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Memória do Holocausto: pesquisadora analisa depoimentos de sobreviventes

05 maio/2010

A convidada do Encontro às Quintas do dia 29 de abril, Kátia Lerner, apresentou o tema “Holocausto, Memória e Identidade Social: a experiência da Fundação Shoah”, título de sua tese de doutorado que teve como objetivo estudar sob perspectiva antropológica o evento histórico acompanhando o processo de colecionamento da Fundação.

 

A pesquisadora Kátia Lerner, sentada em frente ao microfone, diante da plateia.

Foto de Vinícius Pequeno (COC)

 

A Fundação de História Visual dos Sobreviventes do Holocausto, ou Fundação Shoah como é conhecida, é uma organização transnacional sem fins lucrativos. Sua origem, em 1994, em Los Angeles, está associada ao momento em que Steven Spielberg realizava o filme “A Lista de Schindler”. O contato com os sobreviventes teria motivado o cineasta à criação da Fundação. Lá estão reunidos os registros audiovisuais das 56.000 entrevistas, realizadas em 56 países, em mais de 30 idiomas. Estão disponíveis no Museum of Jewish Heritage, em Nova York; Museum of Tolerance, em Los Angeles; Joods Historisch Museum, em Amsterdam; algumas universidades estrangeiras; e na Internet 2 (uma nova rede de computadores, muito mais rápida e econômica que a internet. Seu piloto, a Rede Rio 2, começou a operar no Rio de Janeiro em abril de 1999. Voltada para projetos nas áreas de saúde, educação e administração pública, oferece aos usuários recursos que não estão disponíveis na internet comercial, como a criação de laboratórios virtuais e de bibliotecas digitais).

Kátia Lerner coordenou as 600 entrevistas realizadas no Rio de Janeiro. A análise dessa experiência lhe fez refletir sobre a prática em si do colecionamento, acerca da coleção de depoimentos como uma modalidade de memória, pois geralmente coleções são concebidas a partir de objetos, mas a coleção da Fundação Shoah é um conjunto de histórias de vida.

A entrevista era dividida em pré-entrevista (dados básicos) e entrevista propriamente dita, contemplando a trajetória biográfica (pré-guerra, guerra e pós-guerra), fotos, documentos, e ao final poderia ter a presença da família. Em geral eram realizadas nas casas dos entrevistados e tinham uma duração média de duas horas. Os entrevistados foram sobreviventes judeus, e sobreviventes não judeus, além de outras testemunhas como salvadores, membros da resistência e libertadores.

Em sua exposição, a pesquisadora considera que a entrevista não é neutra. Ela flui das lembranças do sobrevivente. Trata-se da reconstrução da realidade a partir das lembranças do narrador como parte do ponto de vista de um grupo (familiares, companheiros do campo de concentração, atuais amigos sobreviventes).

Em sua tese, Lerner faz um contraponto com o Arquivo Fortunoff, criado em 1979, também sem fins lucrativos, composto por quatro mil depoimentos, que surge em resposta à minissérie “Holocaust”, exibida pela emissora NBC, em 1978. A perspectiva nesse caso era outra.

Sobre a autora

A pesquisadora do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fiocruz, é socióloga e mestre em Comunicação e Cultura e doutora em sociologia e antropologia pela UFRJ. Foi agraciada com o prêmio Memória, Museus e Patrimônio Cultural (Iphan/ Associação Brasileira de Antropologia) e terá seu livro publicado pela editora Fundação Getúlio Vargas e pelo Ibram.

Sobre o Holocausto

A origem do termo “holocausto” é atribuída por vários autores à raiz grega holokauston, que significa originalmente “sacrifício consumido em chamas”. A palavra shoah, retirada da narrativa bíblica, é associada à idéia de “pecado e punição divina”. Com a criação, em 1953, do Instituto Yad Vashem em Israel, dedicado a estudar a perseguição e assassinato dos judeus pelo nazismo, também teve importante papel na institucionalização da memória desse evento, e consagrou o uso do termo H/holocausto em inglês. (LERNER, Kátia, (2003). Coleções e Sistemas Classificatórios: refletindo sobre a categoria “Holocausto” In: Revista Morpheus, 3)