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Agenda 2030 entra na pauta dos museus

13 nov/2019

Diego Bevilaqua foi eleito para o conselho do Cimuset/Icom. Foto: Ascom/COC.
 

A implementação da Agenda 2030 foi aprovada por unanimidade como uma das resoluções da 25ª Conferência Geral do Conselho Internacional de Museus (Icom, na sigla em inglês), maior organização não governamental de museus do mundo. O evento foi realizado em setembro na cidade de Kyoto, no Japão. Durante a conferência, o assessor técnico de Divulgação Científica da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), Diego Vaz Bevilaqua, foi eleito para o conselho do Comitê Internacional de Museus e Coleções de Ciência e Tecnologia (Cimuset), um dos comitês de atuação do Icom.

Em 2015, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou a resolução que estabeleceu a Agenda 2030. O documento inclui 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e 169 metas a serem alcançados até 2030, com vistas a erradicar a pobreza e promover vida digna para todos, dentro dos limites do planeta. Em resposta a esse compromisso, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) instituiu em 2017 a Estratégia Fiocruz para a Agenda 2030, elaborada a partir de uma análise histórica e de conjuntura e de uma prospecção de futuro para a instituição.

“Esse é um tema que até hoje não estava colocado na agenda dos museus e aparece a partir desta conferência geral [do Icom] como algo a ser considerado”, afirmou Diego. “Dentro do próprio Cimuset, estamos, neste momento, discutindo a possibilidade de uma premiação para museus de ciência para ações inovadoras que contribuam para a Agenda 2030”, complementou. O encontro também aprovou outras quatro resoluções, que abordam questões que vão do compromisso com o conceito de museus como polos culturais a medidas para proteger coleções e prevenir danos.

Confira mais detalhes na entrevista com Diego Bevilaqua.

A decisão sobre a proposta de uma nova definição de museu, levada à conferência de Kioto, foi adiada. Por que o Icom quer essa mudança?

Diego Bevilaqua: Na última conferência geral do Icom [em 2016], foi aprovado um calendário em que um grupo de trabalho iria buscar novas alternativas para a definição de museu atual. Essa definição é uma recomendação geral a todas as nações e organismos locais de museus sobre o que o Icom, a maior instituição museológica do mundo, entende por museu. Apesar de ser uma definição teórica, afeta a legislação de muitos países e as suas políticas públicas para a área.

O que se entendeu nessa conferência é que a definição em vigor desde os anos 1970, com pequenas modificações, está obsoleta e não reflete toda a riqueza do campo de museus, que mudou muito nos últimos anos. A ideia é definir de forma apropriada o campo de museus, que muito vem se modificando e absorvendo novas perspectivas nos últimos 40 ou 50 anos.

A proposta levada à assembleia geral trazia muitas inovações importantes, principalmente no que diz respeito à relação entre museus e suas comunidades e a função social do museu. No entanto, a proposta foi divulgada poucas semanas antes da reunião […], e muitos comitês internacionais e nacionais não puderam discutir com seus afiliados antes de tomar uma decisão. Por isso, optou-se por um adiamento.

Quando deverá ocorrer uma nova rodada de votação sobre o tema?

Diego Bevilaqua: A próxima assembleia extraordinária deve acontecer ano que vem, em Paris. Até o próximo ano, a ideia é que os comitês nacionais e internacionais, inclusive o Icom Brasil, promovam discussões sobre o tema.

Como foi a discussão sobre a adesão dos museus à Agenda 2030?

Diego Bevilaqua: A Conferência Geral do Icom se apoiou em quatro grandes eixos. Um dos eixos era a questão da descolonização e repatriação de bens. A África está sendo muito ativa, colocando essa questão principalmente aos membros europeus do Icom. Outro grande eixo é o da proteção dos acervos e prevenção de desastres, muito motivado pelo que aconteceu com o Museu Nacional. Surgiu também a questão da sustentabilidade e da adesão à Agenda 2030. E por fim, o quarto eixo, que acabou se sobrepondo aos outros, a nova definição de museu.

A discussão sobre a adesão de museus à Agenda 2030 tomou pelo menos duas conferências principais: uma proferida pelo Sebastião Salgado, que falou sobre a Amazônia e o seu trabalho de fotografia; e outra mesa-redonda sobre museu e sustentabilidade, sobre a possibilidade de contribuição dos museus à Agenda 2030.

Esse é um tema que até hoje não estava colocado na agenda dos museus e aparece a partir desta conferência geral como algo a ser considerado. Dentro do próprio Cimuset, estamos, neste momento, discutindo a possibilidade de uma premiação para museus de ciência para ações inovadoras que contribuam para a Agenda 2030. Esta é uma das minhas responsabilidades: pensar de que forma podemos fazer isso.

Pode nos falar sobre sua escolha para conselheiro do Cimuset/Icom e sobre como pretende pautar sua atuação?

Diego Bevilaqua: O Cimuset é um dos 31 comitês internacionais do Icom, destinado a congregar os museus de ciência e tecnologia, tal qual o Museu da Vida da Fiocruz. Havia submetido, com a aprovação da direção [da COC], a minha candidatura a membro do conselho executivo do Cimuset, que gerencia o dia a dia do comitê, planeja reuniões e projetos extraordinários, faz recomendações e elabora publicações sobre o campo de ciência e tecnologia. A Maria Esther Valente, do Mast [Museu de Astronomia e Ciências Afins], que vinha representando a América Latina nesse comitê, deixou o conselho executivo após o limite de quatro mandatos para os quais foi eleita. No próximo triênio, para o qual fui eleito, a ideia é estreitar esse vínculo, inclusive com as próprias redes locais e regionais de divulgação científica e museus de ciência e tecnologia da América Latina.

Qual a importância da presença da Fiocruz em uma organização com relações formais com a Unesco?

Diego Bevilaqua: A Fiocruz tem historicamente essa vocação de trabalhar os seus temas de forma internacional. Isso nos leva ao próprio Oswaldo Cruz, que estabeleceu várias parcerias internacionais e montou importantes exposições ligadas à saúde pública como forma de divulgação do trabalho da jovem instituição que dirigia. Na Fiocruz, a cultura sempre foi um eixo entendido como parte da saúde. Portanto, a atuação da Fiocruz junto a este organismo multilateral é muito importante, pois nos permite fortalecer essa perspectiva ligada à cultura, à inclusão social, à promoção da cidadania e à melhoria da qualidade de vida.

Num momento de fragilização de órgãos ligados à preservação e à promoção do patrimônio brasileiro, com falta de recursos, como é possível incentivar a área cultural no país, especificamente os museus?

Diego Bevilaqua: Existe uma questão conjuntural, governamental. Neste momento, temos um governo que assume assuntos de ciência e cultura como periféricos à sua agenda prioritária. Portanto, cabe ao campo articular-se, estruturar-se, estreitar sua relação com essas redes internacionais. Como vimos recentemente na questão ambiental, conseguimos trazer esses assuntos de volta à agenda da sociedade através de uma conexão principalmente de redes internacionais. Nessa perspectiva de fragilização conjuntural, é cada vez mais importante participarmos e fortalecermos essas redes multilaterais de organizações internacionais.