Professor titular de Sociologia no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Marcelo Ridenti apresentará a palestra Os intelectuais e o golpe de 1964: entre a oposição e a cumplicidade na primeira edição do Encontro às Quintas de 2024. O evento é on-line e será transmitido, a partir das 10h, no canal da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) no YouTube.
Autor de livros e artigos no Brasil e no exterior, o mais recente dos quais O segredo das senhoras americanas – intelectuais, internacionalização e financiamento na Guerra Fria cultural (Unesp) e o romance histórico Arrigo (Boitempo), Ridenti debaterá a ambiguidade da convivência dos intelectuais brasileiros com a ditadura de 1964, em que se alternaram episódios de críticas ao regime e de conciliação política e acomodação de interesses corporativos e pessoais.
“Muitos intelectuais fizeram críticas ao regime militar em algum momento no decorrer de mais de vinte anos de sua vigência. Após a derrota da ditadura, esse aspecto tende a prevalecer na autorrepresentação que fazem do período, como se tivesse havido unanimidade entre eles na oposição ao autoritarismo. Algumas pesquisas têm questionado essa reconstituição do passado, mostrando que havia oposição, mas também apoio de intelectuais aos governos militares, às vezes tomando posições políticas diferentes conforme cada conjuntura ao longo do período. Tudo isso se evidencia na pesquisa que realizei sobre a Guerra Fria cultural, que resultou no livro O segredo das senhoras americanas“, afirma o professor da Unicamp.
Em sua apresentação no Encontro às Quintas, Marcelo Ridenti debaterá especialmente a recepção ao golpe de 1964 por autores ligados direta ou indiretamente à revista Cadernos Brasileiros, sediada no Rio de Janeiro, que publicou 62 números de 1959 a 1970, com a colaboração de intelectuais de diversos espectros políticos.
“A revista era financiada pelo Congresso pela Liberdade da Cultura (CLC), sediado em Paris, cujo objetivo autoproclamado era a defesa da liberdade de expressão em escala internacional contra o totalitarismo, de esquerda ou de direita. Por volta de 1965, descobriu-se que o CLC era financiado secretamente pela Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA), cujo patrocínio foi substituído por recursos da Fundação Ford. O exame de diversos documentos, das matérias publicadas na revista Cadernos Brasileiros, e especialmente da troca de correspondência entre os responsáveis pela revista – em âmbito internacional – é revelador de que as relações dos intelectuais com o golpe de 1964 foram muito mais complexas do que o senso comum estabelecido a respeito”, explica.
O debatedor será o professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB) Gustavo Rodrigues Mesquita. Com experiência em ensino e pesquisa sobre problemas do pensamento político, principalmente de teorias da democracia e seus reflexos na política brasileira, direitos humanos, relações raciais e Brasil-Estados Unidos, Gustavo Rodrigues Mesquita é autor de Gilberto Freyre e o Estado Novo e coautor de: Guerra Fria e Brasil: para a agenda de integração do negro na sociedade de classes (Alameda) e Foundations: US foreign policy and anti-racism in Brazil (Routledge).
O Encontro às Quintas é uma iniciativa do Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde (PPGHCS) da Casa de Oswaldo Cruz, coordenada pelo professor e pesquisador Marcos Chor Maio.
Encontro às Quintas
Os intelectuais e o golpe de 1964: entre a oposição e a cumplicidade
Expositor: Marcelo Ridenti (Unicamp)
Debatedor: Gustavo Rodrigues Mesquita (UnB)
Coordenação: Marcos Chor Maio (COC/Fiocruz)
Data: 21/03/2024
Horário: 10h
Evento on-line
Transmissão: Canal da COC no YouTube