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Historiografia e ensino da História na Universidade do Distrito Federal e na Faculdade Nacional de Filosofia nos anos 30 e 40

14 abr/2011

A historiadora Marieta de Moraes Ferreira esteve no Encontro às Quintas no dia sete de abril para falar sobre o ensino de história na Universidade do Distrito Federal e na Faculdade Nacional de Filosofia, tão importantes na criação da identidade do curso no Brasil.
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A historiadora Marieta Ferreira, acompanhada do coordenador do Encontro, Marcos Chor. Foto: Vínícius Pequeno

A Universidade do Distrito Federal (UDF) foi criada em 1935 por Anísio Teixeira, então secretário de Instrução Pública, juntamente com o prefeito do RJ Pedro Ernesto. Educador e escritor, Anísio difundiu o movimento da Escola Nova, que tinha como princípio a ênfase no desenvolvimento do intelecto e na capacidade de julgamento, em detrimento da memorização. “A preocupação do Anísio Teixeira era defender uma universidade pública, laica e gratuita, e aliar a educação à pesquisa, mas enfrentou muitos problemas porque essa nova lógica ameaçava a hegemonia católica da educação”, explicou Marieta Ferreira.

 

Os estudos dela exploram a montagem do corpo docente da Universidade em questão. “A UDF reuniu professores de envergadura como Afonso Arinos, Gilberto Freyre, Delgado de Carvalho, Sílvio Júlio de Albuquerque Lima, Eremildo Viana, Josué de Castro, e vários franceses que eram muito inseridos na vida acadêmica daquele país”, destacou Marieta. Mas, segundo a pesquisadora, havia um desconhecimento sobre a atuação dos professores franceses na criação dos cursos de história no Rio de Janeiro, a não ser alguns relatos que recuperaram a atuação desses professores, como a entrevista da historiadora Maria Yedda Linhares publicada na revista Estudos Históricos da Fundação Getúlio Vargas (1992).

 

Por isso, a pesquisadora quis investigar as missões universitárias francesas que participaram da fundação dos cursos de história no Rio nos anos 1930, acompanhando as trajetórias profissionais dos professores franceses, a maneira como seus ensinamentos foram aqui recebidos e o impacto que provocaram na constituição desse novo campo universitário no país. Os nomes analisados foram Henri Hauser, Eugène Albertini, Pierre Deffontaines, da UDF, e mais tarde, Victor Tapié e Antoine Bon, da Faculdade Nacional de Filosofia.

 

Marieta Ferreira descreveu os perfis de alguns dos professores franceses durante a palestra. Hauser ocupava um lugar de destaque na estrutura acadêmica francesa, sendo sua obra historiográfica considerada de grande relevância, além de ser admirado e respeitado por Marc Bloch e Lucien Fèbvre, fundadores da Escola dos Annales. Sua atuação no curso de história na UDF centrou-se não só em organizar a cadeira de história moderna, mas também de fazer propostas para a montagem do curso como um todo. Albertini pautou sua atuação na Universidade pela apresentação de propostas voltadas para a reestruturação do programa de história antiga, que deveria oferecer uma formação mais sólida nessa disciplina aos estudantes brasileiros. Já Deffontaines fundou a cadeira de geografia na UDF, onde lecionou de 1936 a 1938.

 

A concepção de história ministrada na UDF era a da “valorização de História Social e crítica às histórias nacionais, história política dos grandes personagens”, porque a “Reforma Campos” de 1931 excluiu do currículo escolar a História do Brasil e incluiu a História das Civilizações (com a Reforma Francisco Campos, o Brasil passa a ter uma estrutura de ensino organizado como um sistema nacional. Antes da Reforma cada estado da Federação tinha seu próprio sistema, sem que este estivesse atrelado ao poder central). Por isso a UDF, que era uma escola municipal do Rio de Janeiro, contrariava a determinação do Ministério da Educação.

A UDF, porém, durou pouco. “Desde a Intentona Comunista de 1935 até o golpe de 1937 (Estado Novo) as bases de permanência da UDF vão sendo solapadas”, afirmou Marieta. E, em 1939, o ministro da Educação e Saúde, Gustavo Capanema, fechou a UDF. Logo foi criada a Universidade do Brasil, e vinculada a ela a Faculdade Nacional de Filosofia (FNFi), que absorveu “os restos mortais da UDF”, disse a convidada do Encontro às Quintas. E acrescenta: “o curso de história da FNFi nasce com marca conservadora, e os professores que chegam agora são vinculados à tradição católica e têm expressão acadêmica muito pequena. Além disso, há um corte no perfil da concepção de história, passando a ter cadeiras como História Moderna, Contemporânea, Americana, do Brasil”.

 

A História do Brasil era uma questão central, pois tinha papel de recriar a identidade nacional do país e fortalecer o poder central de Getúlio Vargas. São criados naquele período os museus Imperial de Petrópolis, Histórico Nacional, e também há uma releitura de “heróis” nacionais como Duque de Caxias e D. Pedro II.

 

Em 1945 cai o regime político do Estado Novo, liderado por Vargas, mas as características do curso de história da FNFi vão mudar muito pouco. Em 1955 há a separação entre História e Geografia, e os geógrafos passam a atuar mais no âmbito do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (criado em 1938).

 

Apesar de não haver muitas mudanças no curso de história no período, “ele ganhava novos ares com o ingresso de professores assistentes”, salienta Marieta, a exemplo de Maria Yedda Linhares (ingressou na FNFi a convite de Delgado de Carvalho), que entende que “os problemas para o desenvolvimento da pesquisa nos cursos de História no Rio de Janeiro derivavam do controle que o catedrático Hélio Viana tinha sobre a pesquisa, tendo vetado a criação do centro de pesquisas”.

 

Marieta Ferreira adianta, no entanto, que agora seus estudos estão avançando para os anos 50 e 60, o que vai resultar num artigo para a Revista História Ciências Saúde – Manguinhos. Vamos aguardar!

 

Com doutorado em História pela Universidade Federal Fluminense (1991) e pós-doutorado pela École des Hautes en Sciences Sociales, Marieta Ferreira foi diretora do CPDOC (1999-2005). Atualmente é coordenadora do programa de livros didáticos da Fundação Getúlio Vargas – RJ, e professora adjunta do departamento de História da UFRJ. Atua principalmente nas seguintes áreas: historiografia, história oral, história política, história do Rio de Janeiro, ensino de História, entre outros.

 

Entre seus livros publicados estão Memória e Identidade Nacional (2010), 70 anos de História: Universidade do Brasil. (2009), Rio de Janeiro: uma cidade na história (2000), Usos e abusos da História Oral (1996).

 

 

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Foto: Vinícius Pequeno