A Casa de Oswaldo Cruz e a presidência da Fiocruz festejaram, no castelo mourisco do campus de Manguinhos, no Rio de Janeiro, o centenário de nascimento do cientista Carlos Chagas Filho nesta segunda (6/12).
Presidente da Fiocruz Paulo Gadelha fala durante a abertura da exposição
(Fotos: Vinícius Pequeno/COC)
Os participantes da festa conferiram a estreia da versão recital da ópera Chagas, participaram da abertura da exposição e dos lançamentos da fotobiografia Cientista brasileiro, profissão esperança, e do livro de depoimentos Recordações de Carlos Chagas Filho.
Com cenários e montagem de Leo Bungarten, a exposição contou com a curadoria de Nara Azevedo e Ana Luce G. de Lima, pesquisadoras da COC e autoras da fotobiografia, em que revelam as múltiplas facetas do cientista.
A mostra tem cinco ambientes, em que Chagas filho é apresentado em fotos, textos e vídeos, desde a infância com sua família, seus amigos, o gosto e o prazer pelos esportes. Depois de atravessar a primeira sala, pode-se conhecer o pesquisador em seu laboratório e suas atividades, em que se dedicava à ciência e cultura mundo afora.
Como a exposição, a fotobiografia também apresenta e analisa as várias frentes de atuação de Chagas Filho e reproduz generosamente, em edição primorosa da Editora Fiocruz, inúmeras fotografias do arquivo pessoal do cientista.
Ele fez medicina, como o pai, de quem herdou o nome, e o irmão Evandro, que obtiveram reconhecimento pela dedicação à pesquisa em medicina tropical voltada para a saúde pública. No entanto, Chagas Filho partiu para uma carreira diferente na ciência. Ele acompanhava as descobertas da biologia, e acabou inaugurando um novo campo de pesquisa no país.
Aos 27 anos, fez concurso e conquistou a cadeira de física biológica. Montou um laboratório, que se transformou, em 1945, no Instituto de Biofísica da Universidade do Brasil. Chagas Filho foi dos primeiros a articular ensino e pesquisa no Brasil, no instituto que ganhou o seu nome e vem formando várias gerações na UFRJ.
Foram incontáveis as suas participações em fóruns nacionais e internacionais da ciência e da cultura, como a Academia Brasileira de Letras, de onde foi um dos imortais, a Unesco e outras agências das Nações Unidas, bem como a Academia Pontifícia de Ciências, do Vaticano.
Ele atuou como dirigente e representante do Brasil, sempre à frente de causas em prol da paz, contra o armamento nuclear, os cuidados com o meio ambiente e a aplicação da ciência e tecnologia ao desenvolvimento mais igualitário entre as nações.
Em Recordações de Carlos Chagas Filho, os professores e parceiros no Instituto de Biofísica da UFRJ, Darcy Fontoura de Almeida e Wanderley de Sousa, reuniram uma coleção de depoimentos sobre o homenageado.
Récita da ópera
Foi na “Tenda da ciência”, no campus da Fiocruz, a estreia no Rio de Janeiro da récita da ópera Chagas, de Silvio Barbato e Alexandre Shubert, com libreto de Renato Icarahy. A apresentação contou com a Sinfônica da UFRJ, sob a regência do maestro André Cardoso Santos.
Maestro André Cardoso Santos e o solista Maurício Luz durante apresentação
da Sinfônica da UFRJ
Os solistas foram Maurício Luz, Luciana Costa e Silva e Henrique Luperci, sendo do último a interpretação da peça que teve a melhor acolhida da platéia: em ritmo de xaxado e baião, lembrando os desafios e cantorias típicas do sertão mineiro e nordestino, ele reproduzia o diálogo, capitaneado pelo matuto:
“É de sangue que ele gosta, doutô
É o mesmo que picou a menina?
É um bicho esquisito
Ele vem chupar o sangue
Ele morde gato
Morde frango
…
É o bicho de parede
Bicudo
Cascudo
Chupão
É tanto nome para o coisa ruim
Barbeiro bum-bum”