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“Estado, intelectuais e modernização do Brasil” é tema de seminário

13 nov/2013

pesquisadores sentados à mesa
Pesquisadores participam da mesa “Ciência, saúde e interpretações do
Brasil”. Foto: Tamara Rangel

Fortalecer um canal para a troca de experiências acadêmicas. Esse foi o objetivo do workshop “Estado, intelectuais e modernização no Brasil: perspectivas da História das Ciências e da Saúde”. O evento foi resultado de uma parceria entre o Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz (COC) e o Departamento de História da Universidade Federal Fluminense.

Leia mais sobre as apresentações:
A busca por um padrão
Intelectuais, cientistas e modernização no Brasil
Ciência, saúde e interpretações do Brasil

Durante dois dias, pesquisadores da Casa estiveram em Niterói (RJ) para falar sobre historiografia das ciências, sobre os cientistas e intelectuais que desempenharam papel preponderante no projeto de modernização do Brasil e sobre as diversas interpretações do País concebidas no campo da ciência e da saúde. Confira um resumo das apresentações.

História e historiografia da medicina e da saúde: temas e abordagens

Jaime Benchimol apresentou o livro de George Rosen, História da Saúde Pública, como fio condutor da sua aula. Publicado em 1958 e lançado no Brasil apenas em 1994, o livro foi uma leitura obrigatória para ele, assim que entrou na Casa de Oswaldo Cruz: “A obra fornecia uma síntese abrangente da história da saúde pública na Europa e Estados Unidos e tornou-se referência sobre o assunto, ajudando a definir por bom tempo o conteúdo e as fronteiras desse campo”, lembrou.

De família judia e nascido Brooklyn, em Nova Iorque, o médico, sanitarista, escritor e doutor em filosofia George Rosen passou pelas universidades de Berlim, Alemanha, e Columbia e Yale, Estados Unidos, e cumpriu serviço militar, como médico, na Segunda Guerra Mundial. Durante a aula, Benchimol reforçou a importância da associação de Rosen com Henri Sigerist. Juntos, os dois desempenharam papel de destaque na instituição da história da medicina na Europa e Estados Unidos. Ambos adotavam uma posição de esquerda e antifascista e defendiam o fortalecimento da medicina social.

Para Benchimol, Rosen traça o panorama histórico das doenças, correlacionando-as com o pensamento científico vigente em cada época. Rosen também foi um dos primeiros a ligar as influências externas – ambiente e rotinas de trabalho – ao adoecimento. “Mais que simplesmente fenômenos biológicos, enfermidade e saúde acompanharam os processos históricos mundiais, de acordo com o conceito de doença e o conhecimento científico de cada momento”, ressaltou.

“Como a História da Saúde Pública foi publicada durante a Guerra Fria, as contradições sociais da época permaneceram recalcadas sob o aparente consenso da maioria silenciosa”, disse o pesquisador. A prosperidade do pós-guerra combinada à repressão às ideias de esquerda produziram uma cultura caracterizada pelo consumismo, o patriotismo e a acomodação ao status quo. O progresso, ideia motriz daquela conjuntura, era então interpretado como sinônimo de aquisição de bens materiais e segurança pessoal. “A ênfase de Rosen às relações de produção e à condição de classe como fatores determinantes da saúde estava em completo desacordo com a ideologia hegemônica da época”.

“Um fato notável nesse período era a crença de que a transição da saúde medieval rumo ao modelo consagrado de eficiência, eurocêntrico, estava consumada”, destacou Benchimol. Cooperavam para isso, fatores decisivos como progresso sanitário e a visão otimista da medicalização, diminuição do número de mortes por parto e a assistência parto puericultura, descoberta das vitaminas e do antibiótico.

Rosen foi porta-voz de uma época de otimismo, mas outras doenças igualmente letais e outros problemas, como os ambientais, tomavam o lugar dos antigos vírus e bactérias. Ao mesmo tempo, aumentava a corrupção das organizações que faziam a intermediação dos recursos financeiros e a efetivo combate das doenças. “Sem contar a emergência do vírus da aids que acabou de vez com a visão otimista”, ponderou Benchimol. Nesse momento, não se fala mais sobre médicos historiadores, mas historiadores da Medicina, que deixou de contar a história dos médicos para contar a dos doentes.