Professor de divulgação científica da Universidade de Cornell, Bruce Lewenstein esteve na Tenda do Museu da Vida, em maio, quando proferiu uma palestra sobre a política dos modelos de divulgação científica e destacou que a comunicação pública da ciência tem sido explorada sob duas tendências: a unidirecional, que propõe uma comunicação de via única, sentido cientista para a sociedade; e a bidirecional, caracterizada por diálogos no processo comunicativo, com forte participação e postura ativa do público.
Na primeira tendência estão dois modelos: o de déficit e o contextual. O modelo de déficit é utilizado principalmente nos países em desenvolvimento. Nesse modelo, os cientistas dispõem de conhecimento e o público é carente de conhecimento e de fatos científicos e tecnológicos. O foco é a disseminação do conhecimento.
Ainda na mesma tendência está o modelo contextual que não considera o receptor totalmente deficitário de informação, mas que processa o conhecimento recebido de acordo com seus aspectos sociais e psicológicos. Segundo Bruce, neste modelo, o conhecimento local é relevante para a comunicação da ciência.
As comunidades locais são consultadas a respeito do seu contexto e do tema em questão. “Este conhecimento começa a ser aceito por instituições internacionais, como a Unicef, Unesco, o Banco Mundial etc”, afirma o professor. Ele ressalta ainda que é preciso saber ouvir e que grande parte dos cientistas é arrogante.
No modelo de participação pública, a audiência participa de assuntos e de políticas relacionadas à ciência e tecnologia, nas mesmas condições de cientistas, valorizando o diálogo e as relações entre ciência, tecnologia e sociedade.
É fato que o modelo do déficit vem sofrendo inúmeras críticas, entre elas a afirmação de que o conhecimento científico seja algo acabado e indiscutível. Adotando uma postura ainda mais crítica, esse modelo pode ser entendido como uma forma de manter o domínio dos especialistas sobre os não especialistas, ignorando a capacidade intelectual e política de um público não educado nas dimensões científica e tecnológica.
Já o modelo de participação pública crê em uma sociedade democrática e ativamente participativa nas decisões relacionadas às questões de ciência e tecnologia, tanto na determinação dos objetivos de pesquisas a serem desenvolvidas como no destino dos recursos provenientes de financiamento público.
Em meio à política dos modelos de divulgação científica, Bruce Lewenstein defende que se fortaleçam as ações de divulgação científica em ambientes informais, como museus e centros de ciência, para melhorar o ensino das ciências.