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Pesquisadora discute papel da Organização da Saúde da Liga das Nações no período entreguerras

24 ago/2012

 

A ideia de que a equidade na saúde e o bem-estar social poderiam reduzir conflitos sociais internos e ajudar na prevenção de guerras foi o motor da criação da Organização da Saúde da Liga das Nações, embrião da atual Organização Mundial da Saúde. O papel desta organização no panorama da saúde internacional no período entreguerras e seu método de trabalho foram apresentados pela professora e pesquisadora Íris Borowy, da Universidade de Rostock, da Alemanha, durante o Encontro às Quintas, no dia 16 de agosto.

 

A palestra abriu oficialmente o segundo semestre de 2012 e foi realizada ,excepcionalmente, no auditório do Museu de Astronomia (Mast). “O objetivo é estreitar ainda mais os laços entre a Casa de Oswaldo Cruz e o Museu, parceiros na área da história das ciências”, explicou Robert Wegner, organizador do programa.

 

A palestrante apresentou um período complexo da história que sinalizava com obstáculos, e também com oportunidades, a criação de um órgão central e integrador das informações da saúde mundial. “Se no pós-guerra havia a preocupação com a soberania, a hostilidade entre países e um nacionalismo muito forte, por outro lado, afloravam questões como a urgência de se conter as epidemias de doenças infecciosas, a busca de uma padronização biológica e a necessidade científica de cooperação internacional. Isso alavancou o desenvolvimento do organismo”, explicou.

 

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Robert Wegner, coordenador do Encontro às Quintas, Marta Almeida,
coordenadora de Pesquisa em História da Ciência do Mast, e Íris Borowy,
pesquisadora da Universidade de Rostock.

A Organização de Saúde da Liga das Nações tornou-se, então, um núcleo de convergência de especialistas, que foram capazes de enxergar além dos limites da política nacional e desenvolver políticas de saúde pública. Segundo Íris Borowy, “havia muito idealismo entre seus membros, a participação de cientistas com personalidades influentes e o apoio econômico da Fundação Rockefeller, que proporcionou mais autonomia em suas realizações”.

 

A Organização possuía dois instrumentos principais de trabalho: o Comitê de Higiene, instância decisória, e a Secretaria. A maior parte dos seus colaboradores estava localizada na Europa. Entre 1921 e 1946, ela foi a responsável pela elaboração de estatísticas sanitárias, padronização biológica e o controle de doenças. Organizou intercâmbios internacionais de médicos especialistas e apoiou o estabelecimento de sistemas de saúde pública na Grécia, China e Bolívia. Desse modo, construiu a identidade de uma organização global de saúde como instituição de referência em todo o tipo de assunto sanitário e com trabalhos no campo da medicina social, em que desenvolveu projetos fundamentais de higiene rural, habitação, alimentação e saúde infantil.

 

Por mais que não tenha ocupado um papel mais decisivo nos rumos da saúde global – evitando questões que demandassem uma reforma mais contundente, e limitando-se a apoiar estudos e pesquisas, a Organização de Saúde da Liga das Nações foi revolucionária à sua época. “Pela primeira vez, reconheceu-se que não era suficiente conter a propagação das infecções e que o conceito de saúde era mais amplo e passava pela discussão dos aspectos sociais”, concluiu a pesquisadora.