A Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) e a Ecole des Hautes Études en Sciences Sociales (Escola de Estudos Avançados em Ciências Sociais – EHESS) firmaram convenção inédita de cotutela internacional. A parceria com a instituição francesa sediada em Paris permitiu a cotutela (parte do estudo foi feito na França) para o doutorado de Danielle Sanches de Almeida, aluna do Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde da COC. Depois de quatro anos de estudo, a defesa da tese “O Trato das Plantas: os intermediários da cura e o comércio de drogas na América Portuguesa, 1750-1808” será feita no final de julho. Danielle contou com a orientação dos professores Kapil Raj (EHESS) e Lorelai Brilhante Kury (COC).
O estudo aborda a expansão ultramarina e a circulação de novos produtos entre o Novo e o Velho Mundo, uma das grandes questões para a historiografia que se dedica ao comércio Atlântico e, também, o global. A estudante pretende apresentar uma história interconectada entre aqueles que forneceram produtos para o mercado médico na Europa e na América portuguesa e as formas de inserção de novos medicamentos pelo comércio global na segunda metade do século 18.
Perto de defender sua tese de doutorado, Danielle Sanches contou que o seu interesse pelo tema diz respeito aos fluxos de comércio existentes na segunda metade do século 18 e a importância que o Brasil ganhou nesse momento frente ao Império Português. Com isso, explicou, surgiu a pergunta: como um saber local, um conhecimento indígena, é apropriado e disseminado globalmente? Danielle acrescentou: “por exemplo, o chá, que é nativo da Ásia e, depois de algum tempo, passou a ser consumido mundialmente. Entender como esses mecanismos de comércio se davam e como, e por quem esses produtos eram disseminados foi algo que eu persegui durante todo o processo da tese”.
De acordo com Danielle Sanches, pouco tem sido discutido sobre os agentes que promoveram essa circulação em torno do globo: os comerciantes especializados – droguistas – e as suas companhias de comércio. “Por outro lado, os especialistas têm trabalhado com esse tema no que diz respeito à inserção, adaptação e consumo desses novos gêneros na América, na Europa, Ásia e África”, explicou.
Carioca, a estudante decidiu fazer a cotutela (parte do doutorado foi feito em Paris em 2015). Nesse período, cursou as disciplinas e pesquisou nos arquivos sob orientação do professor Kapil Raj. Em 2013, em 2016 em 2017, no Rio, ela concluiu as disciplinas na COC, sendo orientada por Lorelai Kury, professora “essencial em todo o processo”, frisou. Apesar da burocracia para a realização do curso em cotutela, Danielle ressaltou ter sido importante a participação de Kapil, responsável pelo convite para a dupla titulação.
Danielle se graduou em história na Universidade Federal Fluminense (UFF) e fez mestrado em história social na USP, onde estudou o comércio de gêneros medicinais no Rio de Janeiro e em Minas Gerais a partir da segunda metade do século 18. Em 2014 ganhou uma bolsa de investigação do Instituto Camões/Cátedra Jaime Cortesão-USP para pesquisar nos arquivos de Portugal. Atualmente, a estudante dedica-se ao desenvolvimento de pesquisas que utilizam dados georreferenciados, sobretudo em áreas relacionadas às Humanidades Digitais.