais aspectos a pandemia do coronavírus pode ajudar a melhorar a construção de novos hospitais e demais unidades dedicadas à saúde, no conceito da Organização Mundial da Saúde?
Penso que a questão da ventilação e a insolação naturais, e a renovação mecânica do ar contaminado sejam as grandes contribuições, além de mecanismos de isolamento do ar insalubre, pessoas infectadas. Soluções que precisam ser recuperadas nos hospitais de hoje e que foram esquecidas.
Qual a importância das equipes multidisciplinares para o processo de trabalho no campo da saúde?
A equipe multidisciplinar é super necessária. A partir dos anos de 1950, os arquitetos passaram a assumir a direção dos grandes projetos hospitalares, mas ouvindo os médicos, a enfermagem, os engenheiros estruturais, elétricos, mecânicos etc.
Com relação ao tema saúde e cidades, o que o podemos esperar do 40º Seminário UIA-PHG 2021?
Esse tema surgiu com destaque nos últimos meses por conta da pandemia. Quando pensamos no seminário, não adivinhávamos o que estava por vir. Apenas intuímos, na ocasião, que poderíamos contribuir com outros temas para discussão da arquitetura mundial. Nossa aposta se mostra cada vez mais necessária. Mesmo a questão urbana foi uma insistência do grupo brasileiro, por entendermos que esse é assunto extremamente necessário no Brasil. O grupo mundial, com sede nos EUA, sempre discutiu muito a questão dos projetos hospitalares, mas nossa insistência em tratar, também, a relação da saúde com o meio urbano foi aceita e, hoje, é o que mais se fala atualmente. Acertamos na nossa aposta.
Por que é importante a participação da Fiocruz neste evento internacional?
Isso se soma à experiência e às preocupações da Fiocruz com o tema, e à sua missão de buscar melhores condições de vida de nossa população urbana, especialmente, os mais vulneráveis.
Ilustração: Silmara Mansur/iStock. |