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Disponível na base Arch o inventário do fundo Carlos Chagas Filho

09 fev/2011

Quarenta metros de documentos textuais, datados de 1922 a 2007, como cartas, ofícios, relatórios, discursos,  artigos científicos e outros, além de 1.200 fotografias compõem o fundo Carlos Chagas Filho, cujo inventário está disponível na base Arch . Doado em três remessas – a primeira pelo próprio cientista, em 1999; a segunda por sua esposa, Anna Leopoldina de Mello Franco Chagas e a terceira pelas filhas do casal -, o fundo revela parte substantiva da história da ciência no Brasil. 

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Retrato de Carlos Chagas Filho com fardão usado em sua posse na ABL,  década de 1970. Acervo Casa de Oswaldo Cruz.

Em 1937 Chagas Filho deixou o IOC e transferiu-se para a Universidade do Brasil, onde, em 1945, criou o Instituto de Biofísica, desde a década de 1950 um centro de excelência em pesquisa biomédica e que leva seu nome. Entre 1966 e 1970 chefiou a Delegação Permanente do Brasil junto à UNESCO. Ali teve atuação destacada, tanto quando colaborou no envio de dezenas de pesquisadores brasileiros a instituições de pesquisa estrangeiras, ou ainda quando organizou em 1968,  com o auxílio do hoje professor emérito da UFRJ, Darcy Fontoura de Almeida, o evento “Colóquio sobre o Cérebro”. Seminário multidisciplinar sediado em Paris, conseguiu reunir os principais expoentes da intelectualidade francesa em torno de um tema que em princípio diria respeito apenas às ciências duras. Chagas Filho ainda atuou como presidente da Academia Pontifícia de Ciências do Vaticano, tendo sido responsável por uma abertura na instituição, que passou a congregar também pesquisadores adeptos de outras religiões que não a Católica Apostólica Romana.

A Casa de Oswaldo Cruz prepara uma versão impressa do Inventário do Fundo Carlos Chagas Filho, a ser lançada em breve, com a descrição completa deste conjunto documental, e um caderno de imagens selecionadas. Por ocasião do centenário de seu nascimento, em 2010, as pesquisadoras Nara Azevedo e Ana Luce Girão Soares de Lima, da COC, produziram uma fotobiografia e a exposição intitulada “Cientista Brasileiro: Profissão Esperança”, que pode ser visitada na sala 307 do Castelo Mourisco; e o livro “Recordações de Carlos Chagas Filho”, dos professores Darcy Fontoura de Almeida e Wanderley de Souza, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, da UFRJ.


Mais sobre Carlos Chagas Filho

Nasceu em 12 de setembro de 1910, no Rio de Janeiro, filho de Carlos Ribeiro Justiniano Chagas e Iris Lobo Chagas. Ainda como estudante freqüentou, em sucessão, os laboratórios de José da Costa Cruz, Miguel Ozório de Almeida e José Carneiro Felippe, do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), e concluiu o curso de medicina, em 1931. Simultaneamente, freqüentou o Curso de Aplicação do IOC, concluído em 1934. Foi efetivado em 1932 como assistente da cátedra de anatomia patológica e em 1935 foi aprovado em concurso para livre-docência da cátedra de física biológica daquela Faculdade. Ainda neste ano casou com Anna Leopoldina de Mello Franco, tendo quatro filhas: Maria da Glória, Silvia Amélia, Anna Margarida e Cristina Isabel.

Em 1937, aos 27 anos de idade, alcançou a cátedra de física biológica da Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil. A partir desta criou em 1945 o Instituto de Biofísica, que hoje leva seu nome, e do qual foi diretor por dois períodos (1946-1964/1970-1973). Ali, no âmbito pioneiro de um instituto universitário de pesquisas, introduziu métodos e técnicas da física e da físico-química no estudo de fenômenos biológicos. Com a morte do irmão Evandro Chagas em 1940, retornou ao IOC como superintendente interino do Serviço de Estudo das Grandes Endemias (1941-1942).

Em 1946 obteve o grau de doutor em ciências pela Universidade de Paris, ao apresentar a tese intitulada Quelques aspects de l’ électrogénèse chez l’ Electrophorus electricus. De 1951 a 1955 foi diretor do Setor de Pesquisas Biológicas do então Conselho Nacional de Pesquisas, atual CNPq, e integrou seu Conselho Deliberativo entre 1952 a 1960.

No panorama internacional, foi delegado brasileiro nas I, II, XIII, XIV, XV Conferências Gerais da Unesco, membro do Comitê Assessor de Pesquisas Médicas da OMS (1951-1962/1971-1973), vice-presidente e presidente da I e II Sessão do Comitê Científico das Nações Unidas sobre os Efeitos das Radiações Atômicas (1956), secretário-geral da I Conferência das Nações Unidas para a Aplicação da Ciência e da Tecnologia ao Desenvolvimento (1963), membro do Comitê Consultivo para a Aplicação da Ciência e da Tecnologia ao Desenvolvimento, do Conselho Econômico e Social das Nações Unidas (1964-1980), embaixador e chefe da Delegação Permanente do Brasil junto à Unesco (1966-1970).

De 1964 a 1966 foi diretor da Faculdade de Medicina e de 1973 a 1977, decano do Centro de Ciências Médicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Integrou ainda a Academia Brasileira de Ciências, a Academia Nacional de Medicina (1959), a Academia Brasileira de Letras (1974), a Academia de Ciências da América Latina (1982) e a Academia de Ciências do Terceiro Mundo (1983). Membro da Academia Pontifícia de Ciências do Vaticano (1961) foi seu presidente durante quatro mandatos consecutivos, entre 1972 e 1988, onde se destacou na datação do Santo Sudário, no processo de reabilitação de Galileu Galilei e na elaboração de documento contra a utilização da energia nuclear para fins não pacíficos. Morreu em 16 de fevereiro de 2000, no Rio de Janeiro.