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Febre amarela entre outras doenças tropicais são o fio condutor das últimas apresentações do simpósio

30 mar/2011

 

A primeira apresentação da sexta-feira (25/3), foi do pesquisador da COC Jaime Benchimol, que utilizou a febre amarela como “fio condutor para iluminar aspectos das relações entre Brasil e Alemanha nos campos da medicina, saúde pública e outras ciências da vida”.

Ele refez a evolução e a trajetória de algumas doenças no Brasil, a partir de 1849 e 1850, tendo como cenário o Rio de Janeiro e outras cidades costeiras, quando a febre amarela chegou. Veio de New Orleans de navio e, de Salvador, espalhou-se e matou milhares de pessoas. Descreveu os avanços e recuos e as copntrovérsias entre os estudiosos durante as tentativas de se chegar a uma vacina contra o mal.

A presença alemã era constante no período: o médico Robert Christian Berthold Ave-Lallement, da cidade de Lubeck, diagnosticou os primeiros casos. Em 1879 houve outra epidemia no país e aí um brasileiro, Domingos Freire, pensava ter descoberto o germe causador da doença. Outros estudiosos de doenças tropicais foram o italiano Giuseppe Senarelli, que trabalhava para o governo uruguaio, Adolfo Lutz, que trabalhou em Manguinhos com Oswaldo Cruz e Carlos Chagas, entre outros brasileiros.

Durante a aula foi possível acompanhar o desenvolvimento dos estudos envolvendo pesquisadores brasileiros e os colegas europeus, japoneses, bem como os das Américas Latina e do Norte, que colaboravam entre si e que também divergiam quanto aos estudos epidemiológicos e de laboratório, em torno da descoberta dos causadores da malária, da sífilis e de outras doenças que combatiam.

A segunda apresentação, sobre diagnósticos sorológicos e moleculares de doenças tropicais infecciosas por vírus e sua disseminação por países da Europa, foi do pesquisador Jonas Schmidt-Chanasit, do Bernhard-Nocht-Instituto de Medicina Tropical, de Hamburgo. Ele mostrou como são feitos os diagnósticos virais para diversas doenças, a partir de testes utilizando a microscopia eletrônica, os riscos de contaminação e tabelas classificatórias.     

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Os pesquisadores Jaime Benchimol e Magali Romero Sá, da Casa de Oswaldo Cruz, Jonas Schmidt-Chanasit, do Instituto Bernard-Nocht de Medicina Tropical e Marcelo Pelajo, do Instituto Oswaldo Cruz. Foto: Roberto de Jesus Oscar

A pesquisadora Mônica Barth deu o seu depoimento sobre a evolução da microscopia eletrônica no Instituto Oswaldo Cruz, onde trabalha desde muito jovem, processo que acompanha desde o início e em que há três momentos importantes: a origem em 1947, 1976 e 1990. “O primeiro microscópio foi doado ao IOC pela RCA, a mesma empresa que fabricava discos e rádios, no fim dos anos 1940, na gestão de Henrique Aragão”, contou.

O alemão Hans Muth operava o equipamento e doutora Mônica o conheceu: “ele morava com a mulher, algumas giboias, aranhas caranguejeiras, tinha uma cabeça de macaco em casa, em Santa Teresa. Era uma figura interessante, percebia-se até pela anatomia de sua cabeça”, destacou, com ar nostálgico. Entre 1960 e 1976 o Instituto viveu uma fase de abandono, durante a ditadura militar.

Naquele ano, a instituição começa a se reestruturar e ganha outro microscópio, agora um Zeiss – 10A, quando seis pesquisadores e técnicos foram contratados. Ela trabalhou com Herr Raab, no Centro de Microscopia Eletrônica. Fizeram pesquisas e fotos de rotavirus, da hepatite B.

Em 1990 a doação é da GTZ e mais três aparelhos são adquiridos, quando belas fotos de culturas de células para o vírus da dengue, em forma de flores e fungos são feitas. Atualmente o IOC trabalha com um Zeiss EM-900 e captura imagens do vibirão colérico, leptospira, rotavírus e orthopox vírus.

Marcelo Pelajo Machado, responsável pelo Museu de Patologia do Instituto Oswaldo Cruz, fez uma breve retrospectiva, desde sua criação em 1903 por Oswaldo Cruz. Ele é o responsável pela reconstituição, manutenção e divulgação da coleção de lâminas de viscerotomia da febre amarela, recolhidas a partir de 1904. O material utilizado vinha de necropsias do Hospital São Sebastião e da Santa Casa.

A coleção do museu, que dispõe de exemplares de esquistossomose, leptospirose, calazar e dengue, além das de febre amarela, é significativa e está inteiramente organizada, depois de ter sido praticamente perdida pelo abandono entre 1950 e 1984, quando Itália Kerr e Henrique Lenzi retomam os trabalhos e começam sua reorganização.

 

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