“Os jovens não lêem mais jornais. Com o avanço da Internet nos últimos anos, os jornais vêm perdendo audiência. Atualmente, com a profissionalização da publicidade, há uma tendência à medicalização da ciência nas notícias veiculadas”.
Essas foram algumas das conclusões do professor Martin W. Bauer, do Instituto de Psicologia Social e Metodologia de Pesquisa da London School of Economics, durante o seminário “Jornalismo científico: uma atividade em crise?”, realizado em 11/04 pelo curso de especialização em Divulgação da Ciência, da Tecnologia e da Saúde do Museu da Vida.
Segundo Bauer, a notícia científica não é estável. “A longo prazo, o que está mudando é a base de produção dessas notícias. No início do século 20, os cientistas eram os responsáveis pelas notícias. A partir dos anos de 1960, passou às mãos do jornalista científico”, afirmou.
“Na Inglaterra, em 1985, havia 786 jornais, e em 2005, 741“. Foto: divulgação COC
As notícias científicas, conforme o professor, estão sendo produzidas de forma diferente, mediadas por processos políticos e interesses econômicos. “O jornalista científico deve buscar a confiabilidade, a coerência das notícias. Deve se tornar independente para conquistar o ethos crítico”, disse.
Bauer apontou alguns aspectos que levam à crise da comunicação da ciência, entre eles a intensidade da produção de cada jornalista, o modo como são produzidas as notícias e as condições de emprego. Destacou ainda que na Inglaterra o mercado de trabalho para jornalista científico é precário. Segundo ele, “nos últimos cinco anos, 21% dos jornalistas perderam o emprego”.
O professor também falou sobre a atuação dos profissionais de relações públicas e dos jornalistas científicos. Segundo ele, o primeiro produz press release com informações imbuídas de interesses da sua instituição. “Cabe ao jornalista científico investigar a veracidade de tais informações”, disse. Para Bauer, a Internet facilita este trabalho.
Quanto à crise do jornalismo científico, ele afirma que esta não é global. “Nos Estados Unidos e Inglaterra se fala em crise, mas no Brasil, Índia e China isso não acontece. Nesses países o povo é mais otimista quando falam no futuro da profissão”, disse ele.