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As ideias que fazem o Estado andar: A Fundação Brasil Central e a imaginação territorial brasileira

19 maio/2011

O sociólogo João Marcelo Ehlert Maia apresentou no Encontro às Quintas os resultados da sua pesquisa “Os tenentes do Oeste: João Alberto, a Fundação Brasil Central e a imaginação espacial brasileira”, realizada de 2008 a 2010.

 

 

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Foto: Roberto Jesus Oscar (COC)

 

A Fundação Brasil Central (FBC), que teve origem na Expedição Roncador-Xingu, inicialmente comandada por João Alberto Lins de Barros (ministro da Coordenação de Mobilização Econômica e ex-tenente da Coluna Prestes), foi um órgão, criado em 1943, com o objetivo de “desbravar e colonizar as zonas compreendidas nos altos rios Araguaia, Xingu e no Brasil Central e Ocidental”, região alvo da chamada “Marcha para Oeste”, programa de colonização e ocupação de fronteiras impulsionado pelo então presidente Getúlio Vargas nos primeiros anos do Estado Novo. Essa iniciativa fundou as cidades de Aragarças, em Goiás, e Nova Xavantina, no Mato Grosso; assumiu a administração da Estrada de Ferro Tocantins; firmou convênios com outros órgãos para mobilização de trabalhadores do norte do país; construiu usinas de cana, estradas, campos de pouso, redes de comunicação; e adquiriu entrepostos comerciais.

 

 

Sobre os componentes da FBC, além de João Alberto de Barros, homem de confiança de Vargas, envolveram-se no projeto Arthur Hehl Neiva (filho do sanitarista da Fiocruz Arthur Neiva), burocratas e jovens aventureiros, caso dos irmãos Villas-Bôas.

 

 

O palestrante logo esclareceu que seu maior interesse foi investigar o “momento carismático da FBC e não a sua rotinização, e João Alberto de Barros foi um herói carismático”, no período de 1943 a 1947. Mas era preciso entender a história inicial da FBC, o papel dos protagonistas do órgão, as redes de aliança e a cronologia dos acontecimentos, e também analisar o discurso burocrático da Fundação.

 

 

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Público presente no Encontro. Em primeiro plano Magali Romero Sá,
coordenadora do Programa de Pós-Graduação da COC .
Foto: Roberto
Jesus Oscar (COC)


 

João Marcelo afirmou que três características comuns foram identificadas nos resultados da sua pesquisa: 1) A definição do território era “amorfa e vazia”; 2) o olhar para região era “geopolítico e colonial”; 3)  a narrativa dos desbravadores era “romântica e aventureira”, como se fosse um “neobandeirantismo”, já que o espaço era “incerto, instável, perigoso, desconhecido, inóspito”. Essas categorias daquele espaço “sem fim”, explicou o sociólogo, eram entendidas como “justificativa ideológica” para o Estado reorganizar, dominar, disciplinar o território. “O Estado não estava acabado, se construía ao longo do processo”, disse ele. Mas, para o pesquisador, não se tratava apenas de estratégias ideológicas de justificação, e sim de linguagens específicas que conferiam existência e concretude ao que se acreditava ser o Brasil Central.

 

 

A hipótese dele exigiu-lhe um entendimento sobre “pensamento social brasileiro” e o “Estado”. João Marcelo sugere que o pensamento social brasileiro pode ser interpretado como um repertório cultural disponível na forma de linguagens específicas. Ele parte do pressuposto que a melhor forma de estudar o efeito das ideias é através dos textos escritos.  Então, avaliou os registros literários, científicos e ensaísticos referentes ao universo cultural do Brasil Central, especificamente Viagem ao Araguaia, de Couto de Magalhães (1957) Problemas do Brasil, de Everardo Backheuser (1933), e Oeste, de Nelson Werneck Sodré (1941). Como o foco era uma agência de Estado (FBC), ele destrinchou o vocabulário empregado pelos agentes da Fundação nos documentos primários, como relatórios internos, entrevistas e artigos.

 

 

A expedição Roncador-Xingu objetivava a exploração do maciço central do país visando a integração com a Amazônia, com destaque para o Xingu. Ela partiu de Uberlândia, a “boca do sertão”, e seguiu pela fronteira da região amazônica, estendendo-se até o oeste dos estados do Mato Grosso e Paraná. Havia grande liberdade de atuação na expedição, o que às vezes gerava conflitos com os poderes locais e regionais. Outra questão crítica era que “o escritório da FBC ficava no Rio de Janeiro, longe das expedições que ficavam a espera de orientações”, disse o sociólogo. As atividades da FBC, extinta em 1967, foram incorporadas à Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste.

 

João Marcelo ainda lembrou que a fundação de Brasília e os planos de colonização do regime militar de 1964, assim como as Expedições Rondon, também são exemplos do Estado em marcha para delimitar e dominar o território.

 

João Marcelo Ehlert Maia tem doutorado em Sociologia pela Sociedade Brasileira de Instrução – SBI/IUPERJ (2006). Atualmente é professor adjunto do CPDOC/Fundação Getúlio Vargas, tendo experiência na área de Sociologia, com ênfase em Sociologia da Cultura, principalmente nos seguintes temas: intelectuais, pensamento social brasileiro e história das ciências sociais. Publicou os livros Pensando com a Sociologia (2009); e A terra como invenção: o espaço no pensamento social brasileiro (2008).

 

 

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Foto: Roberto Jesus Oscar (COC)