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Exposição ‘Vida e saúde: relações (in)visíveis’ marca reabertura ao público do campus sede da Fiocruz

20 maio/2022

Restaurado, pavilhão histórico da Cavalariça recebeu estrutura completa para abrigar a nova mostra, no campus de Manguinhos, no Rio

Por Hellen Guimarães

Nesta quinta-feira (19), o Museu da Vida Fiocruz inaugurou a exposição de longa duração Vida e saúde: relações (in)visíveis no histórico edifício da Cavalariça, localizado no campus sede da Fundação, em Manguinhos, na zona norte do Rio de Janeiro. A atividade marca a reabertura do campus ao público após dois anos de fechamento em virtude da pandemia de Covid-19.

A exposição mostra uma visão integrada de saúde, de ciência, que não só recupera a história do prédio de uma forma linda, mas aponta caminhos para nosso futuro, da Fiocruz, da sociedade, do planeta.

A cerimônia de abertura contou com a presença de convidados, público interno e patrocinadores. Uma visita guiada permitiu que os visitantes conhecessem os 14 módulos da exposição, que considera que a saúde vai muito além do campo biológico e é resultado de relações históricas, sociais, políticas, culturais e econômicas. Na sequência, o público se dirigiu à Tenda da Ciência Virgínia Schall, onde o Regional Ernesto's no Choro, do Instituto Cultural Grupo 100% Suburbano, fez uma apresentação musical antes da solenidade.

“Este evento é uma celebração da vida, mais do que tudo, e do papel da Fiocruz, ao trazer a vida como tema permanente de descoberta, afirmação e discussão. É um prazer estar aqui na tenda e ver tantos rostos, tantas pessoas podendo se reunir após mais de dois anos de tanto sofrimento, privações, distanciamento físico, apreensão e muita luta em defesa da vida, da qual nossa instituição e todos nós, trabalhadores desta casa, nos orgulhamos”, disse a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima.

O histórico prédio da Cavalariça, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1981, foi restaurado para abrigar a mostra, primeira grande entrega do plano de requalificação do núcleo arquitetônico histórico da Fiocruz, que tem como objetivos consolidar Manguinhos como um campus-parque e compartilhar conhecimento por meio de uma ciência aberta, inclusiva e acessível para todos. O edifício, onde originalmente se acomodavam cavalos usados na fabricação de soro contra diversas doenças, ganhou novos sistemas de climatização, detecção de incêndio e câmeras de vigilância, além de engenharia de segurança para acesso à cobertura.

Nisia Trindade Lima fala ao microfone em um púlpito. Atrás dela há um painel colorido
Nísia frisou importância de políticas públicas integrando saúde, economia e cultura. Foto: Peter Ilicciev.

“Visitar a Cavalariça hoje mostra o quanto avançamos, muitas vezes interpelados pela mais dura realidade, como na pandemia. A exposição mostra uma visão integrada de saúde, de ciência, que não só recupera a história do prédio de uma forma linda, mas aponta caminhos para nosso futuro, da Fiocruz, da sociedade, do planeta. Sua principal mensagem se resume em uma palavra: esperança. Esperança baseada na ciência, na saúde e, sobretudo, na democracia, que permite esse convívio, que aproxima ciência e saúde e não se dá num vazio de relações. Não haverá recuperação sem políticas públicas, sem um olhar que integre economia, saúde, cultura e sociedade”, defendeu Nísia.

Mostra joga luz sobre questões sociais e ambientais invisibilizadas

Alessandro Batista, integrante da equipe responsável pela concepção da exposição, considera que ela traz consigo as marcas do Museu da Vida Fiocruz, como ludicidade, interatividade, criticidade, divulgação científica e preservação da memória. Segundo ele, a mostra tem duas outras características importantes: a acessibilidade e a convergência com a pesquisa científica e a produção de outras unidades da Fiocruz.

É importante fazer uma divulgação e popularização da ciência que também afirme sua construção histórica, com suas contradições, idas e vindas, construções e soluções que fazem com que a vida avance.

“Os museus constroem o futuro, e por isso são poderosos. Essa construção não é, muitas vezes, visível e palpável ao público externo. Essa invisibilidade se expressa no nosso trabalho, na nossa exposição. Esse tema das relações invisíveis da saúde vai nos propiciar explicitar esse poder dos museus. Vai permitir que a gente fale dessas relações microscópicas, dos vírus, bactérias e sua relação com o corpo humano, mas também das relações macroscópicas, tão invisíveis quando as microscópicas às vezes, como as questões sociais, da determinação socioambiental da saúde, dessa relação muitas vezes predatória que temos com o planeta, que traz a necessidade de pensarmos uma nova agenda de desenvolvimento sustentável”, afirmou.

Temas como a interferência das atividades humanas na saúde dos ecossistemas e a importância das políticas públicas do setor são abordados na mostra, que foi concebida para ser acessível a todos e conta com textos em braille, audiodescrição, vídeos em libras e outros recursos de tecnologia assistiva. Todos os módulos e os mobiliários foram concebidos para que pessoas em cadeira de rodas tenham pleno acesso às experiências interativas. Com linguagem simples e direta, a exposição possui textos em português, espanhol e inglês.

Mulher interage com módulo que traz um painel retroiluminado, no qual se vê a ilustração de uma mulher, tocando-o.
Do micro ao macro, mostra aborda a vida e a saúde em suas diferentes escalas. Foto: Peter Ilicciev.

“Nesses tempos de pandemia, precisamos visibilizar o invisível, afirmar a ciência e postular que há verdades históricas e há, sim, uma ciência, uma verdade científica que, se é sempre provisória e histórica, é sempre construída em parâmetros, e esses parâmetros existem. É importante fazer uma divulgação e popularização da ciência que também afirme sua construção histórica, com suas contradições, idas e vindas, construções e soluções que fazem com que a vida avance. E ela sempre avança. É por essa popularização que nós queremos a sociedade que defendemos no nosso museu e na Fundação: justa, democrática, que confia na ciência. Como dizia Sérgio Arouca, saúde é democracia, e essa exposição veio para afirmar a democracia e a ciência dessa instituição”, disse.

Restauração da Cavalariça e mostra integram plano de requalificação

Marcos José de Araújo Pinheiro, diretor da Casa de Oswaldo Cruz, lembrou que o plano de preservação e valorização do Núcleo Arquitetônico Histórico de Manguinhos (Nahm), do qual a exposição e a restauração da Cavalariça fazem parte, começou a ser traçado em 2010. Ele celebrou a oportunidade de reabrir o campus ao público após as restrições impostas pela pandemia.

Por meio de intervenções e novos usos das áreas urbanas e edificações históricas, esta ação institucional visa a fortalecer a ideia de um campus-parque, ampliando o diálogo com a sociedade e a oferta de atividades socioculturais voltadas à população

“Já na formação desse grupo de trabalho era possível visualizar o modo de ser Fiocruz: diversidade e participação democrática. Hoje é um dia muito especial, de comemoração, de muitos reencontros, de estar juntos presencialmente e olhando uns para os outros depois de tanto tempo. A inauguração do pavilhão da Cavalariça e da exposição são parte de um sonho coletivo que se realiza e que esperamos ser o prenúncio de sua integral concretização. Trata-se de uma ação institucional que, por meio de intervenções e novos usos das áreas urbanas e edificações históricas, visa a fortalecer a ideia desse campus como um campus-parque, ampliando o diálogo com a sociedade e a oferta de atividades socioculturais voltadas à população”, concluiu.

Ao discursar representando os patrocinadores do projeto, o superintendente da Área de Gestão Pública e Socioambiental do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Julio Costa Leite destacou a relação próxima entre as ações de preservação do patrimônio histórico e as de integração urbana, observada na intervenção na Cavalariça da Fiocruz e em outros projetos apoiados pela instituição de fomento.

Fachada lateral da Cavalariça com tijolos à vista e pedras, com porta central de madeira, à esquerda da qual veem-se três janelas altas. Na frente, algumas árvores.
Construída de 1904 a 1905, a Cavalariça foi tombada pelo Iphan em 1981. Foto: Christiane Teixeira.

"Estamos fazendo a recuperação [deste patrimônio] e abrindo um equipamento urbano à população de toda a cidade do Rio de Janeiro, mas principalmente à que está aqui próxima [à Fiocruz], que não tem muita oferta de equipamentos culturais como este", disse Costa Leite, que representou o presidente do banco, Gustavo Montezano. Ele destacou ainda a parceria do BNDES com a Fundação em diferentes áreas, para além do patrimônio cultural, como pesquisa e produção. "O banco tem uma relação muito forte com a Fiocruz", declarou.

Além do apoio financeiro do BNDES, a exposição Vida e Saúde: relações (in)visíveis conta com patrocínio de Enauta Energia, Bayer, Halliburton, Aché, Abbott, E. Tamussino & Cia, TechnipFMC, JSL e Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, com Gestão Cultural da SPCOC e realização do Museu da Vida Fiocruz, Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz, Secretaria Especial de Cultura, Ministério do Turismo e Governo Federal, através das leis de incentivo à Cultura Federal e Municipal.