Em parceria com a historiadora Ilana Lowy, do Centre de Recherche Medicine, Science, Santé et Societé, de Paris, o pesquisador da Casa de Oswaldo Cruz Luiz Antônio Teixeira tem um artigo sobre prevenção de câncer cervical no Brasil veiculado na versão online da Social Studies of Science.
No artigo, os autores explicam que a maior parte dos estudos sobre câncer de colo do útero identifica a prevenção com um método único: o exame chamado Papanicolau (citologia exfoliativa). Luiz Teixeira destaca que “o trabalho mostra que esse método não foi utilizado da mesma forma em todos os lugares. No Brasil, entre as décadas de 1940 e 1950, um método alternativo para a detecção de neoplasias cervicais foi preponderante: a observação direta do colo uterino com um instrumento específico – o colposcópio”.
Segundo o autor, o desenvolvimento deste método “refletiu uma mistura complexa de interesses profissionais, políticas de governo, iniciativas locais e filantrópicas”. O uso de colposcopia como exame principal para a identificação de alterações malignas do colo do útero foi progressivamente diminuindo na década de 1970 e 1980, mas a sua longa vida útil e difusão generalizada mostram a possibilidade de desenvolvimentos específicos em ciência, tecnologia e medicina nas diversas formações sociais.
O artigo de Luiz e Ilana acentua que hoje, o câncer do colo do útero ainda é um sério problema de saúde pública no Brasil, atingindo principalmente as mulheres mais pobres, com maior dificuldade de acesso aos serviços de saúde. Apesar de lesões iniciais serem facilmente detectadas pelo teste de Papanicolaou, a realidade da saúde pública brasileira faz com que em algumas regiões, ou mesmo em comunidades específicas, nem mesmo a utilização rotineira do preventivo ocorra.
Muitas vezes, o processo de leitura dos exames, ou mesmo o segmento dos pacientes com resultados de exames “positivos” não se dá de forma
adequada. Para responder a esse problema, os especialistas vêm discutindo novas estratégias para a prevenção da doença, que incluem a utilização da vacina contra o HPV e do método “ver e tratar”. Nesse contexto, a discussão sobre estratégias locais como respostas a problemas do campo das ciências e da saúde pode iluminar as discussões sobre a melhor ferramenta para esse difícil trabalho.
A revista SSS é multidisciplinar, de grande circulação nas versões impressa e eletrônica, e publica artigos inéditos após avaliação dos pares nas áreas de ciência política, sociologia, economia, história, filosofia, psicologia social, antropologia, bem como artigos resultantes de pesquisas dos campos do direito e da educação.
Segundo a página eletrônica da Social Studies of Science, é o primeiro periódico em um ranking de 28 nas áreas de história e filosofia da ciência, nos índices do Social Science Citation index, do antigo ISI. Tem um fator de impacto considerado alto (1,373). O fator de impacto é a medida que reflete o número médio de citações feitas a artigos científicos publicados em determinado periódico. É empregado para avaliar a importância dos periódicos em suas áreas de conhecimento.