Nesta quinta-feira, 12 de maio, a jornalista italiana Elisabetta Tola esteve no Museu da Vida ministrando a palestra "Listos, no chocados – cambio climático, terremotos, desastres naturales: la comunicación como herramienta de prevención y de gestión".
Elisabetta iniciou sua palestra contando um pouco a respeito de sua formação. Graduada em ciências agrícolas e com doutorado em microbiologia ambiental, passou a atuar no jornalismo há dez anos, desejo antigo que decidiu realizar quando oportunidades de atuação em jornalismo científico começaram a aparecer na Itália. Realizou então um mestrado em divulgação científica, passou a trabalhar na área e, há seis anos, criou sua própria agência de comunicação científica, a Formicablu (“formiga azul”).
A jornalista contou que sua agência atua em duas frentes: uma mais jornalística, produzindo para rádios, revistas etc, e outra mais voltada para o auxílio de cientistas na criação de planos de comunicação. A palestrante compartilhou, então, sua experiência a respeito desta segunda atuação, mais próxima aos cientistas, focando em três temas principais: mudanças climáticas, vulcões e terremotos.
Elisabetta Tola durante palestra no Museu da Vida. Foto: Edna Padrão/COC
A respeito das mudanças climáticas, relatou a experiência da COP 15 – 15ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, realizada em Copenhagen. “Durante o evento, toda a mídia italiana só falava a respeito da mudança climática. Depois, o assunto simplesmente desapareceu dos meios”. Exibindo como exemplo alguns vídeos utilizados no evento, Elisabetta criticou o caráter alarmista e emocional das produções: “Esses vídeos são terríveis porque apenas forçam no lado emocional, no que de ruim pode acontecer, mas não orientam as pessoas sobre o quê elas podem fazer em relação a isso”, disse.
A palestrante compartilhou a experiência de sua agência em algumas pesquisas científicas. A pesquisa CIRCE (Climate Change and Impact Reserch), sobre impactos das mudanças climáticas na região do mediterrâneo, contou com a participação de diversos países europeus, entre outros da região em questão. Sua execução foi prevista em três etapas: a criação de modelos e cenários; a indicação dos impactos das mudanças; e orientações de como agir, possibilidades de atuar frente a esses cenários.
Elisabetta relatou que os dois primeiros anos da pesquisa foram muito bons, quando se executou a etapa de modelos e cenários. A dificuldade começou na parte de impactos: “A tradução dos modelos, usando dados físicos para realizar projeções, não é uma coisa simples. A pesquisa acabou parando por aí, não se avançou nesta segunda etapa. A terceira, de orientação dos interessados, foi totalmente abandonada. Esse tipo de atitude confirma a desconfiança da sociedade, de que o que os pesquisadores fazem não tem relação direta com suas vidas. Prometeram um projeto aberto, mas a confiança foi quebrada”, afirmou.
Outra experiência abordada foi com o projeto RACES (Raising Awareness on Climate and Energy Saving),que foi mais focado em identificar aspectos importantes que devem estar presentes na comunicação a respeito das mudanças climáticas. “Realizamos focus groups e concluímos que o ideal é que se dê informações corretas, somadas a uma orientação sobre o que se pode fazer, na prática, a respeito destas mudanças”, disse.
A respeito dos vulcões, a jornalista contou sobre o Vesúvio – que destruiu a cidade de Pompéia no ano de 79, e que é muito ativo até hoje – e as construções irregulares existentes em seu território. “Algumas vezes essas áreas foram evacuadas, mas logo depois outras pessoas vieram e ocuparam esses mesmos espaços. Essa região, muito próxima de Nápoles, não é muito organizada.”.
Chamada por vulcanólogos a participar de um projeto que pretendia criar um modelo matemático do impacto de uma possível erupção do vulcão, a jornalista mais uma vez enfatizou a importância de abordar o impacto real na vida das pessoas: “A princípio os pesquisadores não queriam responder sobre a prevenção, apenas dar uma descrição da situação. Com o tempo conseguimos fazer um trabalho que abordou os dois aspectos, indicando que essa representação dos fenômenos poderia servir, por exemplo, para que a defesa civil pensasse em planos de evacuação da área, ou que arquitetos pensassem qual a melhor maneira de construir as casas naquela região”, disse.
Por fim, a respeito de sua experiência com terremotos, a palestrante falou sobre o projeto Edurisk, que focou na prevenção, na orientação de professores em escolas para que estes falassem a seus alunos sobre o que fazer durante e depois de terremotos. Alguns dos resultados foram a digitalização de todos os trabalhos realizados por professores e alunos e sua disponibilização no site do projeto, assim como a produção de uma animação que orientava como agir em relação aos terremotos.
Elisabetta contou que, durante este projeto, um grande terremoto atingiu a cidade de L’Áquila, em abril de 2009, local onde o curso do projeto Educarisk havia passado. “Após o terremoto, os jovens da cidade não falavam muito sobre suas impressões do evento. Houve um choque psicológico, e eles agiam como se nada houvesse acontecido”, disse. Meses depois, o grupo de Elisabetta visitou a cidade pra estimular esses relatos, treinando os jovens em técnicas de jornalismo para que criassem podcasts, pequenos programas de rádio pela Internet, onde foram compartilhados relatos dos jovens e de pessoas próximas sobre o acontecido.
Outro importante resultado do trabalho foi o “documentário ficcional” criado pelo grupo a respeito de um dia na vida de uma jovem na cidade de L'Áquila, chamado ‘Non Chiamarmi terremoto’. A produção tem por objetivo orientar as pessoas sobre a redução de riscos em um terremoto. “Tínhamos pouco dinheiro para fazer esse vídeo, que tem 30 minutos, mas conseguimos muito apoio pela Internet. Cada um doou um pouco, e cerca de 30% do nosso orçamento veio dessa fonte. A Internet ajuda muito a chegar nas pessoas”, afirmou.