O último número da revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos é um exemplo de sua diversidade temática no campo da história das ciências, da saúde e da medicina, ao reunir um conjunto de nove artigos originais, uma entrevista com o historiador português José Mattoso, sobre a coletânea de ensaios inéditos que ele organizou sobre a história da vida privada dos portugueses na Idade Média , e uma análise sobre os registros fotográficos do cotidiano ribeirinho no porto do Açaí e na Ilha do Maracujá, em Belém do Pará.
As duas expedições científicas feitas pela Marinha brasileira na década de 1950 à Ilha da Trindade, que contou com a presença do zoólogo Rudolf Barth, são analisadas por Regina Horta Duarte e Güydo Campos Machado Marques Horta. O objetivo da viagem foi inserir o Brasil nas programações do ano Geofísico Internacional, o maior programa científico colaborativo empreendido na história até aquele momento.
O artigo descreve as viagens à Ilha, que envolveram governos e cientistas de 60 países, em torno de ações que visavam investigar e acumular conhecimentos sobre a diversidade do planeta em variados aspectos geofísicos. Durante as expedições foram feitas investigações que incluíam temas como a atividade solar, a aurora boreal, a física ionosférica, a precisão de latitudes e longitudes, oceanografia, meteorologia, geomagnetismo, glaciologia e climatologia, mísseis e satélites, sismologia e gravimetria.
A ideia de se fazer uma expedição científica à ilha de Trindade foi do norte-americano Viel Lloyd Berkner, que começou a prepará-la no início da década de 1950. Ele foi ganhando adeptos em inúmeras instituições técnico-científicas e culturais, que participaram da viagem , realizada entre 1º de julho de 1957 e 31 de dezembro de 1958. As pesquisas realizadas por Barth renderam artigos e publicações. Nesta edição, a revista transcreve dois relatórios inéditos com suas observações e dados, em que mostrava preocupação com o futuro da Ilha, em alertas e recomendações prevendo danos ambientais que poderiam ter sido evitados, caso fossem considerados.
Entre os artigos, também destacam-se o dos pesquisadores Gil Sevalho e Eduardo Stotz, que discutem “o risco, como desenvolvimento teórico da epidemiologia”, a partir da teoria social elaborada por Boaventura de Sousa Santos, e o do professor da Unicamp Everardo Duarte Nunes, sobre o trabalho do jornalista inglês Henry Mayhew, quem registrou o dia a dia da cidade de Londres na segunda metade do século 19. O trabalho foi feito a partir das reportagens de Mayhew sobre um surto de cólera e entrevistas que fez com moradores de rua.