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Método das biografias coletivas, ou prosopografia, é tema de workshop

16 nov/2018

 Foto do professor Flávio Heinz
Flávio Heinz, da UFRRJ, estará no workshop da COC. Foto: Acervo particular
 

O que é prosopografia? Qual a sua importância para a pesquisa histórica? Essas e outras perguntas deverão fazer parte das discussões sobre o tema no workshop “Prosopografia de Profissões Científicas”, promovido pela Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) nos próximos dias 22 e 23 de novembro. Ao lado do pesquisador Luiz Otávio Ferreira, da COC, na organização do evento, o historiador Flávio Heinz, da UFRRJ, aborda a questão em seu livro “Por outra história das elites” (FGV Editora, 2006). A obra apresenta a prosopografia, ou método das biografias coletivas, como método que usa um enfoque de tipo sociológico em pesquisa histórica buscando revelar as características comuns (permanentes ou transitórias) de um determinado grupo social em dado período histórico. Segundo o autor, as biografias coletivas ajudam a elaborar perfis sociais de determinados grupos, categorias profissionais ou coletividades históricas, dando destaque aos mecanismos coletivos – de recrutamento, seleção e de reprodução social – que caracterizam as trajetórias sociais (e estratégias de carreiras) dos indivíduos.

O workshop tem sua programação voltada para a resolução de problemas técnicos e apresentação de resultados de pesquisa, reunindo historiadores e cientistas sociais interessados na aplicação do método ao estudo da formação e institucionalização de profissões de corte científico, da área da saúde ou engenharias. O encontro vai ocupar a sala 306 do Centro de Documentação e História da Saúde (CDHS), no campus da Fiocruz, em Manguinhos.

O encontro é promovido pelo Programa de Pós-graduação em História das Ciências e da Saúde da COC, pelo Departamento de História e Relações Internacionais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e pelo Laboratório de História Comparada do Cone Sul do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS).

O pesquisador Flávio Heinz lembra que há trabalhos em diversos campos do conhecimento feitos com o método prosopográfico, como história da educação, história da saúde, do direito e em ciência política. Em sua avaliação, “todo recurso metodológico que permite perceber as particularidades (e por que não, as generalidades, os traços comuns) de processos de institucionalização profissional, é sempre útil”. Acompanhe nesta entrevista a análise do historiador em torno do tema.

– Podemos diferenciar a prosopografia como técnica de pesquisa histórica e como método de análise sociológica?

Trata-se de uma técnica de pesquisa histórica, mas que tem sido muito usada por outras disciplinas. Passei dois anos como professor visitante no Programa de Ciência Política da UFPR. Lá, por exemplo, há um grupo muito ativo de pesquisadores docentes e discentes que se utiliza, com frequência, do método prosopográfico, sobretudo em estudos sobre as elites políticas brasileiras desde o Império até períodos mais recentes. Os cientistas políticos – que compõem a disciplina das ciências humanas e sociais brasileiras que mais se lançou no uso e difusão de metodologias quantitativas nos últimos 20 anos – encontraram na prosopografia uma forma de manter um certo padrão de pesquisa (que privilegia o manejo de dados empíricos sobre as explicações discursivas, e forte preocupação com sua demonstração) também quando o objeto é “histórico”, isto é, está no passado e, portanto, não permite a aplicação de um survey [método de pesquisa quantitativo].  

–  Como seria a abordagem interdisciplinar da prosopografia nos diferentes campos de atuação?

Como expliquei, trata-se de uma técnica, de uma metodologia, que pode ser utilizada por outras disciplinas, comumente em associação a outras técnicas ou procedimentos específicos. Há trabalhos prosopográficos em História da Educação, História da Saúde, do Direito, em Ciência Política.

 – Por que a prosopografia também é chamada de biografia coletiva?

Certos autores fazem essa distinção, eu não. De forma geral, os termos querem indicar a mesma coisa, isto é, uma pesquisa focada em recuperar os aspectos coletivos, sociais, recorrentes; portanto, de um determinado grupo, distanciando-se daquelas pesquisas propriamente biográficas que buscam singularizar indivíduos, estratégias ou recursos. Os prosopógrafos fazem pesquisa biográfica, sim, mas estão interessados nos marcadores sociais e nas recorrências de uma vida, para posicioná-los em relação a outros indivíduos de uma coletividade. Nosso quadro explicativo se orienta sempre pelo desejo de entender o grupo, o coletivo, e seus mecanismos, e não o indivíduo. Muitas vezes a distinção prosopografia/biografia coletiva apenas revela a origem acadêmica do pesquisador. Assim, franceses e ingleses tendem a privilegiar o termo prosopografia; norte-americanos falam em biografia coletiva.

– Quais são os principais problemas que serão discutidos no workshop?

O workshop tem um objetivo claro: apresentar problemas e resultados, ainda que parciais, de pesquisa. Nossa ideia ao fazer sua organização não foi a de apresentar propostas gerais ou intenções vagas, mas oferecer um olhar técnico, metodológico para problemas de pesquisa reais em história social e sociologia das profissões; sejam da área da saúde, que é o caso da maioria dos trabalhos que serão apresentados, sejam de outras profissões de corte científico.

 – Qual a importância do método prosopográfico para a formação e institucionalização de profissões científicas, especialmente na área da saúde?

Todo recurso metodológico que colabora em estratégias de formação e institucionalização de profissões, que permite perceber as particularidades (e por que não, as generalidades, os traços comuns) de processos de institucionalização profissional, é sempre útil. Neste caso, a prosopografia é uma metodologia apenas, não a única, mas é muito útil. Profissões da saúde – penso, é claro, na enfermagem, na medicina, mas também nos pesquisadores em laboratórios, nos agentes de saúde -, sempre são ricas de história institucional por que, em algum momento, Estado, instituições caritativas ou organizações civis outras investiram, de alguma maneira e com variada intensidade, em sua institucionalização. Assim, há um vasto campo de estudos aberto às pesquisas que queiram restituir essas histórias. E a prosopografia pode ajudar nessa tarefa, como muitas outras técnicas e metodologias.