“Pesquisa é tentativa e erro e, muitas vezes, a gente perde o rumo!”. Ao explicar aos alunos da pós-graduação o tema de sua tese de doutoramento e os porquês da necessidade de encontrar atalhos ou até mudar de direção durante um estudo, o professor do Instituos de história da UFRJ, Fernando Luiz Vale Castro, falou sobre sua trajetória intelectual. Ele foi o convidado do Encontro às Quintas do dia 14 de junho.
Na graduação e no mestrado, ele estudou o pensamento brasileiro e latino-americano, quando analisou a vida e a obra do advogado e jornalista Gustavo Barroso, dirigente da associação de integralistas e inimigo de Getúlio Vargas, que integrou a Academia Brasileira de Letras e dirigiu o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
“No doutorado, resolvi migrar para história da América. Daí ter resolvido conhecer e analisar a Revista Americana, pois percebi a riqueza que seria trabalhar com ela”, justificou sua escolha. Luiz Vale Castro destacou que sua idéia original era “trabalhar com as redes de sociabilidade que se formavam em torno da revista”, que refletia as ideias da diplomacia brasileira.
Quando Fernando Vale Castro fazia sua tese, um roubo na biblioteca do Itamaraty motivou o seu fechamento. “Aí eu mudei o eixo da pesquisa”, destacou. Ele utilizaria os documentos dos dois principais editores da Revista Americana, barão do Rio Branco e Araújo Jorge, eles mesmos da carreira diplomática. “Passei a trabalhar com a própria revista, tendo como referencial teórico e metodológico a Escola de Cambridge”, explicou.
Fernando Vale Castro fala na |
Segundo o professor da UFRJ, “para pensar um grupo de intelectuais que escrevia na Revista Americana, era necessário considerar o contexto linguístico e a época em que viveram”. Sua pesquisa acabou de ser publicada pela Editora Mauad com o título Pensando um continente: a Revista Americana e a criação de um projeto cultural para a América do Sul, em que se discute como se fazia política e o intercâmbio cultural entre o Brasil e os países vizinhos.
A revista circulou, com interrupções, entre 1909 e 1919. Tem mais de mil artigos, alguns editoriais, notas mais curtas e bem diversificadas, além de sugestões de leituras e bibliografia. Os temas veiculados referiam-se à antropologia, questões relacionadas com lingüística, história, a tradição da cultura clássica, havendo pouco espaço dedicado à divulgação de novidades científicas.
A maioria dos artigos inéditos era veiculada em português, bem como muitos trabalhos de intelectuais de outros países, que eram traduzidos. Mas, mesmo assim, havia espaço para artigos em francês e espanhol. A revista era distribuída na América Latina e em alguns países da Europa. Clique aqui e assista a palestra na íntegra.