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Sem rumo, cidades recorrem a tombamento para garantir preservação

23 set/2013

Em entrevista ao site da Semana, a arquiteta, urbanista e historiadora Margareth Pereira, da UFRJ, diz que o tombamento acaba sendo usado em larga escala para salvar bens que poderiam ser protegidos por ferramentas de urbanismo.

 

Margareth Pereira

Para Margareth Pereira, o desafio é a integração: “Precisamos construir pontes entre os serviços de preservação do patrimônio e o urbanismo”.

 

Na contramão de metrópoles como Roma, Paris, Berlim e Nova York, as grandes cidades brasileiras têm recorrido em grande escala ao tombamento para regular questões que poderiam ser geridas por instrumentos de urbanismo. O fenômeno é chamado de patrimonialização. Na falta de uma educação patrimonial plena, serviços de urbanismo eficazes e autoridades conscientes de seu papel, tombam-se bens de valor histórico, cultural ou artístico no País como forma de preservá-los. Quem explica o processo é a arquiteta, urbanista e historiadora Margareth Pereira.

 

“No Brasil, nem consideramos que a cidade é um patrimônio”, analisa ela em entrevista ao site da Semana Flumi-nense do Patrimônio. Atualmente, Margareth coordena o Programa de Pós-Graduação em Urbanismo da Universi-dade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Crítica da expansão desenfreada das nossas capitais rumo a novas frontei-ras – como o caso da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro -, Margareth defende que sejam priorizados investimentos que aumentem a ocupação de áreas já consolidadas e com acesso a sistemas de transporte como metrô e trem. “Precisamos adensar a cidade e racionalizar os investimentos”, diz a urbanista.

 

Esta edição da semana trouxe o tema Patrimônio cultural: valores em risco. Quais são os principais riscos ao patrimônio hoje?

 

Há riscos de duas naturezas. A primeira vem do momento de grandes transformações urbanas que a cidade está sofrendo, de uma série de acúmulos de iniciativas relativas ao crescimento urbano, que, às vezes, por falta de plane-jamento ou de uma visão integrada, coloca em risco nossos bens culturais. Essa série de riscos também inclui as mudanças ambientais e climáticas. Uma segunda natureza de riscos advém dos poucos debates que temos tido na academia – e de modo mais alargado (na sociedade) – sobre o que é esse fenômenos de patrimonialização que temos vivido. Precisamos pensar sobre o movimento de cristalização da nossa memória coletiva em objetos, sob pena de, ao não fazê-lo, não sermos capazes de sensibilizar as nossas autoridades para a salvaguarda desses bens. Talvez o risco do patrimônio seja culpa nossa – academia, gestores de patrimônio, nós, que estamos organi-zando uma Semana Fluminense do Patrimônio. Temos de apurar mais os nossos instrumentos de reflexão, ação e alerta.

 

Confira a íntegra da entrevista no site da Semana Fluminense do Patrimônio.