Arquitetos, representantes do governo e moradores de Manguinhos na mesma mesa compartilharam impressões, o apreço e a expectativa de construir um destino diferente para a igreja de São Daniel Profeta, projeto do arquiteto Oscar Niemeyer inaugurado em 21 de julho de 1960 no Parque São José, bairro de Manguinhos, pelo então presidente Juscelino Kubitschek. Completando 50 anos em 2010, a edificação é historicamente abandonada e ainda se mantém de pé graças ao uso e aos cuidados dos moradores da região.
O pesquisador da COC Renato Gama-Rosa fez uma historiografia do projeto. Explicou que a igreja foi encomendada pela Primeira-Dama do Estado à época, D. Elba Sette Câmara, em 1960, como parte do conjunto habitacional Parque São José, construído pelas Pioneiras Sociais para os funcionários do Estado.
“Oscar Niemeyer fez apenas alguns projetos de igrejas ao longo de sua extensa carreira, como a igreja de São Francisco de Assis, em Belo Horizonte; e a Catedral de Brasília, no Distrito Federal. No projeto para a São Daniel, Niemeyer procurou adotar o mesmo tipo de estrutura e vedação utilizados na Catedral de Brasília: concreto aparente na estrutura e vedação em vidros coloridos”.
Da esquerda para direita: Catedral de Brasília, de 1958, e a igreja de
São Daniel Profeta, na inauguração, em 1960
Mas Renato ainda informa que no mesmo ano de seu tombamento pelo patrimônio histórico, em 1966, reportagens de jornais indicavam o abandono do espaço. O pesquisador mostrou a manchete “Umidade e pouco caso com a Via Sacra de Guignard”, publicada pelo O Globo em 16 de maio de 1966, e destacou trechos de matéria publicada em 23 de março de 1967 no Jornal do Brasil: “abandono completo” e “esquecimento”, que alertavam problemas com cupins, maresia e infiltrações.
A convidada da mesa a falar na seqüência, Michelle Oliveira, moradora de Manguinhos e membro da paróquia da Capela São Daniel, destacou o atual uso social do espaço, com a celebração de missas dominicais e a realização de aulas de alfabetização e música para a população.
“Os moradores do bairro reconhecem a igreja como um patrimônio. Se a igreja está de pé é graças a comunidade. Gostaria muito de sair daqui hoje com um acordo de corresponsabilidade entre a comunidade e o Estado pela preservação desse patrimônio”, declara Michelle emocionada.
Da esquerda para a direita: Michele Oliveira, Renato Gama-Rosa
e Cristina Coelho (ambos da COC) e Liana Carneiro Monteiro (Inepac)
Para uma diretora departamental do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac), Liana Carneiro Monteiro, o relato tirou qualquer dúvida já levantada no passado sobre a relevância do tombamento da igreja.
“A igreja é amada e esse é o grande objetivo de um bem cultural. Como não temos recursos suficientes para as mais de 2 mil edificações tombadas no Estado do Rio, nos comprometemos a ajudar na construção de um projeto de conservação e a buscar recursos para as obras”, disse Liana.
A mesa-redonda termina com a pré-estreia de um vídeo da série “Cultos do Sertão”: Romeiros, os filhos de santo e jangadeiros”, filmado no Nordeste do Brasil em 1963 pelo cineasta inglês Adrian Cowell.