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Arquivo fotográfico da Fundação Rockefeller na Fiocruz ganha nominação da Unesco

16 dez/2022

O arquivo fotográfico das atividades da Fundação Rockefeller no combate à febre amarela e à malária no Brasil (1930-1940), sob a guarda da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), recebeu a nominação do Programa Memória do Mundo da Unesco (MoWLAC). A documentação mostra os esforços empreendidos pelo governo brasileiro e a Fundação dos Estados Unidos na eliminação do mosquito Aedes aegypti, vetor da febre amarela, e do mosquito Anopheles gambiae, vetor da malária. As fotografias também registram os estudos e o processo de produção da primeira vacina eficaz contra a febre amarela, produzida em Manguinhos e, até hoje, fornecida pela Fiocruz.

Abrangendo as ações no Brasil, com ênfase no Rio de Janeiro, Bahia e Ceará, o arquivo fotográfico é composto por 4.209 fotografias e 633 negativos de vidro e faz parte do acervo da Casa de Oswaldo Cruz, unidade dedicada à preservação do patrimônio cultural das ciências e da saúde sob a guarda da Fiocruz. A decisão da Unesco foi anunciada na 22ª reunião ordinária do Comité Regional do MoWLAC em 18 de novembro, em Aruba.

O programa Memória do Mundo é uma iniciativa internacional promovida e coordenada pela Unesco desde 1992, com o objetivo de garantir a preservação e o acesso ao patrimônio documental e digital de maior relevância para os povos do mundo. Segundo a historiadora e pesquisadora da Casa de Oswaldo Cruz, Aline Lopes de Lacerda, responsável pela submissão da candidatura desse conjunto fotográfico ao organismo internacional, o arquivo nominado pela MoWLAC está dividido em três séries documentais. 

A primeira é a série Serviço de Febre Amarela, que contém registros sobre a campanha de erradicação do mosquito Aedes aegypti nos estados brasileiros e em países da América do Sul, além de registros dos estudos e pesquisas sobre a forma silvestre da febre amarela e sobre o processo de produção da vacina contra a doença. 

Já a série Serviço de Malária do Nordeste abrange os esforços pela erradicação do mosquito Anopheles gambiae, vetor da malária, durante uma epidemia da doença ocorrida no nordeste do país, em 1939. Por último, a série Exposições do Serviço de Febre Amarela e do Serviço de Malária do Nordeste, apresenta os registros da exibição dos trabalhos realizados no Brasil durante os anos de 1930 e 1940 na IX Conferência Sanitária Pan-Americana, na Exposição de Chicago e na Exposição do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP).

Foto em preto e branco mostrando médico coletando sangue de criança
Dr. Novais fazendo sangria para prova de proteção. Rio Canaticu: Foto: Acervo COC/Fiocruz

Histórico do arquivo 

A Fundação Rockefeller foi criada em 1913, no contexto da remodelação dos códigos sanitários internacionais vivenciada no início do século 20. Instituição filantrópica e de cunho científico, atuou principalmente em educação, medicina e sanitarismo. Associada a um grande grupo industrial e comercial dos Estados Unidos liderado pelo milionário John D. Rockefeller, a Fundação priorizou o campo da saúde pública e atuou inicialmente no sul daquele país. Com o sucesso em território estadunidense, o trabalho também foi desenvolvido em outros países com necessidade de controle de enfermidades como ancilostomíase, febre amarela e malária.

Por meio da recém-criada Junta Internacional de Saúde e com base em convênios de cooperação com instâncias governamentais federal e estadual em diversos países, a Fundação Rockefeller atuou em grande parte da América Latina e chegou ao Brasil em 1916. 

No entanto, o convênio com o governo brasileiro foi feito em 1923, o que garantiu a cooperação médico-sanitária e educacional para programas de erradicação das endemias, problema grave e caro ao governo, sobretudo em relação às regiões do interior, onde os trabalhos se concentraram no combate à febre amarela e mais tarde à malária. 

A partir de 1930, a Fundação intensificou e institucionalizou suas atividades, atuando lado a lado com organismos governamentais, notadamente no combate à febre amarela, doença que acreditavam poder erradicar do país. Esse processo foi simultâneo à sua associação com os serviços constituídos para atuar nesse mesmo cenário – como o Serviço Nacional de Febre Amarela e o Serviço de Malária do Nordeste –, o que concorreu para ampliar o alcance de suas ações, ao mesmo tempo em que propiciou uma troca de experiências e influências entre as instituições brasileiras e a estadunidense. 

A Fundação Rockefeller atuou em duas grandes vertentes, nas campanhas de erradicação do mosquito vetor da febre amarela e em pesquisas epidemiológicas em campo. Por outro lado, desenvolveu atividades em laboratório para aprofundar os conhecimentos sobre a doença e produzir uma vacina eficaz contra ela. 

A partir de 1940, com laboratório já montado e fabricando a vacina antiamarílica, a Fundação Rockefeller paulatinamente transfere o controle de suas atividades para o já estruturado Serviço Nacional de Febre Amarela. Só em 1950 se retirou formalmente do controle dessas atividades, passando a direção do laboratório de pesquisas e de produção da vacina para o Instituto Oswaldo Cruz (IOC).