Para estudar as transformações da Helicobacter pylori, bactéria associada a doenças como úlcera, gastrite e câncer que vive na mucosa do estômago de 80% da população portuguesa e de 50% da população mundial, o professor de sociologia Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, José Arriscado Nunes, traz para o campo das humanidades o conceito de difração, originado na física. “Neste caso, a difração é o encontro e a associação estreita de duas espécies diferentes”, diz ele, ao explicar que a ideia é estudar as modificações da bactéria no curso de sua história. “Falamos de uma coevolução de 50 mil anos”, período em que, acredita-se, ocorre a coexistência entre os homens e este microorganismo.
Em sua palestra, no dia 22 de março, a primeira do semestre da série conhecida como ‘Encontro às Quintas’, o pesquisador traçou a trajetória da Helicobacter pylori. Ao longo do tempo, o parasita vem provocando percepções alternadas, ora sendo identificado como “entidade inexistente no ambiente ácido do estômago” outra como “entidade patogênica responsável por infecções”. Despertou atenção, em 2005, quando os médicos australianos Robin Warren e Barry Marshall ganharam o prêmio Nobel de medicina ao derrubar a crença centenária de que não sobreviveria no estômago.
Hoje a utilização de antibióticos para combater a Helicobacter pylori suscita controvérsias e novos estudos vêm sendo desenvolvidos em campos como a genética, a biologia e a epidemiologia, em que são discutidos os riscos da erradicação do microorganismo. Já se sabe que sua presença no esôfago reduz os sintomas da asma e há indícios de que a existência do parasita no organismo evite a obesidade.
Isso tudo, segundo José Arriscado, “tem a ver com os efeitos das interferências humanas e os diferentes resultados que se obtêm.” As bactérias agridem o organismo humano, mas nos últimos anos passaram a ser desenvolvidas com virulência atenuada, e funcionam como transportadores de vacinas.
A palestra do professor Arriscado Nunes foi gravada em vídeo e pode ser vista aqui.
“Mulheres, mães e médicos: discursos maternalistas no Brasil na década de 1920” é o tema da próxima palestra, de Maria Martha de Luna Freire, professora do curso de mestrado em saúde coletiva da UFF. Será no dia 12 de abril, às 10 horas, na sala 407 do prédio da expansão do campus da Fiocruz em Manguinhos.