A luso-brasilidade é um dos principais temas das pesquisas da historiadora Lucia Maria Paschoal Guimarães, professora do Departamento de História da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Ela veio ao Encontro às Quintas apresentar seu projeto sobre revista Atlântida (1915-1921), publicação dirigida por João de Barros, em Portugal, e Paulo Barreto, o João do Rio, no Brasil.
Segundo Lucia Guimarães, no início do século XX, houve um processo de aproximação entre Brasil e Portugal, empreendido por intelectuais e diplomatas das duas nações, que visava à formação de uma comunidade luso-brasileira, e acabou culminando na criação da Revista. A historiadora explicou, porém, que este projeto contrastava com a visão negativa da colonização portuguesa, tão disseminada entre outros segmentos da intelectualidade brasileira. Eles identificavam nas raízes ibéricas um obstáculo à construção de uma ordem republicana liberal, assim como muitos cientistas as compreendiam como um empecilho à formação de uma cultura científica no país.
A sócia titular do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) contou que o entrosamento entre João de Barros e João do Rio pautou-se, entre outros aspectos, nas fortes afinidades com o Regime Republicano. Nas palavras de Lucia Guimarães, “João de Barros considerava importante erguer um continente moral e cívico entre Brasil e Portugal”. Na visão da historiadora, “o nome da revista foi ideia de João do Rio, inspirado no continente perdido”.
Arquivo pessoal
Ela informou ainda que a redação e impressão da publicação eram realizadas em Portugal e caracterizava-se pelo bom padrão gráfico, boa editoração e formato sóbrio. Continha ainda ilustrações e vinhetas artísticas de qualidade. O conteúdo privilegiava majoritariamente o campo das letras – poesia e prosa, mas também apresentava artigos sobre arquitetura, belas artes, história, educação, política, além de biografias.
Para Lucia Guimarães, a saída de cena da revista não representou o fim do projeto, pois apesar do falecimento precoce de João do Rio, João de Barros e a rede de intelectuais luso-brasileira continuaram a influenciar gerações. “A continuidade da revista é a CPLP”, disse ela, referindo-se à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, criada em 1996, em Lisboa, após vários encontros dos chefes de Estado dos países de língua portuguesa: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.
Entre as linhas de pesquisa que Lucia Guimarães desenvolve, destacam-se história da historiografia; cidadania, cultura e história; nação e cidadania e relações luso-brasileiras. Ela coordena, desde 1997, o grupo de pesquisa (CNPq) Idéias, cultura e política na formação da nacionalidade brasileira e atua como pesquisadora principal do projeto Dimensões da cidadania no século XIX, dirigido por José Murilo de Carvalho, que conta com apoio do Pronex/CNPq/Faperj.