HISTÓRIA DAS CIÊNCIAS: SABERES, LUGARES E PRÁTICAS
Compreende estudos sobre a constituição histórica das ciências como forma de conhecimento e prática sócio-cultural que se delimita, distingue e organiza segundo critérios epistemológicos, sociais e institucionais referidos a contextos históricos específicos. Congregando diferentes abordagens da historiografia e dos estudos sociais da ciência, busca-se compreender as ciências como atividade inscrita nas dinâmicas da cultura e da sociedade e que ao mesmo tempo impacta e conforma tais dinâmicas.
Pensa-se a historicidade das ciências em várias dimensões: os múltiplos atores individuais e coletivos envolvidos no fazer científico, suas identidades, carreiras e papéis; os espaços e lugares variados em que as ciências são praticadas (como laboratórios, instituições de pesquisa e ensino, museus, coleções, trabalho de campo, associações, expedições, dentre muitos outros) e os critérios de legitimação do conhecimento científico, a dimensão material das ciências, que envolve tanto os instrumentos, técnicas e inscrições pelos quais os conhecimentos são produzidos, quanto os impressos e outros suportes por meio dos quais são comunicados.
Leva-se também em conta a circulação dos saberes, práticas, indivíduos e objetos científicos, em distintas escalas e com ênfase nas conexões entre o local, o nacional e o global, sem descurar das assimetrias de poder, que conferem à América Latina e demais regiões do “Sul Global” posição de destaque por desafiarem potencialmente narrativas e abordagens eurocêntricas.
Abrange temáticas variadas em recortes temporais igualmente diversos: estudos sobre teorias científicas a respeito de relações étnico-raciais, entre as quais a eugenia; trajetórias científicas individuais e institucionais; a história de campos disciplinares e a produção de conhecimento nestes campos (biomedicina, psiquiatria, ciências da vida, ciências sociais, psicologia e outros saberes psi, ciências da terra, entre outros); viagens e expedições científicas; os cientistas enquanto intelectuais, intérpretes envolvidos na construção do Estado e da nação; diplomacia e relações transnacionais nas ciências; relações entre ciência e poder; saberes e concepções sobre a natureza e relações entre o conhecimento científico e mudanças sócio-ambientais; divulgação e comunicação de conhecimentos; marcadores sociais como gênero/cor/etnia/classe nas trajetórias científicas.
HISTÓRIA DAS POLÍTICAS, INSTITUIÇÕES E PROFISSÕES EM SAÚDE
Compreende investigações sobre a saúde como objeto de políticas, instituições e profissões específicas em distintos contextos sócio-culturais. Tem como perspectiva geral analisar as ideias, ações e práticas coletivas, públicas e voluntárias, organizadas institucionalmente para assistir, proteger e socorrer os indivíduos e a sociedade dos efeitos da doença e da pobreza. Busca também investigar as distintas concepções de saúde – e as práticas, espaços e profissões a elas relacionadas – por parte de grupos sociais diversos (do Estado e da sociedade civil), bem como a relação entre o campo da saúde e as dinâmicas e esferas mais amplas da vida política e social.
Contempla estudos sobre: a formulação e a implementação de políticas públicas de saúde nos Estados nacionais; a relação entre tais políticas e agendas internacionais; atores e dinâmicas da saúde global; a saúde e a construção do Estado, em termos de instituições, burocracias e estruturas administrativas especializadas; a saúde como chave para a construção e interpretação da nação; o pensamento social em saúde; os atores, instituições e políticas referidos ao debate sobre sistemas públicos de saúde e à concepção de saúde como direito; a saúde como dimensão de cidadania, de combate às desigualdades e de promoção de equidade; os efeitos da pobreza (acesso a água/saneamento, alimentação/fome) na saúde dos indivíduos;
as distintas categorias profissionais em saúde; as instituições filantrópicas (hospitais, asilos, etc.), organizações voluntárias e profissões relacionadas à assistência em saúde (como enfermagem, serviço social, entre outros campos); políticas e serviços de saúde em resposta a emergências sanitárias; processos relativos à comunicação, informação e gestão de dados em saúde; movimentos sociais em saúde; marcadores sociais como gênero/cor/etnia/classe nas políticas, profissões e instituições em saúde e, por fim, a relação entre saúde, ambiente e ecologia. Ênfase particular é conferida às políticas, instituições e profissões de saúde no Brasil e demais países da América Latina.
Reúne pesquisas sobre as doenças enquanto fenômenos socioculturais historicamente constituídos e os saberes, práticas, grupos e profissões que as conceituaram e enfrentaram, os quais incluem tanto a medicina dita “científica” ou “oficial”, quanto os conhecimentos e ofícios considerados “populares” ou alternativos a ela. Nesse sentido, contempla estudos sobre as disputas e acomodações entre as distintas racionalidades médicas e a construção de hegemonia da autoridade médica nos discursos e práticas relativos às doenças e às artes de curar. Busca analisar os processos pelos quais indivíduos e grupos (tanto pacientes quanto médicos e demais atores) representaram, conferiram significados e agiram face à experiência da doença e do adoecimento, e como tal experiência produziu impactos sobre a percepção e a organização do mundo social, bem como inflexões nas identidades individuais e coletivas.
Abrange temáticas variadas, como: as formas socioculturais que envolvem o cuidado ao doente, compreendendo conhecimentos, habilidades, instituições e práticas terapêuticas; os processos de medicalização; especialidades médicas e tecnologias médicas; as relações entre medicina, poder e agentes econômicos (como a indústria farmacêutica); concepções e práticas relativas a doenças específicas e a categorias de doenças; ações destinadas a promover a produção de dados, o controle, a prevenção e o tratamento destas enfermidades; interfaces entre medicina e outros campos profissionais quanto à caracterização e a resposta a enfermidades; compreensões, práticas e intervenções sobre o corpo; relação entre doenças e construção de identidades; doenças e estigmas sobre corpos e comportamentos subalternizados e/ou considerados “desviantes”, com particular atenção para marcadores de gênero, cor, etnia e classe; relações entre saúde, doenças e práticas terapêuticas da população escravizada e afrodescendente; relações entre doenças, mudanças sócio-ambientais e dinâmicas ecológicas.