Em meio a discursos emocionados de parentes, amigos e ex-colegas de trabalho, a família de Carlos Alberto de Medina formalizou a doação do acervo pessoal do sociólogo à Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz). Na presença da presidente da Fundação Oswaldo Cruz, Nisia Trindade Lima, e do diretor da COC, Paulo Elian, a cerimônia de assinatura do termo de doação transformou-se em uma comovente homenagem ao homem e ao cientista social falecido em 2010, aos 79 anos.
Carlos Alberto de Medina iniciou sua trajetória nas ciências sociais na década de 1950 e logo se destacou com um trabalho pioneiro sobre favelas, quando atuava pela Sociedade para Análise Gráfica e Mecanográfica Aplicada aos Complexos Sociais (SAGMACS). Medina também se destacou como diretor do Centro Latino-americano de Pesquisas em Ciências Sociais (CLAPCS), vinculado à Unesco, e pesquisador do Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais (Ceris), órgão vinculado a organismos internacionais de ajuda a países subdesenvolvidos.
Além das lembranças do profissional que tem a trajetória marcada pela ação social, parentes e amigos também recordaram o homem vibrante e generoso, amante de jazz, torcedor apaixonado do Fluminense e fumante inveterado de cachimbo. Representando a família na mesa da cerimônia, a viúva Berenice Fialho Moreira falou sobre os 34 anos de convivência com Medina e a emoção de participar do evento.
“Uma das características marcantes do Medina era a diversidade. Ele escrevia sobre temas variados, romances, poesias, roteiros de teatro, também desenhava. A troca profissional sempre foi importante em nossa trajetória. Por isso é uma alegria e uma emoção muito grande fazer parte desta cerimônia. Gostaria de agradecer a todos que me ajudaram na organização dos papéis do Medina, desde quando a Nisia (presidente da Fiocruz), me fez este convite em 2016”, afirmou Berenice Moreira.
Socióloga e também pesquisadora da Casa de Oswaldo Cruz, a presidente Nisia Trindade Lima ressaltou a importância da chegada de mais um arquivo das Ciências Sociais ao acervo da Fundação Oswaldo Cruz. Destacando a participação de sua “mestre” Lícia Valladares, também presente na cerimônia, na consolidação dessa memória de cientistas sociais, Nisia agradeceu a confiança da família de Medina.
“Este é o momento de celebrar a trajetória de vida de uma pessoa tão criativa, que influenciou a formação de tantas pessoas. Carlos Alberto de Medina é um personagem fantástico, com uma diversidade de trabalhos que são inspiradores. A ideia é manter viva essa memória e desafiar as novas gerações a encontrar caminhos de pesquisa, a entender a trajetória das Ciências Sociais e da sociedade brasileira”, disse Nísia.
O diretor da Casa de Oswaldo Cruz, Paulo Elian, também enfatizou a riqueza do acervo das Ciências Sociais disponível na Fiocruz e a sua importância para contar a história do país na segunda metade do século XX. “É uma satisfação muito grande realizar essa cerimônia. Com a doação, o arquivo do Medina sai da esfera privada e passa a ser um bem público. Aqui na Fiocruz nós valorizamos muito isso: a saúde como um bem público. O desafio então agora é nosso, de transformarmos, de forma plena, o acervo de um personagem tão importante em um bem de acesso público”, celebrou.
Chefe do Departamento de Arquivo e Documentação (DAD), da Casa de Oswaldo Cruz, Aline Lacerda explicou a relevância dos arquivos enquanto “representações documentais de trajetórias de vida” e também falou sobre a alegria de receber o material entregue pela família de Carlos Alberto de Medina. “Minha satisfação se renova, porque uma instituição de memória, como a Fiocruz, vai formando seu acervo ao longo dos anos. Hoje nós temos um acervo com mais de cem arquivos de sanitaristas, cientistas sociais, pesquisadores. Vira, então, uma referência não individual, mas de uma grande área de atuação”, afirmou.