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Os sete tópicos de Diego Armus para ‘construir’ a história de uma doença

03 set/2010

Ao iniciar sua concisa conferência — “Que história da saúde e da enfermidade? Sete tópicos que interessam quando escrevo sobre a história de uma doença” —, Diego Armus apresentou-se como “um professor de história sócio-cultural que usa a teoria sem venerá-la com espírito religioso, alguém metodologicamente consistente, que trata de cultivar a narrativa histórica com uma respeitável base empírica e não com citações de jornais, capítulos de novelas e referências teóricas”.

A seguir, apresentou o primeiro dos sete tópicos, que é “o registro individual de uma doença” ou “a perspectiva do doente na narrativa histórica”. Ele lembra da importância dessa dimensão, e não apenas as análises da doença como processo coletivo. “Nós nos esquecemos que nem todos os corpos adoecem igualmente”.

O historiador Diego Armus, de perfil, sentado, durante sua comunicação no Seminário
As visões do doente e da saúde pública são fundamentais ao elaborar uma história
das doenças, afirmou Diegos Armus
(Foto de Roberto Jesus Oscar, da COC)

O segundo tópico de Armus é o estudo de uma doença em sua dimensão global, regional e local. “Durante algum tempo estudava-se uma doença na Inglaterra como se fosse uma história global”, ressaltou, acrescentando que, na realidade, “os males não aparecem em todos os lugares da mesma forma; há especificidades. Os estudos mais gerais, globais só se podem fazer quando há suficientes histórias locais.”

Quantos casos seriam necessários para se fazer uma história global? “Quanto mais melhor, mas não há um número definido”.  Segundo Armus, uma boa história global sobre uma doença deveria ser como as boas histórias de diásporas e migrações: “dos italianos em Buenos Aires, São Paulo, Nova York, com tudo o que há de particularidades e semelhanças nesses processos”, explicou.

O terceiro tópico considerado fundamental no estudo da história de uma doença segundo o historiador argentino seria sua periodização ou as mudanças e continuidades ao longo do tempo. Aí ele divide o tópico em história natural, com tempos mais longos, em que se contam a descoberta, classificação, construção da patologia e dos consensos, a busca e as respostas aos controles eficazes, até a erradicação ou seu desaparecimento. O outro tópico seria a história política, mais ligada às histórias específicas de uma cidade ou país.

O reconhecimento do tom de ambigüidade reinante durante a “medicalização” de uma determinada doença configura o quarto tópico a ser considerado nos estudos históricos de doença. “Esse é o momento em que há incertezas no próprio aparato biomédico, que ainda não encontrou soluções para alguma doença, o que resulta em ambigüidades de políticas, dispositivos disciplinares”. Sua proposta é discutir aquele momento como um processo e não como um perfil consolidado.

O tópico seguinte é o que prevê a análise de sistemas de atenção, para discutir a doença e a saúde em perspectiva histórica: como as pessoas lidam com suas doenças? Como aproximar os atores que participam deste processo: Estado, instituições e partidos políticos?   Deve-se incluir os sistemas hegemônicos de atenção e os alternativos.

O sexto tópico que Diego Armus julga fundamental nos estudos históricos de doenças são as suas metáforas: “quase todos buscamos metáforas para as doenças que estudamos”.

Para o professor do Swarthmore College, na Pensilvânia (EUA), o tópico final deve ser visto como uma aspiração, em todos os estudos históricos sobre doenças: o de se tentar uma ampla contextualizão, visando a história global ou total da doença. Ele diz que busca integrar três dimensões ou análises nos estudos que faz: os discursos, as representações e metáforas; as políticas e as experiências dos doentes  e daqueles que curam.

 

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