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HCSM destaca centenário do Instituto Fernandes Figueira da Fiocruz

César Guerra Chevrand (COC/Fiocruz) 

13 maio/2024

Criado por iniciativa do médico pediatra Antônio Fernandes Figueira, o atual Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira da Fundação Oswaldo Cruz (IFF/Fiocruz) está completando 100 anos em 2024. Em celebração ao centenário da unidade técnico-científica da Fiocruz dedicada a assistência, ensino, pesquisa e desenvolvimento tecnológico, a revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos destaca sua trajetória em artigos e depoimentos inéditos, no lançamento de seu volume 31. Confira no Scielo

Na Carta do Editor,  o coordenador-adjunto do Programa de Pós-graduação em Saúde da Família da Universidade Estácio de Sá e professor do Programa de Pós-graduação em Saúde da Criança e da Mulher do IFF, Luiz Antonio Teixeira, e a pós-doutoranda do IFF Larissa Velasquez de Souza contextualizam a criação de instituições e políticas públicas destinadas à infância e à maternidade na primeira metade do século 20 e analisam as principais conquistas do instituto ao longo dos anos, como a criação do Banco de Leite Humano. De acordo com os editores convidados, “no século 21, o processo de ampliação de objetos de estudos e iniciativas do instituto passou a se relacionar cada vez mais com as demandas do SUS”. 

Análise 

A relação entre o médico Antônio Fernandes Figueira e a higiene infantil no período de institucionalização dos estudos acerca da saúde da criança no Brasil é o tema do artigo da pesquisadora da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) Gisele Sanglard e da doutoranda do Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde (PPGHCS) da COC Letícia Conde Moraes Cosati. No artigo Tessituras de memórias: o Instituto Fernandes Figueira pelo olhar geracional, Martha Cristina Nunes Moreira, Roberta Falcão Tanabe, Marina Castinheiras Diuana e Anita Silva Paez analisam o instituto como espaço de experiências e memórias de diferentes gerações e afirmam que o “cuidado com as crianças e, por conseguinte, um olhar para as mulheres nessa relação se dão em sintonia com a transição epidemiológica global, complexificando o perfil da atenção do instituto”. 

Professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Fabíola Rohden utiliza artigos científicos e sites institucionais para investigar as “disputas entre o campo da ginecologia e da cirurgia plástica estética, especialidades autorizadas a realizar a cirurgia estética genital feminina no Brasil”. No artigo A assistência aos diabéticos em Portugal:o papel estruturante da Associação Protetora dos Diabéticos Pobres, 1926-1946, os pesquisadores da Universidade de Coimbra Ismael Cerqueira Vieira, João Rui Pita e Ana Leonor Pereira explicam como a associação baseou sua atuação nos princípios da diabetologia moderna na primeira metade do século 20. 

Unidos na diferença: sobre a vocação da sociologia brasileira no Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro, 1973-1977 é o título do artigo dos pesquisadores do atual Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Iesp/Uerj) Luiz Augusto Campos e José Szwako. As festas e ritos católicos em Salvador, no período da gripe espanhola (1918) e da varíola (1919), e as reações dos católicos vinculados às associações leigas na cidade são os temas do artigo da professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Edilece Souza Couto. 

A origem e a criação do primeiro museu interativo de ciências do Peru, o Tecno-Itintec, inaugurado em 1979, são os objetos de análise da doutoranda do Instituto de Tecnologia da Geórgia Alejandra Ruiz-León, que investiga como ciência e política se cruzaram na sua fundação. Professora da Universidade de Tolima (Colômbia), Ángela Lucía Agudelo-González assina artigo sobre a publicidade de medicamentos patenteados dirigida às mães na imprensa colombiana, entre 1903 e 1945, e analisa como essas propagandas desempenharam um papel importante na formação das mulheres como objeto de consumo da população. 

Depoimentos 

Dois depoimentos que fazem parte de um projeto que documenta e investiga a história do Instituto Fernandes Figueira são destaques nesta atualização da HCS-Manguinhos 

O testemunho do médico pediatra e ex-diretor do instituto entre 2001 e 2008 José Augusto Alves de Britto é resultado de entrevista com o professor do Programa de Pós-Graduação em Saúde da Criança e da Mulher (PPGSCM) do IFF/Fiocruz Luiz Antonio Teixeira e pela pós-doutoranda do mesmo programa, Larissa Velasquez de Souza. Com atuação no instituto desde 1980, José Augusto discute aspectos importantes de sua história, como o seu processo de reconhecimento e legitimação, a relação com a sociedade civil, as dinâmicas profissionais internas e a caracterização do IFF como hospital e instituto. 

O outro depoimento é composto por uma entrevista com Susana Maciel Wuillaume, médica pediatra com experiência na docência e na gestão do IFF. Em seu testemunho, Susana debate, entre outros temas, as diferentes percepções sobre as práticas de cuidado realizadas no Fernandes Figueira, sua posição política na Fundação Oswaldo Cruz e o papel de iniciativas específicas como o banco de leite na construção de uma identidade institucional. 

Resenhas  

Cinco resenhas compõem até agora o volume 31 da HCS-Manguinhos. Professor da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Claiton Silva escreve sobre o livro Médicos do sertão: ciência, saúde e doenças em Goiás, 1947-1960, de Tamara Rangel Vieira. A obra de Seth Garfield, Guaraná: how Brazil embraced the world’s most caffeine-rich plant, é analisada por Regina Horta Duarte, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Doutor em História das Ciências e da Saúde pela Casa de Oswaldo Cruz, Márcio Magalhães de Andrade resenha o livro Doutores, enfermos e canhões: uma história médica da Guerra do Paraguai (1864-1870), de Leo Bahiense.  

O livro Da educação sanitária à educação em saúde: uma travessia na história da ciência (1940-1971), de Bráulio Silva Chaves, é o objeto da análise da professora da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) Polyana Aparecida Valente. Por fim, o pesquisador do Consejo Nacional de Investigaciones Científicas (Conicet) e professor da Universidade de Buenos Aires, Esteban Greif, escreve sobre Science and Catholicism in Argentina (1750-1960): A study on scientific culture, religion, and secularization in Latin America, de Miguel de Asúa.