As doutorandas Letícia Pumar, Juliana Manzoni e Maria Letícia Bizzo vão participar do congresso “América Latina e a Genebra Internacional no entreguerras: o início da integração regional e internacional”. O encontro será nos dias 28 e 29 de outubro no campus da Universidade de Genebra.
Juliana, Letícia e Maria Letícia apresentam-se no colóquio “América Latina e a
Genebra Internacional no entreguerras: o início da integração regional e
internacional”, na Universidade de Genebra.
Integrante da mesa “Intelectuais, idealismo pacifista e projetos de cooperação universal” formada pelos professores Olivier Compagnon, do Instituto de Altos Estudos sobre América Latina da Sorbonne de Paris, e Corinne Pernet, da Universidade St.Gallen, na Suiça, a doutoranda Letícia Pumar vai apresentar o trabalho “Por uma ciência universal: a performance de médicos e cientistas brasileiros na cooperação intelectual no projeto da Liga das Nações, entre 1920 e 1940”, na primeira sessão do colóquio internacional.
Preparando-se para a viagem, Letícia vive uma mescla de sentimentos — “alegria, expectativa e tensão, diz ela”. Sua pesquisa visa “refletir sobre a atuação de um grupo de intelectuais brasileiros, principalmente médicos e cientistas, nos debates sobre a cooperação intelectual na Liga das Nações, após a Primeira Guerra Mundial,”.
Ela começou o doutorado este ano e vai aproveitar a viagem para conhecer os arquivos da ONU, em que certamente vai encontrar “dados preciosos” para sua tese, que faz com a orientação de Simone Kropf.
A sessão intitulada “Especialistas, pesquisas e construção de normas: a questão do trabalho” vai contar com a presença do professor José Antonio Sánchez-Román, da Universidad Complutense de Madrid e da doutoranda da Casa de Oswaldo Cruz Juliana Manzoni. Ela fará uma apresentação sobre a participação da América Latina nos debates que visavam a padronização de produtos biológicos, mostrando qual foi o papel do médico alemão Rudolf Kraus.
Juliana começou seu doutoramento na COC em 2009 e acompanha a trajetória do médico alemão Rudolf Kraus como diretor de quatro institutos bacteriológicos e soroterápicos, tanto aqui na América Latina como na Europa, entre as décadas de 1910 e 1920. Ao estudar o processo de produção de soros e vacinas, ela tenta esclarecer como se relacionavam os cientistas de países do Cone Sul e os de língua alemã, no início do século 20.
Sob a orientação de Magali Romero Sá, no momento Juliana está na etapa final de sua estadia em Giessen, cidade próxima à Frankfurt, onde faz sua “bolsa sanduíche” com subsídios do Programa Conjunto de Bolsas de doutorado na República Federal da Alemanha, um convênio entre a Capes, CNPq e a instituição alemã de financiamentos à pesquisa, DAAD.
Para Juliana, “a trajetória profissional de Rudolf Kraus ilustra diversas circunstâncias da ciência brasileira como, por exemplo, a concorrência com a vizinha Argentina e a introdução dos debates sobre a padronização da fabricação de soros e vacinas, que vinham sendo conduzidos pela Organização de Saúde da Liga das Nações durante a década de 1920”.
Ela diz ainda que a carreira do médico “mostra que a transferência de conhecimentos ocorria em uma via de mão dupla entre Europa e América do Sul, pois Kraus importou cobras brasileiras e a metodologia de Vital Brazil para a produção de soro anti-ofídico de São Paulo para Viena”.
A nutricionista Maria Letícia Galluzzi Bizzo também estará no colóquio internacional em Genebra, como uma das integrantes da sessão “Universalismo e particularidades regionais”, apresentando “América Latina e nutrição internacional: canais de integração entre as guerras mundiais”. Além dela vão falar Véronique Plata, da Universidade de Genebra, e o professor de história Norberto Osvaldo Ferreras, da Universidade Federal Fluminense.
Sob a orientação de Nísia trindade Lima, Letícia Bizzo começou o doutorado na Casa em 2007 e, em sua tese, tenta desvendar o papel da Organização Internacional do Trabalho e da Liga das Nações como “lugares de ideias, a partir dos quais se estabeleceu uma agenda internacional de nutrição no entreguerras”.
Para Letícia, essas ideias “contribuíram para a configuração de agendas nacionais de ciência e políticas, bem como para um intercâmbio entre os países latino-americanos em torno desse tema, favorecendo a integração científica regional”. Ela destaca ainda que “particularmente nos cenários argentino e brasileiro estabeleceu-se um protagonismo regional em nutrição, diante de iniciativas desencadeadas em Genebra”.
Letícia investiga como o programa de nutrição das agências internacionais deram início ao processo que culminaria com a criação, em 1945, da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), aprofundando a integração científica regional em nutrição.