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Palestra sobre hospedarias de imigrantes no Brasil entre 1880 e 1910

06 jun/2012

O Programa de Pós-graduação em História das Ciências e da Saúde e o curso de especialização em Preservação e Gestão do Patrimônio Cultural das Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz organizam a palestra “As hospedarias de imigrantes: um dispositivo esquecido no caminho da emigração para o Brasil (1890-1910)”, com o historiador da Universidade La Rochelle Laurent Vidal e a geógrafa da Universidade Federal de Viçosa Maria Isabel de Jesus Chrysostomo. No dia 13 de junho, às 10h, na sala 407 do Prédio da Expansão da Fiocruz: Avenida Brasil, 4036 – Manguinhos. Não é necessário fazer inscrição.

 

A partir dos anos 1880, o Brasil instala, ao longo de sua costa, dispositivos territoriais e administrativos para o controle e a triagem dos novos imigrantes. Do norte ao sul, são várias hospedarias de imigrantes que surgem: em Belém (Outeiro), Salvador, Vitória (Pedra d’Água e Alfredo Chaves), Rio de Janeiro (Ilha das Flores e Pinheiro), Juiz de Fora (Horta Barbosa), Santos, São Paulo e Campinas, Paranaguá, Florianópolis (Saco do Padre Inácio), Porto Alegre.

 

Até hoje a historiografia voltada para a questão da imigração europeia nas Américas prestou pouca atenção a estas estruturas de acolhimento numa perspectiva comparada, e também não se debruçou para a sua significação num contexto de abertura internacional: ora, quase todas são contemporâneas (do Pier 21 em Halifax no Canadá, passando por Ellis Island, Galvestone e Angel Island nos Estados Unidos, até o Albergue de los Inmigrantes em Buenos Aires). Deste ponto de vista, estas hospedarias aparecem como lugares de transmutação, limiares modernos nos quais os emigrantes são transformados em imigrantes durante o seu curto tempo de estadia.

 

O objetivo desta palestra é refletir sobre o surgimento e organização destes dispositivos no momento de transformação do Brasil em um país de imigrantes. No primeiro momento (do início do século XIX até os anos de 1850) o foco será os desafios enfrentados pelos poderes públicos para inventar as formas espaciais de acolhimento dos colonos. Será destacada a gênese, institucional e espacial, das primeiras estruturas: o barco, o armazém e o depósito. No segundo momento (1860 – 1910), que corresponde ao aumento do ritmo e do volume da imigração europeia, será discutido como os hospitais, lazaretos e outros depósitos adaptaram uma parte de suas estruturas para receber transitoriamente as primeiras levas de emigrantes. Outro tópico será como o desafio de receber os emigrantes se desdobrou na invenção e difusão de uma forma especializada para recepcioná-los: a hospedaria. Na última parte, estas hospedarias serão comparadas a “ilhas de espera”, representativas na invenção de uma nova categoria social – o imigrante -, símbolo manejado no discurso das elites para representar o Brasil moderno na Belle Epoque.

 

Laurent Vidal, nascido em 1967, é diplomado do Instituto de Estudos Políticos de Grenoble (1987), possui graduação e mestrado em história da Universidade de Grenoble (1988, 1990), doutorado em história da Universidade de Paris III Sorbonne Nouvelle (1995) e “Habilitação a dirigir pesquisas” da Escola dos Altos Estudos em Cienças Sociais (EHESS – 2005). Atualmente é Professeur des universités na Universidade de La Rochelle, diretor do núcleo de pesquisa do Centro de Pesquisa em História Internacional e Atlântica, diretor de pesquisa no Instituto dos Altos Estudos da América Latina (IHEAL – Universidade de Paris III Sorbonne Nouvelle). Tem experiência na área de história do Brasil, das relações cidade-política, dos intercâmbios culturais entre Europa e o Novo Mundo. Ele coordena atualmente um programa internacional: sociedades, mobilidades, deslocamentos: os territórios da espera.

 

Maria Isabel de Jesus Chrysostomo é Bacharel em Geografia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1993), mestre (1999) e doutora (2006) em Planejamento Urbano e Regional pelo Instituto de Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional (IPPUR/UFRJ). Pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro e da Universidade Federal de Viçosa, onde atua como professora adjunta. Pós-doc (2010) na École des Hautes Études en Sciences Sociales – França. Atua principalmente nos seguintes temas: geografia histórica, geografia urbana, política ambiental, planejamento urbano, políticas públicas e meio ambiente.