O Programa Memória do Mundo da Unesco reconheceu mais um acervo da Fiocruz como patrimônio relevante para a história da humanidade. Depois de fazer o mesmo com os fundos Oswaldo Cruz e Carlos Chagas, em 2007 e em 2008, respectivamente, desta vez os negativos de vidro do Fundo Instituto Oswaldo Cruz foram nominados pelo organismo das Nações Unidas. O conjunto é formado por 7.680 itens, uma parcela dos documentos iconográficos do fundo IOC, que abrange cerca de 20 mil peças sob a guarda da Casa de Oswaldo Cruz (COC). A decisão foi anunciada pelo Comitê Nacional do Programa (MOW Brasil), que escolheu dez das 36 propostas apresentadas, depois de reunião no Arquivo Nacional, nos dias 19 e 20 de setembro.
Carlos Chagas (em pé, o terceiro da direita), Pacheco Leão (sentado, o primeiro da esquerda) e outros membros de expedição à Amazônia. 1913. Acervo COC/Fiocruz. |
Produzidos por J. Pinto, fotógrafo contratado para o IOC por Oswaldo Cruz – um apaixonado por fotografia –, e que permaneceria na instituição entre 1903 e 1946, os negativos de vidro apresentam em múltiplas imagens a origem do Instituto, em cenas cotidianas das atividades de produção de soros e vacinas, de pesquisa e ensino em medicina experimental. Integram também o conjunto as imagens produzidas durante as expedições pioneiras de cientistas de Manguinhos, às regiões Nordeste, Norte e Centro-oeste, incumbidos dos primeiros levantamentos das condições de vida, trabalho e saúde de populações do interior do país.
Divulgadas em relatórios oficiais e nas Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, o principal periódico da área biomédica na América Latina, esses registros produziram impacto na formulação e concretização de políticas de saúde empreendidas pelo governo federal. São exemplos: a elaboração do Plano de Defesa da Borracha, solicitado pela Superintendência de Defesa da Borracha; o levantamento de regiões abrangidas pela Inspetoria de Obras Contra as Secas; a fundação da Liga Pró-Saneamento, que deu origem ao Departamento Nacional de Saúde Pública, criado em 1920.
Com trabalhos também dos fotógrafos João Stamato, Cipriano Segur, José Teixeira, no âmbito das expedições científicas realizadas pelos pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz, entre 1911 e 1913, o acervo de negativos de vidro revela o início da pesquisa biomédica e da medicina experimental produzidas de modo pioneiro no Brasil, bem como um inventário histórico-sociológico de imagens até então inéditas das regiões Norte e Nordeste. Imagens do sertão nordestino e da região amazônica apresentam um Brasil até então desconhecido causando grande impacto junto à comunidade científica brasileira, o que também ajudou a contribuir para a institucionalização de políticas públicas contra os problemas sanitários que grassavam entre as populações do interior do país.
Além de iniciar a digitalização dos negativos de vidro do fundo IOC, a Casa de Oswaldo Cruz concluiu o mesmo processo referente aos negativos flexíveis, um conjunto de 13 mil itens dos arquivos da COC. Desta forma o acesso ao usuário será feito de maneira mais rápida, garantindo ainda a preservação dos originais, que não precisarão ser manipulados constantemente. A expectativa é de que o público possa fazer consultas desses acervos pela Internet já partir de meados do próximo ano.