Favela da Rocinha, no Rio de Janeiro. Foto: Flickr (Creative commons, 26/5)
Sob a guarda da COC, o arquivo do antropólogo norte-americano Anthony Leeds, que realizou pesquisas sobre as favelas cariocas durante as décadas de 1960 e 1970, é o foco de um projeto que acaba de obter apoio financeiro da Faperj visando sua análise e organização.
Objeto da pesquisa que envolve profissionais da Casa e do Urbandata/Iuperj, o arquivo será aberto à consulta depois de ser organizado, e deve constituir uma fonte importante para quem quiser fazer estudos sociológicos, antropológicos e históricos sobre a habitação popular não apenas no Rio, mas em outros países da América Latina.
Coordenadora do projeto, a cientista social Nísia Trindade Lima destaca entre os objetivos principais do estudo sua contribuição para a história social da favela, “a partir da análise de fontes importantes, sobretudo do registro etnográfico feito por Leeds, de modo a valorizar a perspectiva comparativa no continente”.
Outra meta do projeto é contribuir para ampliar “a compreensão sobre a história das ciências sociais no Brasil, resgatando o lugar dos estudos urbanos, sobretudo sobre favelas”.
O projeto é multidisciplinar e reúne cientistas sociais, historiadores e uma bibliotecária. A proposta é combinar o levantamento e a análise dos textos de Leeds e das fontes que ele reuniu no arquivo doado à Casa de Oswaldo Cruz pela viúva Elizabeth Leeds, cientista política e co-autora de “A sociologia do Brasil urbano”. Ela também participou de pesquisas sobre favelas. Os integrantes do projeto vão fazer entrevistas com cientistas sociais que trabalharam com o antropólogo.
Além do material de pesquisa obtido nas favelas do Tuiuti e Jacarezinho, onde morou e fez pesquisa etnográfica, Leeds trabalhou em articulação com universitários, os voluntários do programa Peace corps norte-americano, que participavam de programas assistenciais na América Latina desenvolvendo atividades voltadas para a educação, saúde e extensão rural.
Ele esteve especialmente interessado em investigar a realidade dos moradores de favelas e outras formas de moradia popular em diferentes cidades brasileiras. Ampliou o trabalho recorrendo a estudos comparativos e ao diálogo com colegas da academia, que se voltaram aos países latino-americanos, entre eles Mangin, Turner e José Mattos Mar. Esses pesquisadores realizavam pesquisas em bairros populares peruanos.
Leeds reuniu inúmeras fontes, de documentos oficiais a estudos acadêmicos sobre habitação popular. Interessado em encontrar explicação para o fenômeno das favelas, preocupou-se em não limitar suas pesquisas a estudos de casos isolados, imprimindo esta característica — a amplitude — ao arquivo que constituiu.
