Com uma palestra sobre um dos trabalhos de restauração mais complexos do País – as Pinturas de Eliseu Visconti no Theatro Municipal do Rio de Janeiro –, a Oficina-Escola de Manguinhos marcou o encerramento de mais uma turma do Curso de Auxiliar em Conservação e Restauração de Edifícios Históricos. A exposição foi feita nesta quarta-feira, 13, pelo professor Edson Motta Júnior, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), um dos coordenadores da restauração.
Para Motta Júnior, curso oferecido pela COC ajuda a suprir demanda do mercado por profissionais de conservação e restauração. Foto: Peter Ilicciev |
Do delicado trabalho de remoção das telas das paredes do teatro para a recuperação à reconstituição de partes apagadas pelas infiltrações – como o rosto de Virgilio em uma das obras -, o professor de Conservação e Restauro da Escola de Belas Artes da universidade detalhou o processo aos alunos do curso e convidados.
“Não sabíamos se a tinta estava colada ao faceamento ou à tela. Foi um momento de grande tensão, pois tínhamos apostado nos melhores métodos, mas sempre há um grau de incerteza. Milagrosamente, não perdemos um milímetro quadrado de tinta”, comentou Motta Júnior, sobre o processo de remoção das telas.
Ao explicar a complexidade desse trabalho, o professor ressaltou a importância de programas de formação de profissionais para a área de restauração, que enfrenta escassez de mão de obra no País. Ele afirmou que há grande necessidade de pessoas qualificadas no que chamou de “mercado Pereira Passos”, uma referência aos grandes prédios com interiores decorados com materiais ecléticos construídos no Rio na época da reurbanização proposta pelo então prefeito da cidade.
“Os grandes projetos que surgem hoje são destinados à conservação dessas obras (…) Os cursos hoje não preparam o profissional para entrar no Tearto Municipal e pensar conceitualmente seu interior (…) Vocês estão sendo preparados para isso”, afirmou. A Oficina-Escola de Manguinhos, ligada ao Departamento de Patrimônio Histórico da Casa de Oswaldo Cruz (COC), formou 24 profissionais, de um total de 70 inscritos que passaram por um processo seletivo. Presente no encerramento das atividades, o vice-diretor de Pesquisa, Educação e Divulgação Científica Paulo Elian, afirmou que novas turmas deverão ser abertas.
Esta edição formou 24 profissionais. Diferentemente das turmas anteriores, desta vez o curso foi aberto ao público em geral, o que possibilitou um grupo de alunos mais diverso. Foto: Peter Ilicciev |
Elian ressaltou a importância da interação das áreas de pesquisa e documentação com a de conservação e restauração de prédios históricos. “Para um trabalho como esse (no Theatro Municipal), pesquisas sobre documentos das intervenções anteriores são essenciais”, afirmou. A recuperação de algumas partes apagadas das obras do Municipal só foi possível graças ao acesso a uma fotografia do início do século 20 em boa resolução, segundo explicou antes Motta Junior.
A coordenadora da Oficina-Escola de Manguinhos, Cristina Coelho, lembrou que esta edição do curso foi aberta ao público em geral, diferentemente das outras turmas, que eram restritas a jovens cursando o Ensino Médio, o que trouxe maior diversidade ao corpo discente. Ela mencionou ainda o trabalho de acompanhamento contínuo dos alunos para evitar a evasão. “Não houve nenhuma desistência”, destacou Cristina.
Chefe do Departamento de Patrimônio Histórico, Ana Maria Marques parabenizou os organizadores do curso e os alunos por mais essa edição e ressaltou a importância do aprendizado contínuo. “A educação faz parte da nossa vida e não tem idade para acontecer”, disse. Após a palestra e a sessão de perguntas, alunos e convidados visitaram exposição dos trabalhos produzidos durante o curso.