Fiocruz
Webmail FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ

Em Estado de Palavra: quando a história não consegue que se meta fora a literatura

01 out/2010

O convidado do Encontro às Quintas Durval de Albuquerque tratou de um tema que desperta acalorados debates. Em Estado de palavra: quando a história não consegue que se meta fora a literatura foi o título de sua palestra realizada no dia 07/10.

 

Ele falou que a história por muito tempo foi considerada literária, mas por definição, o saber histórico é prosaico, ou seja, é uma escrita “pedestre”, não voa. Ao contrário da filosofia e da poesia que nos ensinam a voar. Na Idade Média, ela teve o papel de fornecer a erudição e as informações na aprendizagem da retórica para que a oratória, ou seja, a composição e apresentação de discursos, fosse convincente.

 

foto durval de albuquerque
Foto: Roberto Jesus (COC)

 

No século 18, explicou Durval de Albuquerque, o romance é identificado como uma forma de construção da realidade. É no século 19 que irá se compor um significado para história e outro para ficção (que trata-se de dotar as coisas de sentido). A história, então, continua o professor, profissionaliza-se, passa a ser disciplina e serve para construir um sentido cívico, devido à derrota da Prússia, em 1806, por Napoleão Bonaparte. Dessa forma, esse século, em nome da pureza científica para a história, vai rejeitar as filosofias, e começar a historização das coisas. Com a chamada Escola dos Annales, movimento historiográfico que incorporou métodos das Ciências Sociais à História, propunha-se ir além da visão positivista da história como crônica de acontecimentos.

 

“Os historiadores passaram a pensar sobre o que acarreta o fato da história só existir em estado de palavra, passam a se interrogarem sobre a escrita da história, e descobrem que não conseguiram meter fora sua dimensão literária”, opinou Durval de Albuquerque. “Somos literatura porque construimos uma narrativa, nossa tarefa é construir narrativamente as temporalidades”.

 

Mas se constatou que a linguagem não dá conta de tudo, vai além do mundo que chamamos de real, e constrói as diferentes realidades. Ela é sempre um recorte, pois quando narramos, fazemos escolhas. “Ao mesmo tempo que lembramos, produzimos esquecimento”, observa o historiador. Segundo ele, como não agüentamos o caos do real, criamos o simbólico, o imaginário, e também damos ordem às coisas, criamos sistemas. A realidade é uma construção social humana, e as certezas são consensos mínimos estabelecidos para que a sociedade exista e se mantenha. “Como o historiador escreve a partir do arquivo, isso o possibilita e o limita, já que o arquivo é limitador da nossa imaginação” “Toda minha proposição não é pensar história versus literatura, mas uma com a outra”, concluiu o palestrante.

 

Durval e a plateia do encontroFoto: Roberto Jesus (COC)

 

Entre as obras de Durval de Albuquerque estão: História: a arte de inventar o passado (2007), Cartografias de Foucault (2008), e Nos destinos de fronteira: história, espaços e identidade regional (2008), A Invenção do Nordeste e outras artes (2009).